Gritos de tinta

Nessa noite, nessa rua estreita que era uma metáfora de como se vivia, enquanto se pintavam gritos como “Teimosia e esperança”, uma patrulha policial surgiu na esquina.

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À noite, a Alexandra saía regularmente com um balde de tinta e pincel, para espalhar mensagens de resistência nas paredes da cidade. Acompanhava-a o Borja, que era professor, e o Manuel Ulme. Os três armados com tinta enchiam os muros de alguma teimosia e esperança. Falamos baixinho, neste país, disse a Alexandra, como devemos, pois somos esse lugar onde se vive entre os gritos de ordem de uns e os murmúrios acanhados de outros, a maior parte, dedicados a bichanar, encurvados de medo, uma reza secular, um terço que se vai dizendo a todo o instante, o terço mudo do quotidiano, dos mansos, dos mornos, dos brandos, dos frágeis. E nada mais do que isso. Mas ensinaremos uma nova maneira de gritar, serão as paredes a fazê-lo. Temos corações de tinta.

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