O mês de Setembro foi o Setembro mais quente a nível global desde que há registos, revelou nesta quinta-feira o Serviço de Alterações Climáticas do Programa Copérnico (C3S) da União Europeia – reforçando ainda que o ano de 2023 deverá ser o ano mais quente já alguma vez registado. Em Setembro, a temperatura média do ar à superfície foi de 16,38 graus Celsius, mais 0,93ºC do que a média das temperaturas deste mês nos anos de 1991 a 2020. Este recorde junta-se a tantos outros já registados este ano: ao do Julho mais quente e do Agosto mais quente, contribuindo para o Verão mais quente a nível mundial.
“As temperaturas sem precedentes para esta época do ano observadas em Setembro – após um Verão recorde – bateram recordes de forma extraordinária”, afirmou a vice-presidente do C3S, Samantha Burgess, em comunicado. “Este mês extremo está a empurrar 2023 para a duvidosa honra do primeiro lugar – a caminho de ser o ano mais quente, com cerca de 1,4°C acima das temperaturas médias pré-industriais”, disse ainda. A dois meses da COP28 – a cimeira climática das Nações Unidas que se realiza de 30 de Novembro a 12 de Dezembro, no Dubai – “o sentido de urgência para uma acção climática ambiciosa nunca foi tão crítico”.
Para já, 2023 é o ano mais quente alguma vez registado, esclarece ao Azul a equipa do Copérnico por email – “mas os cientistas dizem que obviamente depende do que aconteça nos restantes três meses do ano”. De qualquer forma, não parece haver grande margem para dúvida: “Antecipamos que os restantes meses do ano continuem mais quentes que a média devido ao aquecimento do oceano acima da média e ao El Niño em formação.”
Tudo indica, portanto, que 2023 se cristalize em breve como o ano mais quente desde que há registos. “A temperatura global de Janeiro a Setembro de 2023 foi 0,52ºC mais alta do que a média.” Já no início de Setembro era dito por este serviço climático que faltavam apenas 0,01 graus Celsius para que o ano de 2023 batesse o recorde do ano mais quente de sempre, que foi 2016. Agora, refere o Copérnico em resposta ao Azul, este ano “está 0,05ºC mais quente do que 2016”.
Na semana passada, o cientista climático Carlo Buontempo, director do serviço C3S, confirmava em entrevista ao Azul que havia elevadas probabilidades de este se tornar o ano mais quente. “Estamos a ver um mundo que nunca vimos antes”, afirmou, referindo-se às alterações climáticas, causadas pelas emissões de gases com efeito de estufa que aumentam a temperatura da Terra.
Verão europeu de contrastes
Foi também o Serviço de Alterações Climáticas do Copérnico que anunciou no início de Setembro que o Verão de 2023 era já o mais quente de que havia registos: as temperaturas médias globais dos meses de Julho, Junho e Agosto eram as mais elevadas desde que começaram os registos. A NASA confirmou também, em meados de Setembro, que o Verão de 2023 foi o mais quente da Terra desde que os seus registos começaram na década de 1880, de acordo com os cientistas do Instituto Goddard de Estudos Espaciais.
Na Europa, o cenário foi ligeiramente diferente: numa publicação feita nesta terça-feira, o serviço do Copérnico indicava que o Verão foi uma “estação de contrastes: Junho foi quente e seco no norte da Europa e mais frio que a média no sul da Europa”. Já Julho e Agosto foram mais frios e húmidos no norte da Europa, enquanto o sul da Europa sofreu com incêndios e ondas de calor durante o mesmo período.
Estes contrastes fizeram com que o Verão fosse “mais quente que o normal”, mas não o suficiente para bater recordes no continente como um todo, tornando-se assim o quinto Verão mais quente da Europa. A temperatura média na Europa este Verão foi de 19,63 graus Celsius – 0,83 graus Celsius acima da média para esta época com base nos dados de 1991 a 2020. Ainda assim, o mês de Setembro foi o mais quente de todos os Setembros na Europa, com uma temperatura 1,1ºC acima das registadas no último Setembro mais quente no continente, que era o de 2020.
Quanto aos níveis de precipitação, houve regiões da Europa com “condições mais húmidas do que a média”, onde se inclui a Península Ibérica. Já algumas partes da Europa, dos Estados Unidos, do México, da Ásia e da Austrália tiveram o Setembro mais seco já alguma vez registado. Esta informação surge na mesma altura em que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) anunciou que o ano hidrológico de 2022/23 em Portugal continental foi o mais quente registado desde 1931.
O relatório do Copérnico dá ainda conta de que a extensão de gelo marinho na Antárctida continua em mínimos históricos para esta época do ano, com menos 9% do que seria esperado este mês. Também no Árctico se registou a sexta mais baixa extensão de gelo marinho anual.