O adolescente argentino Tomas Kremenchuzky prepara-se para votar nas suas primeiras eleições presidenciais, a 22 de Outubro, a eleição mais aberta e incerta dos últimos anos, com o principal candidato a ameaçar pôr em causa o modelo económico do país.
A Argentina é um dos poucos países latino-americanos que garantem o direito de voto aos jovens de 16 e 17 anos. Kremenchuzky, conhecido por "Toto", de 17 anos, faz parte do eleitorado adolescente.
Muitos jovens argentinos lutam para encontrar oportunidades num país onde a crise do custo de vida e a inflação de três dígitos agravaram a desconfiança dos investidores, após anos de volatilidade política e económica.
Isso tem sido um factor importante para a popularidade do candidato presidencial Javier Milei, um outsider político de cabelo selvagem e impetuoso, que usa casacos de cabedal, canta canções rock para os fãs, critica os políticos "ladrões" e quer "incendiar" o banco central.
"Por causa da forma como Milei fala, acredito em tudo o que ele diz. Ele tem uma maneira de se expressar que chega às pessoas", diz Toto, que vem de uma família rica, joga futebol e frequenta uma escola particular em Buenos Aires.
Nas primárias de Agosto, Toto votou na conservadora Patricia Bullrich (o que atribui à influência dos seus pais), mas diz que poderá mudar o seu voto em Outubro se o libertário o convencer nos debates eleitorais. "Milei propõe algo diferente que, mais tarde, na prática, pode vir a revelar-se muito bom ou muito mau", disse Toto.
No entanto, as visões sociais conservadoras de Milei e a promessa de cortes acentuados nas despesas públicas são desanimadoras para alguns jovens eleitores.
Rocio Pozzetti, de 16 anos, que frequenta uma escola pública de artes, teme que Milei acabe com as redes de segurança social, atingindo mais duramente os pobres. Rocio Pozzetti vota no candidato do partido peronista no poder, Sergio Massa, apesar da turbulência económica a que este tem assistido enquanto ministro da Economia.
"Massa é o único candidato que representa os meus ideais e que pode construir um país melhor, com justiça social", acredita Pozzetti. "É preocupante que as pessoas apoiem Milei."
Todos estão zangados com os políticos
Pozzetti, que estuda teatro e dança, disse que compreende a raiva que leva as pessoas a abandonar o conhecido em favor do desconhecido. "Acho que muitos votaram em Milei porque ele era um rosto novo e representa toda essa raiva que todos têm contra a política e, por isso, puderam identificar-se com ele", disse Pozzetti.
Noelle Chab, de 18 anos, residente em Buenos Aires, votou em Milei nas primárias e voltará a fazê-lo em Outubro porque acredita que ele representa a mudança e quer "remover" o Governo peronista. "Javier Milei é o único que representa uma mudança na política argentina", disse Chab. "É evidente que este é o pior governo da história argentina, fez muito mal e continua a fazer mal."
Simon Rubinstein, de 17 anos, fã de futebol, Fórmula 1 e da Guerra das Estrelas gosta das ideias de Milei sobre o encolhimento do Estado, mas tem medo de algumas das suas propostas, incluindo a "dolarização" (substituição de moeda nacional pelo dólar norte-americano) e o abrandamento do controlo das armas.
"Devido à situação económica do país, independentemente de quem ganhar, vai haver pelo menos alguns anos maus", disse Rubinstein, que votou em Bullrich nas primárias.
Todos os jovens eleitores disseram que se preocupam com as opiniões socialmente conservadoras de Milei, incluindo a forte posição contra o aborto. O aborto foi legalizado na Argentina no final de 2020 e seria difícil de reverter. "Parece-me que será impossível que as pessoas o apoiem nesta questão e que a lei do aborto continuará a ser como é agora", disse Toto.