Portuguesa de 25 anos desapareceu em Israel. Família acredita que foi vítima do Hamas
Rotem Neumann, portuguesa de origem sefardita, era uma das participantes no festival de música atacado pelo Hamas. Está desaparecida desde a manhã de sábado, 7 de Outubro.
Rotem Neumann passou a madrugada de sexta-feira para sábado a dançar ao ar livre, como centenas (ou milhares, o número não é certo) de outros jovens num festival de música electrónica que decorreu a sul de Telavive, em Israel. Ao amanhecer, terá percebido que algo não estava bem. A última mensagem de que a família da jovem com nacionalidade portuguesa tem conhecimento foi enviada para um amigo. Era uma partilha de localização — estava num abrigo antiaéreo — e dizia a esse amigo que fosse lá ter. Ali estaria em segurança.
"No sábado de manhã, toda a gente em Israel ouviu as sirenes de alerta, depois chegaram os rockets. Ao início, pensámos que fosse o primeiro de mais alguns dias de combates, é algo a que estamos mais ou menos habituados", conta, em entrevista ao PÚBLICO, Tomer Neumann, primo de Rotem. "Depois de algumas horas num abrigo, começámos a ver mais notícias na televisão, nas redes sociais. Não sabíamos bem o que se estava a passar, mas sabíamos que muitos terroristas [membros do Hamas] tinham entrado em Israel e sabíamos que tinham atacado em primeiro lugar um festival de música a poucos quilómetros de Gaza."
Juntaram as peças: era nessa festa que estava Rotem. A partir daí, e sem novidades dadas pela jovem de 25 anos, a família procurou saber, tanto quanto possível, o que teria acontecido. Foram várias histórias, vídeos, relatos de conhecidos que permitiram a Tomer imaginar o cenário mais provável.
"Ela não se terá cruzado com os terroristas no recinto do festival, fugiu com vários amigos para norte, sem saber que encontrariam mais homens armados", descreve Tomer, também com passaporte português e com 25 anos. "Encontraram terroristas, mudaram de direcção, perceberam que estavam numa emboscada. Depois esconderam-se num abrigo à superfície, feito para proteger as pessoas de ataques aéreos, mas não de outras pessoas."
Foi aí, pelas 7h, que Rotem disse a um outro amigo, Ben, que fosse ter com o grupo ao abrigo, onde estariam a salvo. Ben terá ficado por mais tempo no recinto do festival, disse-lhe que estava a ouvir disparos e que iria para o abrigo em pouco tempo. Uma hora depois, perguntou a Rotem como estavam as coisas por lá. Rotem não terá chegado a responder, Ben não terá chegado a ir para o abrigo.
"Não sei disto pela minha prima, mas por uma série de pessoas que estiveram na mesma situação, escaparam e falaram connosco. Sei que quando chegaram a este abrigo encontraram um monte de corpos", explica Tomer.
A família, diz, mantém a esperança de que Rotem esteja bem, mesmo que refém do Hamas, mas "torna-se mais difícil à medida que as horas vão passando".
A estudante de Ciências do Comportamento a viver em Telavive não seria a única portuguesa no festival. Dorin Atias, de 22 anos, também está desaparecida. Ambas terão origem sefardita e passaporte português.
Segundo o correspondente da SIC em Israel, Henrique Cymerman, Dorin falou com a mãe pela última vez na noite de sexta-feira, avisando-a de que, no dia seguinte, iria acampar numa zona junto à vedação que separa a Faixa de Gaza do território do Estado de Israel, para participar no festival de música.
Horas depois, o Hamas lançou um ataque-surpresa sobre Israel, escolhendo como primeiro alvo a multidão que dançava junto a Gaza. Só no recinto foram mortas pelo menos 260 pessoas. Não se sabe quantas terão sido raptadas.
Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português adiantou esta segunda-feira que não recebeu "qualquer contacto por parte das autoridades israelitas" dando conta de jovens sefarditas com nacionalidade portuguesa desaparecidas em Israel.
Notícia actualizada às 21h55: o título foi alterado