Nas últimas semanas, a cidade de Paris está a ser alvo de uma praga de percevejos-de-cama que, além de se instalarem na roupa, cadeiras ou livros dos habitantes, também os atormentam nos cinemas, hotéis, escolas e até transportes públicos — os utilizadores do metro até já os filmaram a caminhar pelos assentos.
Os moradores contrataram exterminadores, guardaram objectos dentro de sacos do lixo e lavaram a roupa a altas temperaturas, tudo o que se deve fazer para acabar com esta praga. Mas como se pode garantir que a casa fica livre de percevejos? Para se sentirem seguros, ligam para empresas de cães farejadores, como a Dogscan, e pedem os serviços do cão Rio.
O podengo português foi adoptado por Emilie Gaultier depois de ter passado dois dias a perseguir a dona numa caminhada. Quando os percevejos invadiram Nova Iorque, nos Estados Unidos, foi a Rio que coube teve a tarefa de os detectar e ajudar a acabar com os insectos. Em França, país onde vive desde 2010, as últimas semanas têm sido intensas, conta a dona e tratadora.
Assim que entra em casa dos clientes, Rio começa a farejar todas as divisões, acompanhado pela tratadora em busca de sinais de percevejos. Se não os encontrar, aproxima-se de Emilie, põe-lhe as patas na cintura e senta-se.
No entanto, este não é o único cão requisitado para este trabalho. Os cocker spaniels Thunder, de dez anos, e Troy, de cinco, também ajudam a combater a praga em Paris e seguem o mesmo modus operandi de Rio. Segundo o jornal britânico The Telegraph, a empresa Doggybug recebeu pedidos de ajuda de habitantes, escolas e cinco hotéis de luxo, contam os donos Kristina Pankus e Aldo Massaglia, que tiveram de entrar disfarçados de hóspedes para ninguém reparar.
“É absolutamente louco. Não conseguimos acompanhar. Desde que os percevejos chegaram às manchetes, há cerca de três semanas, o negócio aumentou cerca de 45%”, disseram.
Uma "verdadeira psicose"
No caso do cão Rio, adianta a tratadora, o telefone da empresa tem sido inundado de chamadas de parisienses em pânico que, em muitos dos casos, nem sequer tiveram percevejos em casa. A praga está a provocar ansiedade nas pessoas e os vídeos e notícias sobre o assunto estão a contribuir para este estado de espírito. “Agora estão paranóicos”, declarou, citada pelo The New York Times.
"Toda esta atenção dos media está a voltar a traumatizar as pessoas que tiveram percevejos e a traumatizar outras que nunca os tiveram", acrescentou.
A opinião de alguns especialistas também não é muito diferente. Apesar de o número de avistamentos destes insectos estar a aumentar, os níveis de ansiedade que provocam ultrapassam-nos em larga escala. A atenção dada ao tema chegou a tal ponto que o entomólogo Jean-Michel Bérenger, que transformou a cave de casa num laboratório de percevejos, se tornou um nome conhecido e frequentemente requisitado pelos franceses.
“Há uma verdadeira psicose. Esta é a primeira vez que as pessoas me ligam a pedir para ir a casa delas para verificar se há percevejos quando não foram mordidas, não viajaram, mas têm medo de os ter desde que viram vídeos na Internet”, afirmou ao mesmo jornal.
Ao contrário de parasitas como piolhos, pulgas ou carraças, os percevejos não voam nem saltam, mas agarram-se às roupas ou objectos das pessoas. No caso de França, a praga está a ser noticiada este Outono, época em que os franceses já regressaram das férias de Verão e, segundo o raciocínio do etimologista, trazem percevejos nas malas sem saberem. No entanto, a praga é um problema antigo.
Em 2020, o Governo de Emmanuel Macron pôs em prática uma campanha online com informações sobre como acabar com os percevejos e, de acordo com um estudo agora revelado, entre 2017 e 2022 cerca de 11% das casas francesas sofreram infestações. Na semana passada, o Ministério de Educação do país revelou que entre as 60 mil escolas, cerca de 12 registaram a presença destes animais.
A urgência em resolver a praga está também relacionada com os Jogos Olímpicos de 2024 que serão realizados em Paris entre Julho e Agosto. Na sexta-feira passada, dia 6 de Outubro, o Governo francês convocou uma reunião de emergência e o ministro dos Transportes, Clément Beaune, prometeu a presença de cães farejadores nos metros da cidade, escreve o The Telegraph.
A par disto, desde a pandemia que a possibilidade de trazer um parasita para casa é uma preocupação constante. Para a treinadora de Rio, os percevejos tornam-se, muitas vezes, "na ponta do icebergue” e trazerem à superfície problemas antigos como, por exemplo, aumento da idade da reforma, que deu origens a manifestações.
"A ansiedade de todos os anos em que estas crises sociais têm estado a acontecer está a vir ao de cima. E está a transformar-se em percevejos", conclui.