Resultados do 6.º e 9.º anos desceram. A pandemia ajuda a perceber porquê
Provas realizadas no princípio deste ano contrariam subida das notas dadas pelos professores. Os 6.º e 9.º anos mostram “dificuldades consideráveis”. Razão: a crise pandémica.
Um novo estudo do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pelos exames e outras provas de avaliação externa dos alunos, mostra que as variações dos desempenhos globais dos alunos dos 6.º e 9.º anos de escolaridade, que realizaram os testes propostos, são “negativas, em alguns casos” por comparação com uma avaliação idêntica realizada em 2021, em plena crise pandémica.
Já no que respeita ao 3.º ano de escolaridade a evolução foi “positiva”, informa o Ministério da Educação (ME) num comunicado que acompanha o Estudo Diagnóstico das Aprendizagens 2023, cujos resultados foram divulgados esta sexta-feira. À semelhança do que sucedeu em 2021, foram avaliados alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos de escolaridade, com uma amostra total de 51.320 estudantes.
Os testes que servem de base a este diagnóstico foram realizados entre Janeiro e Fevereiro deste ano, tendo o ministro da Educação, João Costa, indicado por várias vezes que se aguardavam os resultados para decidir qual o futuro do plano de recuperação das aprendizagens. Que acabou por ser parcialmente prorrogado por mais um ano antes da divulgação do diagnóstico do Iave.
Ouvido no Parlamento esta semana sobre o plano de recuperação, a requerimento da Iniciativa Liberal, João Costa indicou, contudo, que a evolução de resultados patentes naquele estudo foi apreciada e permitiu que o apoio aos alunos “seja mais centrado nas medidas mais eficazes e, sobretudo, nas disciplinas e anos mais resistentes à recuperação”.
Dificuldades na resolução de problemas simples
No estudo, foram avaliadas as literacias da leitura, matemática e científica. Foi nesta última que os alunos do 6.º ano mostraram “dificuldades consideráveis”. No 9.º ano aconteceu o mesmo na literacia matemática e também na de leitura.
Concretamente, segundo se encontra descrito no relatório, os alunos do 6º ano de escolaridade revelam desempenhos inferiores em todos os níveis de proficiências, relativamente à primeira edição do estudo” em 2021. Ou seja, “mostraram, em 2023, maior dificuldade em, por exemplo, desenhar um procedimento experimental, distinguindo questões científicas de não científicas, reconhecer características elementares de uma pesquisa ou procedimento experimental simples ou, ainda, analisar criticamente as conclusões a que chegam, com recurso a evidências e interligando-as com outro conhecimento científico, contribuindo para a sua generalização”.
No caso do 9.º ano, as principais dificuldades na literacia matemática foram sentidas no nível dois de proficiência (existem quatro), mostrando “um desempenho inferior” relativamente aos alunos que realizaram estes testes em 2021, sobretudo no que respeita à mobilização de “procedimentos, técnicas e conceitos na resolução de problemas de complexidade reduzida”.
Quanto à literacia da leitura, “a percentagem de alunos que conseguiram realizar com sucesso pelo menos dois terços das tarefas de nível 3 e 4 foi mais baixa em 2023 do que em 2021”. Em 2021, esta percentagem oscilou entre 33% e 53%, consoante o nível de proficiência. Este ano a variação está entre 23,9% e 47,4%.
O Iave explicita que o conceito de literacia assumido, neste estudo, se prende “com o conhecimento e as competências que permitem ao aluno seleccionar informação dando-lhe significado e analisá-la criticamente, participando activamente em situações do quotidiano, resolvendo problemas, tomando decisões e comunicando em contextos diversos".
Na nota divulgada esta sexta-feira, o ME refere, sobre a evolução registada, “que o momento do percurso de aprendizagem em que os alunos se encontravam, no período da crise pandémica, poderá contribuir para uma explicação das diferenças registadas”.
Para especificar depois o seguinte: “Com efeito, os alunos que frequentaram o 3.º ano de escolaridade em 2023 – e que apresentam melhorias nas diferentes literacias – não foram tão afectados pela crise pandémica quando estavam a frequentar o final do pré-escolar e parte do 1.º ano do ensino básico. Pelo contrário, os alunos que frequentaram o 6.º e o 9.º ano de escolaridade em 2023 – e que denotam uma evolução ainda negativa face a 2021 – foram afectados pela pandemia no momento em que frequentavam, respectivamente, o 3.º e 4.º anos do primeiro ciclo, e o 6.º e 7.º ano do segundo e terceiro ciclo. Isto é, anos em que as dificuldades de aprendizagem causadas pelos contextos pandémicos podem ter assumido maior impacto.”
Os resultados desta avaliação externa contrastam com as notas dadas pelos professores aos seus alunos que, no conjunto, subiram a partir de 2019/2020 no 2.º e 3.º ciclos de escolaridade, segundo os dados patentes em dois relatórios divulgados recentemente pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.