Presidente polaco alerta que abdicar do direto de veto levará à “oligarquização” da UE

No encerramento do encontro do Grupo de Arraiolos, no Porto, Andrzej Duda diz que “não é aceitável” que “os grandes decidam o futuro dos mais pequenos”.

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Andrzej Duda, Presidente da Polónia EPA/JOSE COELHO

O Presidente da Polónia defendeu esta sexta-feira que abdicar do direito de veto como condição para alargar a União Europeia “não é aceitável” porque levará à “oligarquização” da instituição e a que “os grandes decidam o futuro dos mais pequenos”.

“Algumas vozes na União Europeia que dizem que para aceitarmos novos países temos que alterar os tratados, também em termos de tomadas de decisão devemos abdicar do direito de veto, que devemos alterar para votos por maioria. Estas são as expectativas que levarão a uma oligarquização da União Europeia. Os grandes irão decidir o futuro dos mais pequenos e dos Estados médios da União Europeia e nós estamos certos de que não podemos concordar com isso”, afirmou Andrzej Duda.

A discursar no Porto, na conferência de encerramento da 18.ª reunião do Grupo de Arraiolos que decorreu esta sexta-feira, o chefe de Estado polaco chamou a atenção para as consequências do fim da necessidade de consenso dentro da União Europeia, defendo que tal não é aceitável.

“Significaria estar a impor soluções que levariam a que alguns pais tivessem mais voz e outros menos voz, ou nem sequer terem voz, o que seria uma União injusta. Nós não podemos aceitar essas condições, ou por essas condições para o alargamento da União Europeia, achamos que o alargamento deve acontecer sim, mas com base nos tratados e disposições actuais e de acordo com os acordos europeus a que estamos veiculados”, salientou.

A mesma opinião foi expressa pela Presidente da Hungria: “Temos que nos ater com o que está nos tratados europeus, mostrar respeito mútuo, a União Europeia é uma união de estados, nações fortes, e defendo o princípio da unanimidade na tomada de decisão, não devemos abdicar desse principio”, defendeu Katalin Novák.

A adesão da Ucrânia e a Moldova à família europeia foi um ponto unânime entre os chefes de Estados presentes, com o Presidente polaco a ser dos mais enfáticos na defesa daquela adesão: “Não temos dúvidas que aceitar a Ucrânia na União Europeia e na NATO vai aumentar a segurança na Europa, não temos dúvidas de que este reforço vai acontecer pelo facto da decisão da Ucrânia aderir à UE e à NATO significará a derrota da Rússia na guerra”, disse.

Segundo Andrzej Duda, a guerra na Ucrânia “foi iniciada pela Rússia, a Ucrânia foi atacada precisamente porque queria aderir à União Europeia e à NATO”.

“Se a Rússia ganhar esta guerra, e vendo o que se passou ao longo da história, certamente que a Rússia irá voltar a invadir outro país porque as suas ambições imperiais não estão satisfeitas, podem crer”, avisou, lembrando que a Polónia é um desses países vizinhos.

O chefe de Estado polaco abordou ainda o problema das migrações, defendendo que aquela é uma questão que não se resolve com imposições: "Há dois anos que beneficiámos de um ataque híbrido, os migrantes são-nos impostos nas fronteiras da zona de Schengen (…) são necessárias soluções de asilo para os migrantes (…) mas não podemos estar a impor soluções para cada Estado", referiu.

No Porto, no encontro que marcou os 20 anos do grupo, criado por Jorge Sampaio, marcaram presença os chefes de Estado da Bulgária, Rumen Radev, da Croácia, Zoran Milanovic, da Eslovénia, Natasa Pirc Musar, da Estónia, Alar Karis, da Finlândia, Sauli Niinistö, da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, da Hungria, Katalin Novák, da Irlanda, Michael Higgins, de Itália, Sergio Mattarella, da Letónia, Edgars Rinkēvičs, de Malta, George Vela, e da Polónia, Andrzej Duda, para além do anfitrião Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da Alemanha, que tem lugar no grupo, não esteve presente. Segundo nota da Presidência germânica, Frank-Walter Steinmeier viajou para os Estados Unidos da América para reunir-se com o homólogo norte-americano Joe Biden.