Polónia: bloco da oposição à frente nas sondagens à boca das urnas

Partido do Governo terá tido mais votos, mas sem maioria para governar. Participação estimada em 73%, superando o recorde em legislativas que era de 62,7% em 1989.

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Sondagem à boca das urnas foi festejada pelo líder da Coligação Cívica, Donald Tusk KACPER PEMPEL/Reuters
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A oposição unida terá conseguido, segundo as sondagens à boca das urnas na Polónia, mais deputados do que o partido no Governo, o Partido Lei e Justiça (PiS), com uma previsão de maioria de 248 votos para a Coligação Cívica, de Donald Tusk, junto com a Terceira Via e a Nova Esquerda, para 200 do PiS, e 12 da Confederação, o único partido que poderia aliar-se ao PiS.

O PiS terá obtido 36,8%, sendo o partido mais votado, mas descendo muito em relação aos 43,6% que conseguiu em 2019. A Coligação Cívica obteve 31,6%, segundo as sondagens à boca das urnas da TV privada TVN24, a Terceira Via 13% e a Nova Esquerda 8,6%. Com a Confederação a acabar em quinto, com 6,2%, ainda segundo a sondagem à boca das urnas, mesmo um bloco incerto com um partido ainda mais à direita que o PiS não lhe permitiria manter-se no poder.

Donald Tusk falou mal as projecções foram conhecidas: "Sou o homem mais feliz do mundo", declarou, com um grande sorriso. "A democracia ganhou. A Polónia ganhou."

A participação terá atingido 73%, superando o recorde anterior de 62,7% nas legislativas de 1989. A minutos do fecho das urnas, às 21h locais (menos uma hora em Portugal continental) havia filas ainda em várias assembleias de voto, e estas pessoas poderiam ainda votar, segundo a comissão eleitoral.

O que estava em jogo nestas eleições era muito, com vários analistas a falarem numa democracia já imperfeita a arriscar uma descida ainda maior no caminho iliberal. Os efeitos iriam ser sentidos na União Europeia e potencialmente no apoio à Ucrânia.

E também era muito para os envolvidos, já que a oposição prometeu acusar os governantes do PiS envolvidos na rede de corrupção e ainda em abuso de poder, sublinhou o professor da Universidade Centro-Europeia Maciej Kisilowski numa entrevista ainda antes da divulgação das sondagens à boca das urnas.

Descrever esta eleição como polarizada é, para o analista, um erro. “Há muitos países polarizados. Isso é verdade, mas não é o factor mais importante”, sublinha. “A questão não é se o PiS é pró ou anti-União Europeia, ou sobre o que está nos programas dos partidos”, continua.

“O problema deste partido não são as propostas políticas”, e sim o facto de se ter lançado “na criação de um Estado autoritário”, já que o chefe do partido, Jaroslaw Kaczynski (que lidera o partido mas não o Governo), “percebeu que não conseguia manter o poder num sistema democrático normal”.

O PiS levou a cabo uma tentativa de capturar o Estado, começando pelo Tribunal Constitucional, e usou recursos para beneficiar a sua campanha eleitoral incluindo fazer a petrolífera estatal baixar o preço da gasolina. A proporção de gastos de campanha era, segundo algumas estimativas, de 30 para 1 a favor do Governo.

Mas muitas pessoas viram estas eleições como a última oportunidade para terminar o curso autoritário do PiS.

Uma professora que não quis dar o nome (e nem, na verdade, falar muito) disse que estas eleições são importantes “para que seja possível escolher quem irá governar mais tarde o país”. Não após estas eleições, mas sim após as seguintes.

Ela concorda, apesar disso, com algumas propostas do Governo, por exemplo a de não dar, a partir de certo ponto, mais ajuda às pessoas que estão na Polónia depois de terem fugido da Ucrânia. “A dada altura, têm de trabalhar para se sustentarem”, diz.

Manobras do PiS?

No entanto, mesmo que se confirme o resultado das sondagens à boca das urnas, que costumam ser fiáveis na Polónia, há quem tema manobras do PiS para se manter no poder.

Jaroslaw Kaczynski falou logo a seguir a Donald Tusk para mencionar um “resultado incerto”. A TV do Estado, pró-Governo, dizia que “o PiS venceu, mas a oposição pode ser capaz de o derrubar”.

Kisilowski diz que como a única maneira de fazer a transição de poder é o Presidente, Andrzej Duda, dar posse ao novo primeiro-ministro pessoalmente, há um risco de este não o fazer. “Vamos ver o ruir de um regime autoritário”, adianta, a que se junta um ódio pessoal entre os protagonistas, acrescenta, comparando-os com o ex-Presidente do Brasil Jair Bolsonaro e o actual Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. “Bolsonaro e Trump também não reconheceram as suas derrotas”, sublinha.

Há ainda todos os tribunais que são controlados pelo PiS, desde o Tribunal Constitucional até ao organismo responsável pela certificação dos votos. “Eles não tomaram os tribunais por não gostarem deles, foi precisamente para situações como esta”, acrescentou o analista.

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