Râguebi, o “segundo Deus” de Fiji

Quase 10% da população no arquipélago fijiano joga a modalidade a nível federado.

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Os fijianos a realizarem a Cibi antes do jogo Reuters/SARAH MEYSSONNIER

O alerta à concorrência foi feito por Simon Raiwalui, o técnico que colocou alguma ordem aos tradicionalmente anárquicos “flying fijians”: “No râguebi, um fijiano sorridente é um fijiano perigoso.” A precisar de somar apenas um ponto no duelo desta noite com Portugal, Fiji tem sorrido neste Mundial 2023, está a confirmar todos os bons indícios deixados nos últimos meses e, se garantir neste domingo o apuramento para os quartos-de-final - afastando pela primeira a Austrália dessa fase da prova -, o feito reforçará a profunda ligação deste arquipélago do Pacífico ao desporto: num país onde o râguebi é considerado o “segundo Deus”, quase 10% da população joga a modalidade a nível federado.

Esse é o melhor ponto de partida para explicar o que representa o râguebi para as Fiji. Num país onde é comum ver as crianças a jogarem nas praias com cocos, existem, segundo estimativa da federação fijiana, 80 mil atletas federados - 60 mil seniores e 20 mil jovens em idade escolar. Numa nação com uma população a rondar os 925 mil habitantes, é um rácio – próximo dos 9% - que nenhuma outra selecção a nível mundial consegue sequer se aproximar. Em Portugal, por exemplo, há cerca de seis mil federados em râguebi, numa população de quase 10,5 milhões - menos de 0.06%.

Não sendo no “XV” a potência que são nos sevens – venceram a medalha de ouro (2016) e de bronze (2020) nas duas edições onde o râguebi esteve representado nos Jogos Olímpicos -, os fijianos já não alcançam os quartos-de-final de um Mundial desde 2007. Edição que, curiosamente, também foi em França e onde também esteve Portugal. Porém, estes “flying fijians” estão diferentes. Sob o comando de Simon Raiwalui, já não são aquela equipa ingénua e anárquica, que se tornava presa fácil para um rival que soubesse tacticamente anular os seus trunfos.

A prova disso chegou ainda antes do Mundial 2023 começar. A 26 de Agosto, Fiji foi a Twickenham, a catedral do râguebi inglês, e, perante 56,854 espectadores, garantiu a primeira vitória da sua história contra os vice-campeões do Mundo. Já em França, após uma (imerecida) derrota contra o País de Gales, os fijianos levaram a Austrália ao tapete – há 69 anos que os “wallabies” não perdiam com os “flying fijians”.

Para este arquipélago de pequenas ilhas no Pacífico onde o râguebi foi introduzido no final do século XIX por neozelandeses, estas vitórias têm um enorme significado. Nemani Nadolo, que esteve no Mundial 2015, explica que “cada vez que os rapazes vestem aquela camisola, estão a jogar muito mais do que apenas uns pelos outros”. “Significa muito, não apenas para as pessoas da ilha, mas para todos os fijianos, em todo o mundo. O râguebi no nosso país é um segundo Deus. Há a religião e o râguebi. Isso dá-te uma compreensão do quão grande é o jogo no nosso país.”

“Representar o nosso povo é algo que não encaramos levianamente”, acrescenta o antigo internacional fijiano, que diz que teve “a sorte de representar Fiji por mais de uma década, e, cada vez que vestes aquela camisola, há um peso”: “Estás a representar a próxima geração, mas também estás a representar quem está na ilha com pouco, mas, mesmo assim, ficaria feliz em abdicar do pouco dinheiro que tem para ajudar a equipa a vencer.”

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