Ministro da Saúde admite fechar algumas urgências de várias especialidades em Lisboa
Manuel Pizarro diz que o modelo do Porto, onde há urgências centralizadas ou rotativas de algumas especialidades desde há anos, pode servir de inspiração para Lisboa.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, avisa que a reorganização da rede de urgências vai ter mesmo que avançar em Portugal e deu um exemplo, em entrevista à TVI nesta terça-feira. Poderá, explicou, deixar de haver, num determinado hospital, uma urgência de cirurgia caso este esteja localizado perto de outro hospital que assegure este serviço.
À pergunta - admite fechar algumas urgências -, o ministro respondeu que essa hipótese “é algo" que está "sempre em cima da mesa”. “As urgências centralizadas ou rotativas [de determinadas especialidades, como psiquiatria e pediatria] existem no Porto há dez ou 15 anos”, lembrou, assumindo que este modelo poderá servir para “inspirar, não copiar” a centralização de algumas urgências de diversas especialidades em Lisboa.
Esta reorganização das urgências metropolitanas vai ter que avançar porque, enfatizou, “o nosso recurso à urgência é mais ou menos o dobro do dos países desenvolvidos”, um "problema crónico” em Portugal.
Mas, antes de se avançar para esta reorganização, Manuel Pizarro sublinhou que vai ser necessário "criar alternativas" para as pessoas, para depois poder encaminhar aquelas não necessitam de ir à urgência para os centros de saúde ou “outros sistemas de atendimento para quem não tem médico de família”.
“Estamos a testar vários modelos”, afirmou, destacando a experiência que está a decorrer nos hospitais da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, onde os doentes triados como não urgentes não são atendidos na urgência mas sim encaminhados para consultas nos centros de saúde, uma vez que ali há médicos de família para todos. No âmbito deste projecto-piloto, as pessoas que ligarem para a linha SNS24 (808 24 24 24) e necessitarem de ser observados têm uma consulta marcada no próprio dia ou no dia seguinte nos centros de saúde. Uma experiência que "está a decorrer de forma muito favorável", assegurou o ministro.
Sobre as negociações com os sindicatos que representam os médicos, Manuel Pizarro mostrou-se optimista ao considerar que “foi visível que houve uma abertura” após a reunião da semana passada com a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM). E está agora marcada outra reunião para esta quinta-feira.
“Estamos a fazer a maior reforma da história dos 44 anos do Serviço Nacional de Saúde e há da parte do Governo uma atitude de abertura a um diálogo sério que, espero, seja profícuo. Agora o diálogo não pode partir só do Ministério da Saúde”, frisou.
Fnam quer ver os documentos com as propostas do Governo
Mas a expectativa do ministro pode não se concretizar. A presidente da Federação Nacional dos Médicos avisa que "vai ser difícil" chegar a um acordo com o Governo na reunião de quinta-feira, argumentando que os médicos habituaram-se a não confiar no ministro da Saúde."Vai ser difícil [conseguir um acordo], porque ainda não temos os documentos. Mais uma vez, ainda não temos os documentos. Estamos a exactamente 48 horas da reunião e ainda nada nos foi enviado", justificou Joana Bordalo e Sá.
Ainda assim, admitiu que, se as propostas forem enviadas "a tempo e horas", antes da reunião, isso poderá "ser o início de um futuro acordo". "A proposta que nos foi apresentada [na semana passada] foi apenas uma projecção. Foi um sinal, uma abertura, mas nós temos de ver essas propostas concretizadas no papel. (...) Precisamos de ver esta abertura em documentos, num articulado como deve ser e que responda às reivindicações e às soluções que os médicos precisam para estar no Serviço Nacional de Saúde", explicou.
"Habituámo-nos agora, no fim, a não confiar nas palavras do senhor ministro da Saúde [Manuel Pizarro]. Nós precisamos de ver esses documentos e vermos se, de facto, incorporam as soluções que a Fnam tem para o SNS e então, eventualmente, podemos no futuro chegar a um acordo", acrescentou.
Esta terça-feira, cerca de três centenas de médicos manifestaram-se junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa, em defesa da carreira médica e do SNS, no primeiro de dois dias de greve convocada pela Fnam. A adesão à greve dos médicos terá rondado os 85%, segundo a estrutura sindical.
Além das greves, muitos médicos estão a protestar de uma forma menos convencional, entregando minutas em que se recusam a trabalhar mais do que as 150 horas anuais obrigatórias, causando constrangimentos e fechos temporários de determinadas especialidades em serviços de urgência de vários hospitais públicos.