Dactiloscrito de Julio Cortázar com sete textos inéditos vai a leilão no Uruguai

Descoberto numa biblioteca privada, o documento inclui sete narrativas breves que não integram nenhuma das edições de Histórias de Cronópios e de Famas.

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Um dactiloscrito original de Histórias de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar, com anotações manuscritas pelo autor e sete textos inéditos, foi descoberto numa biblioteca privada, após a morte do respectivo proprietário, e irá ser leiloado no próximo dia 12 em Montevideu, no Uruguai, pela empresa Zorrilla Subastas, que estima o valor da peça entre 15.600 e 21.000 dólares (sensivelmente de 15 a 20 mil euros).

A notícia foi dada pela agência France Presse, que cita um representante da leiloeira, Guillermo Gonzalez, segundo o qual o dactiloscrito foi encontrado em Montevideu na biblioteca de uma pessoa recentemente falecida. Estava conservado num estojo expressamente fabricado para garantir a sua conservação, mas não se encontrou qualquer registo da sua existência no catálogo da biblioteca.

Além do nome do autor e do título da obra, a primeira folha do manuscrito tem apenas a indicação “Paris, 1952”. O autor de Bestiário, ainda publicado na Argentina em 1951, exilara-se nesse mesmo ano na capital francesa, onde viveria até ao final da vida. As Histórias de Cronópios e de Famas – talvez não menos notáveis do que a sua monumental e labiríntica obra-prima Rayuela (editado em Portugal pela Cavalo de Ferro com o título O Jogo do Mundo) só vieram a ser publicadas uma década após a realização deste dactiloscrito, em 1962, pelas edições Minotauro, de Buenos Aires. Em Portugal, o livro foi publicado pela Estampa em 1973, com tradução de João Alfacinha da Silva (que usou o pseudónimo literário Alface), e a Cavalo de Ferro publicou recentemente uma nova edição, traduzida por Isabel Petermann.

O documento agora encontrado compõe-se de 46 relatos, 35 dos quais foram publicados, praticamente sem alterações, na primeira edição de Histórias de Cronópios e de Famas. Outros quatro viriam a sair posteriormente em diferentes publicações, mas restam sete que nenhum dos especialistas consultados pela leiloeira conseguiu rastrear na extensa bibliografia de Cortázar, muita dela póstuma.

“O maravilhoso tesouro de inéditos de Julio Cortázar”, escreve a leiloeira na descrição do lote, compõe-se dos seguintes títulos (que traduzimos para português): Carta de Um Fama a Outro Fama; Borboletas Automáticas; As Viagens e os Sonhos; Diminuto Unicórnio; Raiva de Espelho; e Rei do Mar.

Os preparativos para esta venda em leilão exigiram cerca de um ano, garantiu Guillermo Gonzalez, e passaram pela consulta de dois especialistas em Cortázar: o poeta e ensaísta uruguaio Aldo Mazzucchelli e o livreiro Lucio Aquilanti, de Buenos Aires, grande coleccionador de edições do escritor argentino e autor de Todo Cortázar (2104), uma bio-bibliografia que procura reunir todos os textos publicados pelo Cronópio Maior, como por vezes chamavam a Cortazár após a publicação das suas histórias de um mundo que se divide em “cronópios”, criaturas idealistas, sensíveis e distraídas, “famas”, seres rígidos, organizados e pomposos (e ainda “esperanças”, gente simples, ignorante e um tanto maçadora).

“Pode-se afirmar sem nenhuma dúvida que se trata de um original dactilografado do autor, de uma extraordinária transcendência”, afirma Aquilanti. Num texto dedicado a este “formidável achado” que escreveu para a revista Hilario, intitulado “Nada mais cronópio do que um cronópio inédito”, o livreiro garante ainda que Cortázar usou a mesma máquina de escrever na qual dactilografou vários outros textos, e que terá mantido até 1966.

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