Movimentos protestam em Sines e pedem travão na destruição do litoral alentejano

“Exigimos que se garanta o respeito integral pela vontade das populações naquilo que é o futuro dos seus territórios, que têm sido esmagados constantemente”, diz membro da organização.

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Já em Abril passado Sines tinha sido palco de um protesto ambientalista LUSA/TIAGO CANHOTO

Pouco mais de meia centena de manifestantes percorreram esta quinta-feira algumas artérias da cidade de Sines, no distrito de Setúbal, para exigir um travão na destruição do litoral alentejano e o respeito pelo futuro deste território.

A acção foi organizada por 18 colectivos e associações da região que lutam por uma "justiça social e ambiental" no litoral, que entendem estar a ser sacrificado por interesses económicos.

Estes movimentos "saíram à rua para exigir à República, neste dia 5 de Outubro, que se trave imediatamente a destruição do litoral alentejano com graves consequências para o ambiente e para a vida de quem aqui vive e trabalha", explicou um dos membros da organização, Bruno Candeias.

Após uma concentração, ao início da manhã, no Jardim das Descobertas, e a realização de uma assembleia de movimentos onde foram expostos alguns dos argumentos de cada colectivo e associação, os participantes juntaram-se numa marcha baptizada como Tirem as Mãos do Litoral Alentejano.

"Exigimos que se garanta o respeito integral pela vontade das populações naquilo que é o futuro dos seus territórios, que têm sido esmagados constantemente", frisou o mesmo responsável.

E deu como exemplo não só o encerramento da central termo-eléctrica de Sines, que "deitou cerca de 300 trabalhadores para o desemprego", como as questões relacionadas "com a especulação imobiliária que é gerada pelo turismo de luxo, mas também por um conjunto de investimentos que se especulam para Sines e fazem aumentar o preço das casas".

"Por outro lado, temos mega-empreendimentos de produção de energia que vão destruir áreas imensas de solo produtivo, como o abate de 1800 sobreiros em Sines. Consideramos que as energias renováveis são compatíveis com a natureza, desde que se determine os locais próprios para a sua instalação, como solos improdutivos e espelhos de água", acrescentou.

Com cartazes onde se podiam ler "Salva o clima, limpa a energia", "Zona de genocídio", "Seca extrema, campos de golfe são um problema" e, enquanto entoavam palavras de ordem a exigir justiça ambiental e social, os manifestantes percorreram várias artérias de Sines sob o olhar atento da população.

Para Kaya Schwemmlein, outro dos elementos da organização e do grupo Juntos pelo Cercal, que luta contra a instalação de mega-centrais fotovoltaicas no concelho de Santiago do Cacém, estes movimentos querem "ter uma palavra a dizer em matéria de desenvolvimento sustentável".

"Diria que este território é reprimido em termos de recursos naturais, como a água, e contestado, porque temos os interesses da população e os interesses de uma classe hegemónica que acaba por esmagar a minoria, até porque esta transição justa está a fazer lucrar aqueles que trouxeram as alterações climáticas", referiu.

Também Bruno Candeias considerou que "os movimentos, mas sobretudo as pessoas não estão a ser ouvidas" e "estão a ser constantemente esmagados na sua vontade, em detrimento de interesses meramente economicistas".

Acompanhada de perto pelas forças de segurança, a marcha terminou no Jardim da Praça da República onde foi aprovado um manifesto a exigir não só o fim da "destruição sistémica do litoral alentejano" como também o respeito integral pela vontade popular nos processos de decisão e o estudo dos efeitos cumulativos de todos os projectos neste território.