Muitas vítimas do sismo afegão são antigos refugiados. Quem escapou ficou sem nada
“Está a acontecer aqui uma catástrofe”, diz habitante de aldeia onde sobraram 50 dos 400 residentes. Responsável taliban apela à ajuda internacional.
Muitas das vítimas do terramoto que atingiu no sábado o Afeganistão, matando pelo menos 2400 pessoas, são refugiados que viveram no Irão e no Paquistão, tendo voltado recentemente a este país.
"Os sobreviventes ficaram sem nada. Precisam de comida, roupa, tendas e medicamentos. O terramoto atingiu zonas muito remotas e pobres. Muitos deles são refugiados que regressaram recentemente do Irão e do Paquistão. Precisamos definitivamente de ajuda internacional”, disse um porta-voz taliban ao jornal britânico The Guardian. Equipas de resgate procuram agora sobreviventes entre as ruínas das aldeias arrasadas.
Segundo a mesma fonte de informação, mais de 2400 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas. “Muitas mais estão ainda debaixo dos escombros", acrescentou o porta-voz. "Doze aldeias do distrito de Zindah Jan e seis do distrito de Ghoryan estão completamente reduzidas a escombros, sendo expectável que o número de mortos aumente”.
A zona Oeste do país foi a mais afectada pelo terramoto, que atingiu uma magnitude de 6,3 na escala de Richter e foi seguido de oito fortes réplicas, causando pânico e destruição em zonas rurais de difícil acesso, a 30 km da capital da província de Herat.
"Apelamos a todos os grupos de ajuda internacional para que nos ajudem neste momento a salvar as vidas dos nossos compatriotas e das nossas mulheres", disse outro responsável taliban. "Ajudem-nos por todos os meios que puderem."
Ao cair da noite de sábado, na aldeia de Sarboland, no distrito de Zindah Jan, um repórter da agência France Presse viu dezenas de casas em ruínas perto do epicentro do sismo, que abalou a zona durante mais de cinco horas. Os homens remexiam em montes de alvenaria desfeita, enquanto mulheres e crianças esperavam ao ar livre, com as casas esventradas e os pertences a abanar ao vento forte.
O hospital de Herat foi inundado por feridos. Dezenas de pessoas tiveram de ser tratadas no exterior, depois de a unidade de saúde com 600 camas ter atingido a sua capacidade máxima durante a tarde de sábado, e de os responsáveis talibãs terem construído um hospital improvisado.
"As carrinhas cheias de cadáveres estão a chegar aqui a cada minuto", disse um médico ao Guardian. "Estamos a ter dificuldades com o elevado número de feridos. Não contei os cadáveres. A nossa morgue não tem capacidade".
Depois de rumores de outro forte terramoto se terem espalhado nas redes sociais, os parques públicos e as ruas da cidade de Herat encheram-se ontem à noite de gente que ficou com medo de dormir em casa.
"As pessoas ficaram aterrorizadas", conta um habitante, Firooz, ao telefone. "Eu e a minha família ficámos num parque até às cinco da manhã. Milhares de pessoas passaram a noite ao ar livre. Apenas dois homens da nossa rua ficaram lá, para segurança dos pertences das pessoas. Todos os outros estavam no parque. Foi como um pesadelo".
Dawood, um residente do distrito de Zindah Jan, descreveu como levou nove cadáveres dos seus familiares para Herat. "As estradas para muitas das aldeias estão danificadas. Muitas pessoas morrerão debaixo dos escombros esta noite", antecipava. "Posso dizer-vos que apenas 50 pessoas estão vivas na aldeia dos meus familiares. Mais de 400 pessoas viviam lá até esta manhã. Está a acontecer aqui uma catástrofe."