O “Chinagate” alemão: político da AfD acusado de ligações à China

O cabeça de lista do partido nacionalista alemão AfD às eleições para o Parlamento Europeu é suspeito de fomentar uma ligação com a China. Quão longe terá ido?

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Maximilian Krah é o cabeça de lista da Alternativa para a Alemanha às eleições europeias de 2024 DPA via Reuters Connect
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A Alternativa para a Alemanha já era o partido alemão mais favorável a algumas posições da China. Mas duas investigações de dois meios de comunicação social da Alemanha trouxeram revelações que vão além disso: o cabeça de lista da AfD às europeias, Maximilian Krah, é suspeito de ter fomentado ligações duvidosas do seu partido com a China. Há dinheiro envolvido, contactos com um potencial funcionário dos serviços secretos chineses, e lobby pró-China, dizem duas investigações, uma do portal de notícias T Online e outra o diário Süddeutsche Zeitung (SZ).

Krah já era conhecido pelas suas posições radicais mesmo dentro da AfD (é próximo de Bjorn Höcke, a face claramente extremista do partido), já tinha chamado a atenção por declarações pró-China – e também pela disponibilidade em ser entrevistado por media chineses, como pelo jornal chinês Global Times, segundo um artigo da DW (Deutsche Welle) anterior às alegações do chamado Chinagate.

Mas a acusação actual é mais forte do que apenas algumas “declarações favoráveis à China” ou “viagens duvidosas ao Oriente, incluindo a eventos do Partido Comunista”, segundo o artigo do portal de notícias. “Krah também é acusado de ter ajudado a construir uma rede de lobby para a China enquanto membro do Parlamento Europeu.”

O lobby teria tido como base uma associação fundada na Alemanha em 2019, chamada Nova Rota da Seda (o nome do mega projecto de infra-estruturas da China), que levou um grupo da AfD e de um político independente da cidade de Pirna a uma visita em que foram tratados como se fossem importantes líderes mundiais – houve estradas fechadas e pompa e circunstância, conta o SZ.

A viagem serviria para levar a investimento chinês a Pirna, algo que não se concretizou por falta de interesse da cidade - ainda, já que um dos convidados é um político independente que concorre pela AfD à chefia do município e promete avançar com cooperação coma China se for eleito.

A associação recebeu, ainda, 100 mil euros de um investidor chinês.

Jian G., que trabalha no gabinete de Krah no Parlamento Europeu, e outras pessoas que integram a associação Nova Rota da Seda estão a ser investigadas pelo Gabinete da Protecção da Constituição (BfV), a secreta interna da Alemanha, por poderem estar a agir para concretizar interesses do “Departamento Internacional do Comité Central do Partido Comunista Chinês (DICCPCC)” que é considerada pelo organismo alemão parte do aparelho dos serviços secretos chineses. Numa nota a políticos e funcionários do Estado, enviada pelo BfV em Julho, dizia-se que o DICCPCC procura “influenciar os processos de decisão no estrangeiro”, e aconselhava “cautela” com potenciais contactos, diz o T Online.

Também Maximilian Krah chamou a atenção do BfV pela proximidade com a China, diz o Süddeutsche Zeitung. O organismo vigia alguns organismos da AfD por serem extremistas, embora não o partido como um todo.

A ligação mais visível da AfD à China aconteceu com uma outra visita que incluiu a co-líder Alice Weidel, em Agosto. A Deutsche Welle faz uma ligação entre a declaração de Weidel de querer “manter aberta a linha de comunicação com Pequim” com a escolha de Maximilian Krah como o cabeça de lista às eleições europeias do próximo ano.

Krah sempre se distinguiu, enquanto membro da direcção da AfD, por defender relações mais próximas do partido supostamente anti-comunista com a China e pela “não-interferência” nas suas questões internas, incluindo os crimes que o regime comete em Xinjiang. O político chegou a declarar, em 2021, que sempre desconfiou das “histórias de terror sobre Xinjiang”, que lhe pareciam “propaganda anti-China sem factos”.

A proximidade da AfD com regimes autoritários não é nova. Os políticos do partido eram rotineiramente entrevistados em canais de propaganda como o RT (Russia Today), entretanto suspensos na União Europeia, dando uma imagem da Alemanha como um país mergulhado no caos, e uma delegação da AfD teve marcada uma visita ao Donbass – visita que acabou por cancelar na sequência de protestos até dentro do partido.

Como, aliás, as actividades de Krah em relação à China: em Abril de 2023, o então responsável da AfD no Parlamento Europeu, Nicolaus Fest, falava sobre os assistentes de Krah como Jian G, segundo o T Online. “Ninguém sabe o que ele faz, ninguém tem contactos com ele, ninguém pensa a sério que ele esteja lá para fazer avançar os objectivos da AfD.”

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