Rui Moreira sobre candidatura às europeias: “Se surgir convite, terei de pensar nas condições”

O autarca defende que os mandatos autárquicos devem ser iguais aos do chefe de Estado e, mesmo apontando qualidades ao ministro da Saúde, admite que tem sido incapaz de travar problemas no sector.

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Leia aqui a segunda parte da entrevista: Câmara do Porto vai classificar o Stop para travar especulação imobiliária

Há dez anos na presidência da Câmara do Porto, Rui Moreira fala das eleições europeias do próximo ano, afirmando que uma candidatura sua ao Parlamento Europeu “não é provável”, por uma questão de calendário, mas admitindo que, se receber um convite nesse sentido, terá de reflectir.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, do PÚBLICO e da Renascença, revela que não seria por uma questão de fidelidade aos apoiantes que o elegeram que não interromperia o mandato, mas porque entende que “não podemos trocar as coisas por um prato de lentilhas”.

Está há dez anos na presidência da Câmara do Porto. Vai cumprir o mandato até ao fim?
Em condições normais, sim.

Foi convidado por algum partido para o Parlamento Europeu?
Nunca fui convidado. Tenho um mandato para cumprir na Câmara do Porto.

Nem pelo PS, nem pelo PSD?
Nem por outro qualquer...

Se for convidado para ser cabeça de lista às europeias, aceita?
Essa resposta é mais ou menos como perguntar se eu posso vir a ser o Pai Natal. Naturalmente, se surgir um convite para uma coisa dessas, terei que pensar na altura, terei que pensar nas condições. Agora também lhe digo que não é provável. Porquê? Porque há uma coisa que se chama calendário e o calendário não é exequível com uma opção dessa natureza.

Teria que abandonar a câmara...
Com certeza. E se acho que é perfeitamente legítimo que uma pessoa possa interromper o seu mandato por outra razão, acho que, em larga medida, aquilo que eu tinha para fazer na cidade do Porto já fiz e o que ainda não fiz está a caminho de ser feito.

Não seria uma deslealdade para com as pessoas que o elegeram?
Não é uma questão de fidelidade. O que não podemos é trocar as coisas por um prato de lentilhas, isso não.

A Europa seria um prato de lentilhas?
Podia ser visto como isso e, portanto, neste momento, como também nunca foi colocado o problema, nunca tive sequer necessidade de pensar maduramente sobre um assunto que tem aparecido na comunicação social. Aliás, suspeito de onde é que isto vem. Não foi a comunicação social que inventou. Eu suspeito que isto foi criado por pessoas dentro do PSD para criar dificuldades a Luís Montenegro.

Mas Luís Montenegro disse que, em abstracto, o seu perfil servia...
O que é que ele havia de dizer?... Eu sou independente e qualquer partido que me queira para alguma coisa terá sempre de pensar se eu não posso ser o elefante na loja de porcelana.

Defende mandatos autárquicos mais curtos?
Sim, os mandatos deviam ser equivalentes aos da Presidência da República. O modelo dos presidentes de câmara devia ser de dois mandatos de cinco anos cada um. Fazia sentido que houvesse dois mandatos maiores que permitissem que, no fim do primeiro, um presidente de câmara tivesse alguma obra concluída, o que hoje é manifestamente difícil. Estamos a falar de obra infra-estrutural. Claro que há muitas outras coisas que um presidente pode fazer no primeiro dia que chega à câmara.

Esta é uma semana de greve na saúde e a gestão dos hospitais do Porto é sempre dada como exemplo pelo próprio primeiro-ministro. Esta é a prova de que não é preciso encharcar a saúde de dinheiro e que o problema é mesmo uma questão de gestão?
O investimento na saúde vai ter que continuar a ser feito. Quando olhamos para a gestão dos hospitais centrais a norte, no Porto, nomeadamente até no IPO, quando comparado com Lisboa, parece haver aqui uma diferença na forma de gestão e na forma como os recursos são alocados.

Conhece bem o ministro da Saúde. Esperava mais de Manuel Pizarro como ministro ou era exactamente desta gestão que estava à espera?
Manuel Pizarro é meu amigo pessoal. É uma pessoa extremamente trabalhadora, é um excelente comunicador e um bom negociador. Ele apanha uma situação na saúde que lhe é deixada por Marta Temido que é extremamente delicada, ou seja, aquilo que aconteceu com a especialização dos médicos, aquilo que aconteceu com uma visão um pouco ideológica que Marta Temido impôs aos médicos acaba por transformar a saúde num campo de batalha em que provavelmente vai ser preciso acelerar essa mediação. Espero que, para bem de nós todos, Manuel Pizarro consiga dobrar o cabo da Boa Esperança e que não seja o cabo das Tormentas.

É um bom negociador, mas até agora…
Não tem conseguido...

Pizarro tem sido acusado de estar mais preocupado com uma eventual candidatura à Câmara do Porto em 2025. Se ele for candidato de novo ao Porto, sente-se na obrigação de o apoiar?
Não é a minha intenção e não deve ser a minha intenção, neste momento, estar a marcar as cartas do futuro. Se me perguntar se ele tem qualidades pessoais, com certeza que tem, mas com certeza que também tem opções políticas diferentes daquelas que eu tenho seguido.

Acha natural que Manuel Pizarro deixe o Governo para uma candidatura ao Porto?
Manuel Pizarro é um homem inquieto. Foi vereador da Câmara do Porto, foi duas vezes candidato à Câmara do Porto, depois foi para deputado europeu e saiu para ministro. É uma pessoa que rapidamente muda o seu rumo. Em termos náuticos, diria que gosta mais de andar à bolina contra o vento do que propriamente a favor do vento, sempre na mesma direcção. É evidente que o PS tem várias opções na cidade do Porto, ele não é o único candidato.

Está a falar de José Luís Carneiro?
Julgo que José Luís Carneiro, que é ministro da Administração Interna, nunca escondeu as aspirações que tinha de ser candidato do PS.

Foi muito crítico em relação ao pacote Mais Habitação. O Expresso dizia que o Governo irá aprovar o programa via portaria. Este é um caso encerrado e agora é aplicar pelos autarcas? Os autarcas têm de se resignar ou há aqui algum tipo de escapatória?
Há três formas de colmatar este problema: há a forma neoliberal: o mercado que funcione; outra é uma forma totalmente interventiva, ou seja, o Estado é que vai resolver o problema; e depois há a forma que eu defendo, em que tem de haver uma actividade concomitante entre aquilo que é o investimento público e aquilo que é a atracção do investimento privado.

Entre as condições essenciais que vão condicionar a venda da TAP está a preocupação com a exploração e capacitação de aeroportos nacionais fora de Lisboa e o ministro das Finanças deu especial destaque para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Que garantias teve por parte de Fernando Medina?
Aquilo que foi anunciado pelo ministro e que foi alvo também de uma conversa que tive recentemente com ele é que, no caderno de encargos, vai ser imposta a manutenção do hub de Lisboa e, por outro lado, o aumento nas ligações ponto a ponto, nomeadamente no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Considerando os três operadores internacionais que podem comprar a TAP: Lufthansa, CIAC, que é a Ibéria e a British Airways, e Air France KLM, estou em crer que qualquer um deles, vendo a situação neste momento de estrangulamento no aeroporto de Lisboa e vendo o potencial que o aeroporto do Porto tem e que se perspectiva naquilo que é o crescimento do aeroporto, que tem sido aproveitado por outras companhias aéreas, qualquer gestão privada de quem sabe da poda, seguramente que vai fazer crescer o tráfego ponto a ponto e isso é óptimo para a cidade do Porto e para toda a região.

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