A Tomar leva-se boa companhia: no meu caso, a minha mãe

O leitor Miguel Frazão viajou até à cidade dos Templários na companhia da mãe e traça um roteiro pelos seus principais pontos de interesse.

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Uma viagem de mãe e filho que virou uma tradição Miguel Frazão
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Ainda não passara um mês desde que me fora embora do Algarve e já estava a contar os dias para regressar. Em Setembro só teria um fim-de-semana livre. Era a minha oportunidade de manter o tom de pele de Verão. No entanto, a Rede Expressos deve saber que a minha bússola está sempre apontada para Sul, pelo que me desafiaram a inverter a marcha, escolhendo como destino a cidade de Tomar.

Diz a minha mãe que não viajávamos juntos de autocarro desde a altura em que fazíamos férias em Portalegre. Não trago para os dias de hoje qualquer memória desses tempos, mas gosto de acreditar que estas experiências nos trazem sempre algo de positivo, mais não seja para que mais tarde (num dia como o de ontem) possamos falar sobre os momentos que passámos juntos.

Lisboa e Tomar estão a pouco menos de duas horas de distância. Desta vez vim sentado numa das primeiras filas do autocarro. No caminho, eu e a minha mãe conversámos, fizemos silêncio, dormimos e rimo-nos com o motorista que falava das “fossanguices” dos condutores com que nos cruzávamos e que soltava um “ai Jesus”, quer fosse para se referir às dificuldades de estacionar um autocarro na paragem de Sobral da Adiça, quer pelo facto de naquele dia só haver casa de banho disponível no terminal de Torres Novas.

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Visita a Tomar Miguel Frazão

Não eram ainda nove da manhã quando chegámos a Tomar. Movimentarmo-nos numa cidade cuja estrutura é uma cruz orientada como uma rosa-dos-ventos nunca poderia ser muito complicado. Fomos recebidos por uma camada de nuvens escuras que prometiam chuva para breve. Ainda deu tempo de atravessar a ponte sobre o rio Nabão e ir até ao Mercado Municipal, antes de termos de nos abrigar debaixo de uma paragem de autocarro. Se numa fase inicial a chuva se confundia com o barulho da água movida pela famosa Roda do Mouchão, nos instantes seguintes o estado dos nossos casacos denunciava as condições meteorológicas que exigiam encontrar um abrigo. Bendito foi o pão com chouriço comprado no mercado, que matou a fome e o tédio.

O sol tomou o lugar da chuva e agora o destino era o Convento de Cristo e o Castelo de Tomar, que pertenceram à Ordem dos Templários, depois transformada em Ordem de Cristo. Caminhámos ao longo das muralhas ainda molhadas e vimos esquilos, que na nossa presença aceleravam o passo para garantirem que ninguém lhes roubava as tão procuradas nozes. A chuva regressou, escondemo-nos, ela também se escondeu e o sol aqueceu o suficiente para secar as tábuas de madeira junto ao rio para que nos pudéssemos deitar durante as duas horas seguintes.

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Tomar Miguel Frazão

Assim se passou a hora de almoço em Tomar. Entre o som dos carros que atravessavam a ponte sobre o Nabão e o encerrar das portas do mercado. À nossa frente, o rio, sereno, só dava sinal de vida quando um peixe decidia saltar para agitar uma pequena parte daquelas águas, que em poucos segundos voltavam a acalmar-se.

Quase a despedirmo-nos da cidade, fomos visitar o Museu dos Fósforos, que tem expostas mais de 60 mil caixas. Cada uma conta uma história, não pelos fósforos que lá estão dentro, mas pelo design da embalagem, que tanto pode ser alusivo a uma edição dos Jogos Olímpicos como a um filme de Hollywood. Percorremos as sete salas do museu, demos uma última volta por Tomar e fomos para o autocarro com a sensação de que a viagem anual de mãe e filho virou tradição.

Miguel Frazão

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