Comerciantes da Avenida da Boavista no Porto revoltados com obras do metrobus

Em causa estão prejuízos causados pela construção do metrobus e criticam a falta de estacionamento, falta de via de emergência médica e falta de iluminação nocturna.

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Paulo Pimenta

Vários comerciantes, instituições e residentes da Avenida da Boavista, no Porto, estão revoltados com os prejuízos causados pela construção do metrobus e criticam a falta de estacionamento, falta de via de emergência médica e falta de iluminação nocturna.

"É a loucura de falta de estacionamento. Os pais vêem-se gregos para conseguirem deixar as crianças a tempo das aulas de música e muitos estão a desistir das matrículas", declarou Maria João Marques, funcionária da Escola de Música Academia Valentim de Carvalho, instituição localizada no número 1142 da Avenida da Boavista que conta com mais de 40 anos de história na cidade.

Os candeeiros foram retirados do lado da escola de música com as obras do metrobus e alunos e pais saem às escuras, porque há aulas até às 20h30, alertou Maria João Marques, observando que tudo vai piorar com a mudança para a hora de Inverno e quando começar a chover.

"É escuro como breu e os pais queixam-se da escuridão, que pode provocar perigos e acidentes. Está dramático, porque nem sequer há alternativa de estacionamento para os encarregados de educação", referiu.

Segundo Maria João Marques, a Academia Valentim de Carvalho está a ter prejuízos no negócio, pois está a perder alunos que não conseguem chegar a tempo às aulas.

"A partir do final da tarde, os telefones não param de tocar com os pais a avisar que estão presos no trânsito com as crianças e não conseguem alcançar a escola. Alguém devia zelar pela segurança dos alunos da escola de música, que trabalha para a comunidade do Porto", alertou.

Na loja de artigos de decoração Galeria de Santo André, localizada logo à entrada do centro comercial Green Center, Cristina Moura, a proprietária do espaço, assumiu que estão a perder clientes desde que as obras começaram e disse temer o pior no Natal, que é "a melhor época de vendas".

"Houve taipais no início das obras e praticamente não se conseguia entrar na loja. Os estacionamentos que existiam na Avenida da Boavista foram retirados. Por tudo isso os clientes não vêm à loja", explicou Cristina Moura, referindo que dois estabelecimentos do centro comercial já encerram portas com a construção do metrobus. A lojista mostrou-se angustiada por não haver estacionamento.

Comerciantes dizem não ter informação sobre fim das obras

"Nunca até hoje nos foi dito nada sobre o fim das obras ou sobre quando voltará a haver estacionamento", declarou, observando que a empreitada deveria ter previsto no orçamento compensações ou indemnizações aos comerciantes para atenuar os prejuízos nos negócios.

Rosário Oliveira, da loja de costura, arranjos e lavandaria Norsec, localizada também à entrada do centro comercial, confirmou ter já sofrido uma grande quebra na clientela.

"O negócio caiu com o início das obras. Os clientes queixam-se da falta de estacionamento e se antes alguns clientes ainda conseguiam estacionar alguns minutos em segunda fila para deixar tapetes e outras peças pesadas, actualmente é impossível", descreveu a funcionária.

Uns metros mais abaixo, na loja de vestuário Carlos Sousa Alfaiate, Mónica Fernandes também referiu que as obras estão a causar prejuízos e que alguns lojistas se uniram e enviaram um requerimento às autoridades a referir que houve quebra nas vendas.

"A colecção Primavera-Verão ficou praticamente toda em loja. Até assaltos às lojas da Boss e da Bang & Olufsen existiram. Era bom que isto se resolvesse", lamentou a lojista, referindo que os clientes estão a deixar de ir ali às compras porque não arranjam estacionamento.

Outra crítica apontada é a dificuldade de circulação de veículos de emergência médica na avenida com "calhaus de cimento ao longo da via", descreveu a moradora Filipa Pinto, referindo que cansa ouvir as sirenes das ambulâncias, que não conseguem circular rapidamente porque os carros não têm espaço para lhes dar passagem.

Fonte oficial da empresa Metro do Porto, responsável pela empreitada, avançou hoje à Lusa que estão asseguradas compensações "nas situações previstas", como o impedimento total de acesso, tal como "tem vindo a suceder relativamente às obras de construção da nova Linha Rosa [Casa da Música - São Bento]".

Questionada sobre se está prevista a colocação de candeeiros retirados ou alguma alternativa, a fonte referiu que a "revitalização induzida pelo metrobus preconiza a instalação de um novo sistema de iluminação pública, o que inclui novos candeeiros, que estão neste momento a ser montados em alguns pontos da Avenida da Boavista".

A Metro do Porto acrescenta ainda que não houve "qualquer retirada de candeeiros", mas "apenas a substituição pelos novos".

Quanto ao estacionamento na Avenida da Boavista, os 227 lugares existentes entre a rotunda e a Avenida Marechal Gomes da Costa passarão a 55, sendo que se manterão os 257 lugares actualmente existentes na Marechal.

O metrobus, cuja obra arrancou em Fevereiro, ligará a Casa da Música à Praça do Império (em 12 minutos) e à Anémona (em 17) no verão de 2024, com recurso a autocarros a hidrogénio, circulando em via dedicada na Avenida da Boavista e em convivência com os automóveis na Avenida Marechal Gomes da Costa.

O investimento no metrobus é totalmente financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e chega aos 66 milhões de euros, valores sem IVA.

Estão previstas as estações Casa da Música, Guerra Junqueiro, Bessa, Pinheiro Manso, Serralves, João de Barros e Império, no primeiro serviço, e na secção até Matosinhos adicionam-se Antunes Guimarães, Garcia de Orta, Nevogilde, Castelo do Queijo e Praça Cidade do Salvador (Anémona).