Congressista radical republicano pede destituição do líder da Câmara dos Representantes

Matt Gaetz apresentou uma moção para afastar Kevin McCarthy, do Partido Republicano, que acusa de ceder às exigências do Partido Democrata nas negociações para evitar o shutdown nos EUA.

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O futuro de Kevin McCarthy como líder da Câmara dos Representantes foi posto em causa EPA/SHAWN THEW
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O congressista Matt Gaetz, um dos líderes da ala mais radical do Partido Republicano, apresentou um pedido de destituição do presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, cumprindo uma ameaça feita nos últimos dias. A tentativa de afastamento do líder do Congresso dos EUA, algo que só aconteceu uma vez em mais de dois séculos, representa uma considerável subida de tom no embate no seio dos republicanos.

Menos de dois dias depois de ter sido anunciado um acordo para evitar uma paralisação do Governo federal dos EUA, a turbulência em Washington parece estar longe de cessar. Com acusações fortes contra McCarthy, Gaetz formalizou na segunda-feira à noite um pedido de destituição do presidente da Câmara dos Representantes, apenas oito meses depois de ter sido eleito.

“Está a tornar-se cada vez mais claro para quem é que o presidente da Câmara dos Representantes trabalha, e não é para a bancada republicana”, afirmou o congressista da Florida. Em causa está o acordo alcançado por McCarthy para impedir o shutdown do Governo federal norte-americano, que contou com o apoio do Partido Democrata.

Depois de semanas de negociações infrutíferas, no sábado, a poucas horas de terminar o prazo em que está em vigor o Orçamento de 2023, foi aprovada uma medida de financiamento temporário que permite a continuidade do funcionamento de inúmeros serviços e agências públicas federais.

A proposta orçamental deixou de fora a ajuda financeira, no valor de seis mil milhões de dólares (5,7 mil milhões de euros), para a Ucrânia e que é um dos principais pontos de divergência. A ala mais radical do Partido Republicana, ligada ao ex-Presidente e candidato às próximas eleições, Donald Trump, alega que os EUA devem gastar menos dinheiro num conflito longínquo e que pouco afecta a população norte-americana.

Na apresentação do pedido de destituição, Gaetz acusou McCarthy de ter feito um “acordo secreto” com a bancada democrata para garantir que o apoio à Ucrânia se mantinha através de legislação paralela. O presidente da Câmara dos Representantes garante que não houve qualquer negociação nesse sentido.

A ameaça de Gaetz e do sector mais radical do Partido Republicano sobre a liderança de McCarthy pendia praticamente desde que o congressista da Califórnia assumiu o cargo de speaker, no início do ano, um dos mais importantes na política norte-americana, não apenas pelo poder de dar andamento aos processos legislativos, mas por ser o segundo na linha de sucessão presidencial, atrás do vice-presidente.

Apesar de o partido dispor de uma maioria na Câmara dos Representantes, foram necessárias 15 rondas de votação para que McCarthy fosse eleito, algo apenas alcançado depois de terem sido feitas várias concessões à facção radical.

Uma delas foi precisamente a alteração do regulamento interno da Câmara dos Representantes para permitir que fosse suficiente que um único congressista pudesse apresentar uma moção de destituição do speaker a qualquer momento.

Depois de apresentar a sua moção, Gaetz disse aos jornalistas estar confiante de ter reunido votos suficientes para afastar McCarthy e que, “na próxima semana, uma de duas coisas terão acontecido”: “Kevin McCarthy não será speaker, ou irá continuar como speaker trabalhando à disposição dos democratas, e estarei em paz com qualquer um dos resultados, porque o povo americano merece saber quem é que os governa”, afirmou.

McCarthy não estava presente no Capitólio quando Gaetz apresentou o pedido de destituição, mas através da rede social X (conhecida anteriormente como Twitter) disse simplesmente “Bring it on”.

Não é ainda claro se a moção de Gaetz terá hipótese de afastar McCarthy. Só por uma vez em mais de 200 anos é que foi apresentada uma iniciativa de destituição do presidente da Câmara dos Representantes – em 1910 – e falhou.

Para que McCarthy seja afastado do cargo é apenas necessária uma maioria simples, o que significa, por exemplo, que basta que cinco republicanos se juntem a toda a bancada democrata para que a moção seja bem-sucedida.

Porém, segundo a imprensa norte-americana, há a hipótese de virem a ser os democratas a salvarem McCarthy de uma destituição histórica. Mas, para isso, será necessário que o speaker adopte uma postura de maior colaboração com a agenda da Casa Branca, algo que apenas irá aumentar a ira dos radicais dentro do Partido Republicano.

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