Viu um lobo? Nova aplicação incentiva partilha de fotos ou indícios da espécie

Em Portugal, a espécie está “em perigo” e estima-se que existam poucas centenas de lobos no país. Aplicação chama-se “Eu vi um lobo” e pode ajudar na conservação desta espécie.

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O último censo nacional dava conta de 300 lobos em Portugal, distribuídos por 63 alcateias. A distribuição do lobo tem vindo a diminuir nas últimas décadas PEDRO CUNHA/ARQUIVO

A aplicação "Eu vi um lobo" quer envolver a comunidade na recolha de informação sobre esta espécie protegida, permitindo a todos os cidadãos partilhar anonimamente fotografias georreferenciadas do animal, indícios da sua presença e de potenciais ameaças. Desenvolvida pela Plataforma Lobo Ibérico, a aplicação para telemóveis desafia a sociedade a contribuir para a conservação da espécie em Portugal.

"A ideia é criar um laço maior entre os cidadãos e a conservação da natureza", afirmou nesta terça-feira à agência Lusa Bruno Arrojado, um dos promotores da plataforma. A aplicação é gratuita e os contributos são anónimos. "Para nós o mais importante é o registo em si", apontou.

Através desta app, os cidadãos podem enviar fotografias georreferenciadas de lobos, de indícios de presença desta espécie e também de potenciais ameaças. Os dados serão disponibilizados, de forma anónima, às autoridades e aos investigadores, permitindo mapear a ocorrência da espécie e de possíveis ameaças, ajudando à conservação do lobo e do seu ecossistema.

A plataforma especificou que os dados partilhados serão úteis para mapear a ocorrência do lobo e das suas presas e, sempre que possível e relevante, para identificar e denunciar possíveis ameaças à espécie e ao seu ecossistema, como, por exemplo, a presença de laços ou de iscos/carcaças envenenados.

Bruno Arrojado salientou que a iniciativa "tem uma vertente que não toca só no lobo, mas em toda a natureza".

Sem mitos

Lançada há cerca de seis meses, a plataforma — que junta os biólogos Francisco Álvares, Lemuel Silva e Sílvia Ribeiro e o informático Bruno Arrojado — tem como missão reunir informação científica e juntar a informação que existe, mas está dispersa, sobre o lobo em Portugal.

No sítio online é possível, por exemplo, observar mapas da evolução do lobo-ibérico ao longo do século XX, das alcateias confirmadas e prováveis em Portugal entre 2002 e 2019 e até de fojos visitáveis, as antigas armadilhadas usadas para capturar este animal, e ainda se pode recolher informação sobre a sua alimentação ou ameaças.

"A ideia é criar um espaço de informação correcta à volta do animal, sem mitos", afirmou Bruno Arrojado.

Paralelamente, segundo o responsável, a plataforma apoia acções de conservação do lobo no terreno, doando parte dos lucros da venda de produtos da sua loja online a projectos que promovem a coexistência como, por exemplo, os que apoiam os produtores pecuários a melhorar a protecção do gado.

A loja inclui artigos exclusivos e serviços alusivos ao lobo e ao seu ecossistema e produtos oriundos de regiões onde a espécie está presente, e dá prioridade a artistas nacionais e a produtores que adoptem boas práticas de coexistência com o lobo.

De acordo com o último censo nacional, realizado em 2002/2003, estima-se que existam cerca de 300 lobos em Portugal, distribuídos por um total de 63 alcateias e ocupando uma área de aproximadamente 20.400 quilómetros quadrados.

Os resultados do censo nacional realizado recentemente, que foi coordenado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ainda não são conhecidos.

A norte do rio Douro, o lobo encontra condições de sobrevivência mais favoráveis, com os principais redutos da espécie situados nas serras do Alto Minho e de Trás-os-Montes, em particular as abrangidas pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês e pelos parques naturais de Montesinho e do Alvão.