Paris enfrenta uma praga de percevejos. Estes cães são parte da solução

O Governo francês e os moradores procuram eliminar a praga de percevejos em Paris com a ajuda de cães farejadores. Rio, Thunder e Troy visitam casas, escolas e até hotéis de luxo.

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Thunder e Troy são dois dos cães responsáveis por detectar percevejos em França Doggybug/Facebook
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Nas últimas semanas, a cidade de Paris está a ser alvo de uma praga de percevejos-de-cama que, além de se instalarem na roupa, cadeiras ou livros dos habitantes, também os atormentam nos cinemas, hotéis, escolas e até transportes públicos — os utilizadores do metro até já os filmaram a caminhar pelos assentos.

Os moradores contrataram exterminadores, guardaram objectos dentro de sacos do lixo e lavaram a roupa a altas temperaturas, tudo o que se deve fazer para acabar com esta praga. Mas como se pode garantir que a casa fica livre de percevejos? Para se sentirem seguros, ligam para empresas de cães farejadores, como a Dogscan, e pedem os serviços do cão Rio.

O podengo português foi adoptado por Emilie Gaultier depois de ter passado dois dias a perseguir a dona numa caminhada. Quando os percevejos invadiram Nova Iorque, nos Estados Unidos, foi a Rio que coube teve a tarefa de os detectar e ajudar a acabar com os insectos. Em França, país onde vive desde 2010, as últimas semanas têm sido intensas, conta a dona e tratadora.

Assim que entra em casa dos clientes, Rio começa a farejar todas as divisões, acompanhado pela tratadora em busca de sinais de percevejos. Se não os encontrar, aproxima-se de Emilie, põe-lhe as patas na cintura e senta-se.

No entanto, este não é o único cão requisitado para este trabalho. Os cocker spaniels Thunder, de dez anos, e Troy, de cinco, também ajudam a combater a praga em Paris e seguem o mesmo modus operandi de Rio. Segundo o jornal britânico The Telegraph, a empresa Doggybug recebeu pedidos de ajuda de habitantes, escolas e cinco hotéis de luxo, contam os donos Kristina Pankus e Aldo Massaglia, que tiveram de entrar disfarçados de hóspedes para ninguém reparar.

“É absolutamente louco. Não conseguimos acompanhar. Desde que os percevejos chegaram às manchetes, há cerca de três semanas, o negócio aumentou cerca de 45%”, disseram.

Uma "verdadeira psicose"

No caso do cão Rio, adianta a tratadora, o telefone da empresa tem sido inundado de chamadas de parisienses em pânico que, em muitos dos casos, nem sequer tiveram percevejos em casa. A praga está a provocar ansiedade nas pessoas e os vídeos e notícias sobre o assunto estão a contribuir para este estado de espírito. “Agora estão paranóicos”, declarou, citada pelo The New York Times.

"Toda esta atenção dos media está a voltar a traumatizar as pessoas que tiveram percevejos e a traumatizar outras que nunca os tiveram", acrescentou.

A opinião de alguns especialistas também não é muito diferente. Apesar de o número de avistamentos destes insectos estar a aumentar, os níveis de ansiedade que provocam ultrapassam-nos em larga escala. A atenção dada ao tema chegou a tal ponto que o entomólogo Jean-Michel Bérenger, que transformou a cave de casa num laboratório de percevejos, se tornou um nome conhecido e frequentemente requisitado pelos franceses.

“Há uma verdadeira psicose. Esta é a primeira vez que as pessoas me ligam a pedir para ir a casa delas para verificar se há percevejos quando não foram mordidas, não viajaram, mas têm medo de os ter desde que viram vídeos na Internet”, afirmou ao mesmo jornal.

@jimmyvisitsworld We were staying in Paris and suspected bed bugs in our airbnb. We were checking the mattress and couldn’t find them but still kept getting bites. We then saw a dermatologist who told us the bites were from bed bugs. The apartment host then hired a sniffer dog to look for the bed bugs. #paris #parisbedbugs #bedbugs #parislife ? La Maritza - Sylvie Vartan

Ao contrário de parasitas como piolhos, pulgas ou carraças, os percevejos não voam nem saltam, mas agarram-se às roupas ou objectos das pessoas. No caso de França, a praga está a ser noticiada este Outono, época em que os franceses já regressaram das férias de Verão e, segundo o raciocínio do etimologista, trazem percevejos nas malas sem saberem. No entanto, a praga é um problema antigo.

Em 2020, o Governo de Emmanuel Macron pôs em prática uma campanha online com informações sobre como acabar com os percevejos e, de acordo com um estudo agora revelado, entre 2017 e 2022 cerca de 11% das casas francesas sofreram infestações. Na semana passada, o Ministério de Educação do país revelou que entre as 60 mil escolas, cerca de 12 registaram a presença destes animais.

A urgência em resolver a praga está também relacionada com os Jogos Olímpicos de 2024 que serão realizados em Paris entre Julho e Agosto. Na sexta-feira passada, dia 6 de Outubro, o Governo francês convocou uma reunião de emergência e o ministro dos Transportes, Clément Beaune, prometeu a presença de cães farejadores nos metros da cidade, escreve o The Telegraph.

A par disto, desde a pandemia que a possibilidade de trazer um parasita para casa é uma preocupação constante. Para a treinadora de Rio, os percevejos tornam-se, muitas vezes, "na ponta do icebergue” e trazerem à superfície problemas antigos como, por exemplo, aumento da idade da reforma, que deu origens a manifestações.

"A ansiedade de todos os anos em que estas crises sociais têm estado a acontecer está a vir ao de cima. E está a transformar-se em percevejos", conclui.

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