“Espero que a afirmação do râguebi em Portugal não fique por aqui”

João Mirra, técnico-adjunto da selecção portuguesa de râguebi, diz que os “lobos” estão “no caminho certo”, mas terão de continuar a “ser exigentes, com base no trabalho e na competência”.

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João Mirra acredita que Portugal ainda pode melhorar António Lamas
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É um dos braços direitos de Patrice Lagisquet na selecção nacional de râguebi e, no final do terceiro jogo de Portugal no Campeonato do Mundo, em entrevista ao PÚBLICO em Saint-Étienne, admitiu que o resultado dos “lobos” contra a Austrália voltou a ser “amargo”. João Mirra, técnico-adjunto da equipa portuguesa, considera que Portugal pode chegar “ainda mais perto” das grandes selecções mundiais, mas alerta que “para subir o nível”, é preciso “ir à procura da consistência”.

Contra a Austrália, Portugal voltou a superar as expectativas, mas qual foi o sentimento de jogadores e treinadores no final?
O resultado é amargo. Se nos dessem este resultado há uns meses, comprávamos cheios de orgulho. Sem sermos arrogantes – uma das coisas boas desta equipa foi nunca perder a humildade -, saímos insatisfeitos. Queríamos ter dado um passo em frente em relação ao jogo contra o País de Gales e talvez não o tenhamos dado. Os jogadores estão de parabéns, mas há momentos em que temos de melhorar. Não podemos falhar ensaios como falhamos contra estas potências. Isso coloca-nos em dificuldades para conseguirmos competir até ao fim. Mas, sobre o jogo, gostava de agradecer ao público que esteve no estádio. Foi arrepiante ver o estádio cheio e o que o público português tem feito. Espero que esta afirmação do râguebi em Portugal não fique por aqui.

Portugal terminou a partida com superioridade na posse de bola e no domínio territorial. Acreditava que isso fosse possível?
Seria hipócrita se dissesse que acreditava. Mas com o que produzimos, esperava ter acabado com mais pontos. São as dores de crescimento. Se queremos subir o nível, temos de ir à procura da consistência. E, consistência, é não precisar de três ou quatro oportunidades para marcar ensaio…

Foi isso que a Austrália fez quando jogou contra 14…
Sim, foi isso. Sabíamos que, por uma questão física, seriam difíceis de parar quando tivessem a posse de bola e, quando tiveram oportunidade, fizeram o que faz uma equipa grande: com um homem a mais, materializaram isso em pontos.

Houve muitas mudanças nos avançados. Fazia parte de um planeamento que definiram antes do início do Mundial?
Claramente. A base desse planeamento era confiarmos nos 33 jogadores convocados. Uma das principais evoluções desta equipa foi alargar a base de recrutamento e todos são opções válidas. Depois, há um planeamento que consideramos necessário para fazer a rotação durante o torneio. A rotação teve em conta a qualidade dos que têm jogado menos e a fadiga acumulada dos que estavam a ser mais utilizados.

Embora não o tivessem assumido, acreditavam que esta era uma oportunidade quase única de ganhar à Austrália?
Acho que o jogo reflectiu isso. Fomos competentes em algumas áreas e acabamos, como disse, com mais posse de bola, o que era impensável há umas semanas. Quisemos ser competitivos até ao fim, para pudermos ganhar. Acho que faltou subir esse patamar, em relação ao jogo do País de Gales. Voltámos a ser competitivos, mas sofremos ensaios que não devíamos ter sofrido – e não teve a ver com a qualidade da Austrália, mas por erros nossos. Eles tinham de trabalhar mais para nos marcarem aqueles ensaios. Sabíamos que era por ali que iam tentar. Depois, falhámos dois ensaios que foram revistos – fiz a promessa a mim mesmo que não comento arbitragens. O ensaio no final da primeira parte mantinha-nos dentro do jogo. Se calhar, estamos a ser ambiciosos de mais e a pedir de mais a nós próprios. Mas consideramos que estamos no caminho certo e que podemos continuar a ser exigentes, com base no trabalho e na competência.

Como vai ser contra Fiji? Podemos ser ambiciosos ou queremos continuar a ser competitivos?
Podemos ser realistas. Nunca vamos passar por cima destas equipas e ganhar à vontade…

Fiji contra a Geórgia não mostrou o mesmo nível dos jogos frente ao País de Gales e à Austrália…
Não estou a ver uma equipa como as Fiji a cometer o mesmo erro duas vezes seguidas. Eles têm staff muito competente e vão perceber que ficaram aquém do potencial e qualidade que têm. Mas o mais giro disto é que aqui não há atalhos: nós falhámos e sofremos. São grandes equipas que nunca precisam de muitas oportunidades. Terá de ser a nossa capacidade de mudar para conseguirmos chegar ao final do jogo a poder ganhar. Há momentos de dois para um e no jogo ao pé, mesmo contra adversários deste nível, que estão dentro do nosso controlo chegar lá. E dá para chegar ainda mais perto.

O râguebi português vai capitalizar o que tem conseguido neste Mundial?
Não sou a pessoa indicada para responder a essa pergunta. O que se pode contar de quem ficar, é que será mantido o compromisso e a exigência. Estamos a representar um país. Estamos a representar até quem não sabe o que é o râguebi. Essa consciência, até pelo contacto com os emigrantes em França, está bem presente nesta selecção. Sobre o futuro, não sou a pessoa indicada para responder…

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