Muitos jovens querem ser influencers. Agora, há um curso para isso na Irlanda

O curso inclui gestão de crise, relações públicas, estudos de celebridades, psicologia social e edição de áudio e vídeo. Arranca em 2024 na Irlanda.

Foto
Muitos jovens querem ser influencers. Agora, há um curso para isso na Irlanda Liza Summer
Ouça este artigo
00:00
05:48

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Da próxima vez que estiveres preocupado com jovens a passarem muito tempo no TikTok, pensa que eles podem estar a estudar para os exames.

A partir do próximo ano, uma universidade na Irlanda vai oferecer um curso de influencing, que inclui gestão de crise, relações públicas, estudos de celebridades, psicologia social e edição de áudio e vídeo. Dezenas de estudantes vão juntar-se ao curso que arranca em 2024, à procura de uma vantagem numa profissão que pode ser lucrativa se for bem-sucedida, mas que, ainda assim, é volátil.

Irene McCormick, professora na South East Technological University (SETU), em Carlow, na Irlanda, que co-fundou o curso, disse ao Washington Post que ainda que cursos mais curtos tenham sido oferecidos anteriormente, esta é provavelmente a primeira universidade do mundo a ter um curso especificamente desenhado para a economia de influencers.

A Harvard Business Review estima que o valor do mercado global dos influencers, no ano passado, se fixe nos 16,4 mil milhões de dólares, e sugere que este crescimento deve continuar em 2023, à medida que as empresas vão dedicando partes maiores dos seus orçamentos às parcerias com influencers. E entre a geração Z, a profissão é particularmente atractiva. Segundo o Planet Money, da NPR, de acordou com um inquérito, um em cada quatro jovens da geração Z aspira ter esse trabalho. Ainda assim, os académicos levantam preocupações sobre a viabilidade deste curso nos próximos anos, dada a natureza mutável das redes sociais.

O curso de Criação de Conteúdos e Redes Sociais da SETU não se materializou do dia para a noite. A semente foi plantada em 2019, quando McCormick chegou a casa depois do primeiro dia de aulas e descobriu, através da filha, que uma das suas alunas, Lauren Whelan, era uma “uma estrela do TikTok, com seguidores de todo o mundo”.

A reacção apaixonada da sua filha em relação à presença de Whelan nas aulas da mãe fez com que McCormick percebesse a importância que os influencers têm nas gerações mais novas.

Isto levou à criação de um programa de Verão, o Digital Hustle, para adolescentes interessados em aprender como se tornarem influencers, referiu McCormick. Durante dois anos, o programa de Verão convidou estrelas do TikTok e teóricos de media para ensinar os jovens alunos a construir uma marca pessoal.

Apesar da estranheza inicial, “o curso não foi difícil de vender”, disse McCormick ao Post. “Sabíamos que havia espaço e necessidade para isso, só precisávamos de transformar o programa num curso e ratificá-lo.”

Alguns especialistas apontaram que a procura dos jovens por profissões que não se insiram no tradicional trabalho das 9 às 17 horas cresceu desde a pandemia.

“Agora, mais do que nunca, toda a gente quer manter algum aparente controlo sobre as suas vidas. E uma carreira de influencer promete uma carreira de empreendedorismo independente”, apontou Brooke Erin Duffy, professora de comunicação na Cornell University. “Toda a gente quer trabalhar de forma remota. Toda a gente quer fazer o seu próprio horário.”

A natureza do trabalho também tem vindo a mudar de forma rápida, requerendo mais conhecimento especializado, em vez de uma vasta educação em temas não relacionados.

“Os programas dos cursos tornaram-se hiperespecializados, porque o trabalho tornou-se mais especializado”, referiu Dawn Lerman, professor do departamento de marketing na Fordham Graduate School of Business. “À medida que as sociedades se tornam mais complexas, também as nossas ferramentas o fazem, graças à tecnologia.”

Historicamente, as universidades preparam os alunos para carreiras, não para empregos. “As empresas e organizações, hoje em dia, contratam estudantes que estão prontos para trabalhos específicos no primeiro dia”, apontou Lerman. “E isso requer um tipo específico de ensino.”

Até certo ponto, o curso da SETU oferece valências semelhantes ao de um curso de marketing digital. No entanto, o programa único da SETU pode encorajar os alunos a serem “aguerridos e empreendedores”, defendeu Duffy.

O novo curso da SETU também chega numa altura em que as “plataformas estão a desafiar o mito de que as carreiras de influencer são um sonho com condições espectaculares”.

A realidade pode ser menos glamorosa. Os influencers com quem Duffy falou alertam para as constantes batalhas com os algoritmos que mudam frequentemente, plataformas que mudam do dia para a noite, assédio por parte dos seguidores e injustiças em termos de compensação de trabalho, afirmou.

Ainda que alguém consiga chegar ao topo, pode haver um estigma à volta desse sucesso.

“O mundo dos influencers é altamente feminino e qualquer campo feminino vai ser denegrido ou relegado para um status inferior”, lamentou, sem esquecer que áreas como programação ou marketing social, inicialmente ocupados por mulheres, eram desvalorizados nos seus primórdios.

“Essas áreas foram historicamente ocupadas por mulheres e, em alguns casos, pessoas não brancas”, disse. “À medida que mais homens entraram nesses espaços, são vistos como mais valiosos.”

As indústrias criativas sempre foram voláteis, mas a indústria dos influencers enfrenta desafios únicos porque os algoritmos mudam abruptamente algumas ferramentas, como reels ou pequenos vídeos, que se podem tornar irrelevantes rapidamente. Ou as plataformas podem desaparecer completamente. Traduzir o sucesso no Youtube para o TikTok, Vine ou Instagram não é tarefa fácil.

“O nível de incerteza e precariedade nas plataformas pode fazer com que muitos cursos que se baseiam nas plataformas deixem de fazer sentido muito rapidamente”, apontou Duffy. “Qualquer programa que se queira vender como um espaço para aprender sobre a indústria vai ter mesmo de se focar em conceitos de mais qualidade.”

McCormick concorda que o mercado do influencing está a mudar rapidamente, e que “não é como outros aspectos do panorama dos media, que tem cursos há décadas e, por isso, equipas muito qualificadas”.

No próximo ano, a SETU vai receber 40 alunos, mas McCormick ainda não tem a certeza de quantos mais vão tentar entrar. Se a abundância de interessados nos programas de Verão puder servir como uma estimativa, referiu, vão ter de dispensar aspirantes a influencer.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários