Sem Israel, cimeira do Cairo foi um esforço diplomático em vão

Países árabes e dirigentes ocidentais sublinharam a necessidade de respeito pelo direito internacional, mas nem chegaram a acordo para um comunicado conjunto. Guterres pediu cessar-fogo humanitário.

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A cimeira do Cairo terminou sem uma declaração conjunta sobre o conflito entre Israel e o Hamas Reuters/UAE PRESIDENTIAL COURT
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A cimeira que juntou neste sábado no Cairo vários líderes de países do Médio Oriente, bem como alguns dirigentes ocidentais, terminou sem progressos significativos. Os países árabes manifestaram apoio à Palestina e pediram respeito pelo direito internacional, mas nada de concreto foi alcançado.

A ausência de qualquer representante israelita no encontro organizado pelo Governo egípcio já tinha derrubado as esperanças de que fosse alcançada alguma solução para travar o conflito entre Israel e o Hamas, que entra agora na terceira semana. A Cimeira da Paz do Cairo, como foi baptizada pelo Presidente Abdel Fattah al-Sissi, ocorreu numa altura em que Israel faz os preparativos para uma invasão de uma magnitude sem precedentes da Faixa de Gaza, cujos primeiros pormenores tinham sido apresentados na véspera. A mensagem do Governo de Benjamin Netanyahu é simples: não é tempo de falar em paz.

O encontro do Cairo juntou sobretudo líderes de nações árabes, que se uniram numa mensagem de condenação dos bombardeamentos israelitas que têm matado milhares de civis na Faixa de Gaza, enquanto os EUA, a União Europeia e o Reino Unido se limitaram a enviar representantes diplomáticos, mas não dirigentes de topo. Washington fez-se representar apenas por um diplomata da embaixada no Cairo.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que na véspera tinha estado em Rafah, o único ponto de passagem viável de ajuda humanitária para Gaza, declarou que “o direito humanitário internacional, incluindo a Convenção de Genebra, deve ser respeitado” e pediu um “cessar-fogo humanitário imediato”.

“Os nossos objectivos de curto prazo devem ser claros: ajuda imediata, irrestrita e sustentada para os civis cercados em Gaza; libertação imediata e incondicional de todos os reféns; e esforços imediatos e dedicados para impedir a propagação da violência, que está em risco de se espalhar”, afirmou.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, esteve presente no Cairo para dizer que rejeita qualquer tentativa para expulsar os palestinianos dos territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. “Nunca iremos aceitar a realocação, iremos continuar nas nossas terras independentemente dos desafios”, declarou.

Na abertura da cimeira, Sissi sublinhou também a sua oposição a qualquer deslocação maciça de palestinianos a partir de Gaza. O Egipto está particularmente preocupado com um possível êxodo de habitantes de Gaza, em fuga dos bombardeamentos e dos combates, e de potenciais perturbações no Nordeste do Sinai, uma região próxima de Gaza onde durante vários anos a actividade de grupos terroristas islamistas foi intensa.

“A solução para a questão palestiniana não é a expulsão [de pessoas], a única solução é a justiça e o acesso dos palestinianos aos seus direitos legítimos e a uma vida num Estado independente”, afirmou o Presidente egípcio.

Ocidentais condenam Hamas

Os dirigentes ocidentais presentes na cimeira também pediram o respeito pelo direito internacional, mas sublinharam a condenação dos ataques do Hamas de 7 de Outubro e o direito de Israel a defender-se – um aspecto ausente das intervenções dos líderes árabes.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que “todas as vidas civis valem o mesmo”, sem deixar de condenar os “crimes atrozes” do Hamas. A defesa de Israel é, acrescentou, “inegociável”.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, pediu um apaziguamento da tensão entre Israel e o Hamas e defendeu empenho para que se concretize a solução de dois Estados. “Apesar de os nossos pontos de partida estarem afastados, os nossos interesses coincidem perfeitamente: que aquilo que se está a passar em Gaza não se torne um conflito muito mais alargado, uma guerra religiosa, um choque de civilizações”, afirmou.

As diferenças de posições entre os países árabes e ocidentais, mas sobretudo a ausência de Israel, tornam a cimeira pouco mais do que um pequeno esforço de coordenação diplomática – o primeiro desde que a guerra estalou entre Israel e o Hamas há duas semanas. No final, não houve sequer acordo entre os participantes para a redacção de um comunicado conjunto.

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