À entrada do tribunal, Trump diz que as suas declarações financeiras são “fenomenais”
O ex-Presidente dos EUA começa a ser julgado num caso em que é acusado de ter defraudado bancos e seguradoras para aumentar o valor do seu património e da sua fortuna.
O ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, compareceu em tribunal esta segunda-feira para a primeira sessão do julgamento em que responde pela acusação de fraude bancária.
À entrada para o julgamento que decorre num tribunal de Nova Iorque, Trump voltou a desacreditar os casos movidos contra si, dizendo não passarem de uma “caça às bruxas”. O ex-Presidente, que lidera as sondagens para as primárias republicanas, ainda injuriou a procuradora-geral do estado nova-iorquino, Letitia James, a quem chamou de “racista” (James é negra). “As minhas declarações financeiras são fenomenais”, acrescentou.
Nas alegações iniciais, os advogados da procuradoria-geral de Nova Iorque afirmaram que os documentos falseados por Trump e pelos seus sócios renderam-lhe mais de mil milhões de dólares ao longo da última década. "Isto não é business as usual e esta não é a forma como partes sofisticadas lidam umas com as outras", disse o advogado Kevin Wallace, citado pela Reuters, sublinhando que o magnata apresentou a sua fortuna e o seu património ao longo dos anos de uma "forma materialmente incorrecta".
A defesa de Trump rejeitou todos os argumentos apresentados pela procuradoria estadual, garantindo que todos os procedimentos em causa foram realizados de forma legal. "Não houve intenção de enganar, não houve ilegalidade, não houve falha, não houve quebra, não houve dependência dos bancos, não houve lucros injustos, e não houve vítimas", afirmou o advogado Christopher Kise, nas suas alegações iniciais.
Na sua intervenção, Kise apresentou a Trump Organization como "uma das marcas mais bem-sucedidas do mundo" e sustentou que Trump enriqueceu "ao estar literalmente sempre certo acerca dos seus investimentos em imobiliário".
O julgamento deverá durar até Dezembro e ainda que seja de natureza civil, não havendo, por isso, risco de prisão, poderá ser decisivo para o futuro do império empresarial construído por Trump ao longo de décadas. Um dos efeitos mais imediatos poderá ser a perda do controlo de algumas das propriedades imobiliárias mais icónicas e lucrativas que Trump possui em Manhattan, incluindo a Trump Tower.
Na sexta-feira, um tribunal de recurso tinha rejeitado o pedido da defesa de Trump para adiar o início do julgamento, confirmando a data inicialmente apresentada pelo juiz Arthur Engoron, responsável pelo caso.
O ex-Presidente norte-americano é acusado de ter prestado informações falsas ao longo de quase uma década que indicavam um património pessoal significativamente mais valioso do que era na realidade. O objectivo último da manipulação das declarações era a obtenção de condições para empréstimos bancários e prémios de seguros, tanto para si como para as empresas que dirigia.
Entre os exemplos apresentados no processo está a informação prestada por Trump de que o seu apartamento principal em Manhattan teria o triplo da área real. A procuradora também incluiu a avaliação feita pelo ex-Presidente do seu resort de Mar-a-Lago, na Florida, no valor de 739 milhões de dólares (704 milhões de euros), embora informações da escritura da propriedade apresentem um tecto de 28 milhões de dólares (26 milhões de euros).
Na semana passada, Engoron determinou a culpabilidade de Trump pelo crime de fraude que aumentou a sua fortuna em cerca de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros) através de várias declarações e outros documentos entre 2011 e 2021. As acusações estendem-se aos filhos do ex-Presidente, Donald Jr. e Eric, bem como a outros executivos da Trump Organization.
O julgamento irá determinar se Trump e os restantes acusados irão pagar uma multa que pode ascender a 250 milhões de dólares (237 milhões de euros), tal como foi pedido pela procuradora-geral de Nova Iorque. Além disso, James quer que Trump e os restantes implicados fiquem impedidos permanentemente de terem negócios no estado de Nova Iorque, para além de uma suspensão durante cinco anos para a realização de negócios no sector imobiliário para toda a Trump Organization.
Este julgamento não interfere com os restantes casos criminais que foram abertos contra Trump e pelos quais será julgado no próximo ano, ao mesmo tempo em que decorrem as primárias do Partido Republicano. O ex-Presidente responde por 91 crimes em quatro processos diferentes.
No estado da Georgia, é acusado de tentar subverter os resultados das eleições presidenciais de 2020, ganhas pelo democrata Joe Biden. A nível federal, é igualmente acusado de subverter os resultados eleitorais e de ter promovido a invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, para além de um outro caso relacionado com a posse ilegal de documentos confidenciais após o fim do seu mandato.
Em Nova Iorque, Trump responde por vários crimes relacionados com a falsificação de registos comerciais, num caso ligado ao pagamento de um suborno a uma antiga actriz de filmes para adultos durante a campanha eleitoral de 2016.