Estudantes sem habitação e um Governo sem noção

Devíamos ser a geração mais qualificada de sempre como afirmam que somos, e não uma sociedade onde jovens não prosseguem com os estudos por não conseguir pagar um quarto ou propinas.

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Megafone P3: Estudantes sem habitação e um Governo sem noção Paulo Pimenta
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Numa geração que devia estar cada vez mais desenvolvida e pronta para responder às necessidades dos jovens, vemos exactamente o contrário. Enquanto jovem que sou lamento saber que nos sujeitamos a estas situações (ou melhor, temos de nos sujeitar, pois quem devia dar-nos apoio, ou condições mínimas, não o faz, ou faz, construindo alojamento estudantil em zonas onde não existem instituições de ensino superior, a piada faz-se sozinha).

É triste saber que o nosso próprio país não nos dá as condições necessárias para podermos viver dignamente. Por este e outros motivos temos o desemprego e a emigração a aumentar, cenário preocupante por anular o desenvolvimento do país levando ao envelhecimento da população.

Este fenómeno tem vindo a aumentar a um ritmo muito acelerado – em 2001 o índice de envelhecimento encontrava-se nos 101,6%, enquanto, em 2022, o valor corresponde a 183,5%. A percentagem de pessoas com 65 anos ou mais é de 23,8% e também tem vindo a aumentar todos os anos de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O direito à habitação influencia muitos outros parâmetros da vida, inclusive o direito à educação. Temos um retrato muito explícito disso na actualidade: há mais de 10% dos alunos de licenciatura a desistir do ensino superior durante o primeiro ano (dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência); muitos apenas fazem o ensino obrigatório sem se candidatarem ao ensino superior, por falta de condições para tal, nomeadamente socioeconómicas.

Note-se que, além das propinas, para muitos é impossível pensar sequer em pagar um quarto a, no mínimo, 250 euros (muitas vezes com condições precárias), principalmente famílias mais vulneráveis com o ordenado mínimo.

E para somar a este problema existe outro porque já se sabe que um nunca vem sozinho: o facto de não existirem quartos disponíveis. Como se espera que os jovens estudem se a maioria não consegue encontrar alojamento?

O Governo deve ter nos planos construir novas faculdades em todos os concelhos do país para que os jovens possam ingressar no ensino superior continuando a morar em casa dos pais. Não é possível entender qual o plano que se pretende seguir para solucionar este problema — até agora, todas as soluções que apresentaram foram tudo menos soluções. Como referiu o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Caseiro, são medidas que a médio e longo prazo não resolvem o problema central.

Devíamos ser a geração mais qualificada de sempre como afirmam que somos e não uma sociedade onde jovens não prosseguem com os estudos por não conseguir pagar um quarto ou as propinas. É necessário e urgente uma melhor aposta na educação e na formação dos jovens. É crucial erradicar esta ideia de “mercadorização do ensino superior”, não podemos continuar com um Estado sem educação e um país sem direcção.

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