Flores algo secas

Não obstante a boa prestação da meio-soprano Victoire Bunel, o que se escutou com o belíssimo ciclo de canções de Gustav Mahler não foi uma leitura escorreita.

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Na passada sexta-feira, a Casa da Música (CdM) ofereceu mais um programa pouco fácil, mas conceptualmente coeso, com uma maestrina convidada a estrear-se com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM).

A abrir o concerto, Ustina Dubitsky deu-se a conhecer com um Mozart de som cheio e algo pesado, na Sinfonia n.º 25 em Sol menor, KV 183 (1773): uma interpretação decente, sem percalços de maior, nem subtilezas a apontar.

Seguiu-se o belíssimo ciclo de canções Kindertotenlieder (1901-4), de Gustav Mahler (1860-1911), o que talvez menos se tenha traduzido num bom resultado musical neste concerto na Sala Suggia. Não obstante a boa prestação da meio-soprano Victoire Bunel, o que se escutou não foi uma leitura escorreita. Abundantes momentos mais camerísticos no seio da grande orquestra, vários dos pontos essenciais em que um instrumento recebe de outro o testemunho de uma frase em curso foram periclitantemente ultrapassados, não sendo possível responsabilizar por isso este ou aquele naipe, uma vez que quase todos “compensaram” as suas pequenas falhas com outros difíceis obstáculos ultrapassados. Quem não vacilou foi o público nos numerosos aplausos com que agradeceu a primeira parte do concerto.

Talvez porque as expectativas não fossem já demasiado elevadas, a segunda parte (exactamente o mesmo programa que a CdM propõe para hoje, às 12h00, num concerto comentado por Mário Azevedo) pareceu um pouco mais convincente. Permanecendo-se no universo de Mahler, o breve andamento sinfónico Blumine (1883-88) – as flores que um dia chegaram a ser pensadas para a primeira sinfonia, quando esta era ainda um projecto de poema sinfónico – decorreu de forma mais fluida.

Porventura a obra menos acidentada do concerto (embora não totalmente “limpa”), o trabalho de Ustina Dubitsky e da OSPCdM no poema sinfónico Totenfeier (1888) afigurou-se mais assertivo, mostrando uma orquestra com maior equilíbrio entre naipes, eventualmente uma melhor interpretação da obra como um todo e uma melhor gestão dinâmica.

Indiferente ao que de menos conseguido escutou, a plateia respondeu, uma vez mais, de forma bastante generosa com efusivos aplausos.

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