Redacção do DN “não dá aval” a José Júdice e dá “parecer negativo” a Ana Cáceres Monteiro
A Global Media Group informou esta quinta-feira que a nova equipa de Direcção do DN será composta pelos jornalistas José Júdice, Leonídio Ferreira e Ana Cáceres Monteiro.
O Conselho de Redacção (CR) do Diário de Notícias entendeu, no início desta semana, “por maioria, não dar aval” a José Júdice para director e, “por unanimidade”, dar “um parecer negativo” a Ana Cáceres Monteiro para subdirectora, refere um comunicado.
Entretanto o Conselho de Administração do Global Media Group informou esta quinta-feira que “a nova equipa de Direcção do Diário de Notícias, e que será composta pelos jornalistas José Júdice, Leonídio Ferreira e Ana Cáceres Monteiro, que ocuparão, respectivamente, as funções de Director, Director-Adjunto e Subdirectora”, vai iniciar funções a 13 de Novembro. A mesma fonte adianta que o objectivo do Conselho de Administração é que a "entrada em funções da nova Direcção marque o início de uma nova fase na vida" do jornal. O futuro vai passar pelo "reforço de investimento em recursos humanos, infoestruturas e inovação, factores essenciais para o necessário crescimento e reafirmação de um jornal que é, como todos sabemos, uma referência ímpar no panorama dos media em Portugal — e cujo papel na sociedade portuguesa urge redignificar", pode ainda ler-se na nota.
O Conselho de Administração da Global Media Group (GMG) tinha, segundo um comunicado datado de 3 de Outubro, indicado os nomes de José Júdice e Ana Cáceres Monteiro para integrarem a direcção do Diário de Notícias (DN) como director e subdirectora, juntando-se ao director-adjunto, Leonídio Paulo Ferreira. Em 9 de Outubro, os membros do CR reuniram-se com os jornalistas José Júdice (JJ) e Ana Cáceres Monteiro (ACM), tendo o director indigitado feito “uma avaliação da situação actual do DN que evidenciou consciência do estado depauperado da redacção e do posicionamento do título no mercado da imprensa”, lê-se num comunicado a que a Lusa teve esta quinta-feira acesso.
“Questionado sobre que plano tem para o jornal, JJ defendeu ‘no mínimo duplicar a redacção — neste momento composta por 13 jornalistas/redactores (dois dos quais grandes repórteres), seis editores (que acumulam a edição do site com outras funções no jornal), três editores executivos, mais dois directores, ou seja, 24 jornalistas no total —, ‘reforçar a parte gráfica’, ‘reforçar a revisão’ e reduzir aquilo que denominou de ‘profusão de textos de opinião’”, adianta o CR.
José Júdice, acrescentam, disse que estavam identificadas "pessoas com experiência", mas "sem rabos-de-palha" para o reforço da redacção “e defendeu ainda a necessidade de uma ‘radical renovação gráfica’ do DN, além do lançamento de novos produtos, como uma edição reforçada de fim-de-semana com ‘vários suplementos’, sem, no entanto, adiantar, quando sobre isso foi perguntado, em que consistirão e qual a especificidade da abordagem jornalística”. Relativamente ao online, JJ “defendeu também o reforço e mais meios”, admitindo, no entanto, “que ainda não sabe" que orçamento terá para o relançamento que se propõe fazer do DN.
Sobre o facto de não ter assento numa redacção desde 1992, respondeu: "Não tenho tido assento na redacção, mas para o que é preciso fazer também não faz falta", referindo que “não é seu papel como eventual director ‘fazer de chefe de redacção ou editor’”.
“Os membros eleitos do CR não podem deixar de notar que os planos e projecto apresentados, ainda que em parte vão ao encontro do que a redacção almeja e defende, suscitam algum cepticismo quanto à sua exequibilidade, depois de longos anos em que o percurso traçado pelas sucessivas direcções e administrações, malgrado declarações iniciais de ‘reinvestimento’, ‘revalorização’, e ‘redignificação’, foi no sentido inverso, de notória desvalorização da redacção e do título”. O CR destaca ainda que “JJ assumiu não ler a imprensa portuguesa, apenas a estrangeira”.
Relativamente a Ana Cáceres Monteiro, o CR considera que, “por muito que ACM tenha, como defendeu, ‘capacidade de trabalho’ e de ‘coordenar equipas’, o percurso e perfil desta jornalista, com carreira maioritariamente ligada às publicações de lifestyle e da chamada ‘imprensa cor-de-rosa’, suscitam reservas sobre a mais-valia da sua incorporação na direcção do Diário de Notícias, numa altura de urgente reforço da credibilidade do jornal e do seu reposicionamento enquanto referência de um jornalismo de qualidade”.
Além disso, “o CR teve conhecimento de uma acusação de plágio, ocorrida em Abril, quando ACM era subdirectora do Jornal Económico (JE), de um texto de uma jornalista do Dinheiro Vivo (DV, suplemento económico do Diário de Notícias)”. O CR “fez uma averiguação prévia à reunião com os dois indigitados, pedindo esclarecimentos (sob a forma de depoimento escrito) a todos os envolvidos à excepção de ACM, uma vez que o pedido de esclarecimento seria efectuado na reunião”.
De acordo com o CR, Ana Cáceres Monteiro “admitiu um ‘erro grave’, assegurando, no entanto, que não houve ‘dolo’ da sua parte, mas uma confusão num momento de stress entre o texto de um press release enviado por uma agência e as pesquisas próprias sobre o tema que fez online, que incluíam o texto da jornalista do DV”. A jornalista garantiu ter "assumido responsabilidades" em relação ao sucedido, mas “não efectuou rectificação”.
“Confrontado com a situação, o director indigitado assumiu que já sabia do caso, embora tenha demonstrado no decorrer da reunião que não tinha conhecimento dos factos todos”, tendo reconhecido tratar-se de "um erro grave e imperdoável", "uma situação deontologicamente inaceitável", mas disse também que o erro fora "já assumido".
No entanto, "se eu fosse director dessa publicação despublicava o texto em causa e dava um esclarecimento público", afirmou, citado pelo CR, acrescentando que se uma situação como esta acontecer sob sua direcção no DN, faria “uma retractação pública nas páginas do jornal”. Sobre a escolha de ACM, JJ “revelou que a sugestão do nome veio da administração, mas defendeu a ‘capacidade e entrega’ da jornalista como qualidades importantes para integrar a sua direcção no DN”.
O comunicado do CR é acompanhado de uma declaração de voto de Fernanda Câncio, na qual a jornalista dá conta à redacção da “averiguação rigorosa” que foi feita acerca da acusação de plágio imputada à subdirectora indigitada.