Nobel da Paz pode premiar activistas pelos direitos das mulheres, dos indígenas ou pelo clima
O Prémio Nobel da Paz será anunciado no dia 6 de Outubro. Entre os possíveis candidatos encontram-se Zelenski e Navalny, mas há especialistas que avançam que a nomeação pode surpreender.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o dissidente russo Alexei Navalny estão entre os favoritos para o Prémio Nobel da Paz este ano. Contudo, há outros especialistas que avançam com a possibilidade de o prémio cair nas mãos de activistas pelos direitos das mulheres, povos indígenas e ambiente. Estas hipóteses estão a desviar as previsões.
Tendo em conta experiências passadas, o Comité Nobel Norueguês deverá, como é habitual, anunciar esta sexta-feira um vencedor do Prémio Nobel da Paz que pode até nem sequer constar na lista da “casa de apostas” que se gera anualmente. Apesar de vários especialistas “colocarem as suas fichas” em Zelensky como um dos principais candidatos a juntar-se à ilustre lista de laureados, de Nelson Mandela a Martin Luther King, há outros que argumentam que, como líder em tempo de guerra, é pouco provável que o Presidente ucraniano seja nomeado.
As possibilidades de Alexei Navalny, que neste momento se encontra preso, parecem ser ainda mais reduzidas, pois dissidentes russos foram já laureados no ano passado e em 2021.
O terceiro favorito das agências de apostas é o activista uigur Ilham Tohti, que também se encontra preso. No entanto, esta nomeação enfureceria a China. Já quando o dissidente Liu Xiaobo ganhou o Nobel da Paz, Pequim suspendeu relações diplomáticas com Oslo durante seis anos.
Henrik Urdal, director do Instituto de Investigação para a Paz, em Oslo, afirmou que, no ano em que se comemora o 75.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a comissão poderá decidir destacar a contribuição dos activistas para a paz. Para Urdal, um prémio atribuído a Tohti, ou a outro activista na China, seria uma forma de chamar a atenção para o regime cada vez mais autoritário de Pequim.
O director do Instituto de Investigação para a Paz, em Oslo, destacou o trabalho de Narges Mohammadi, do Irão, que faz campanha pelos direitos das mulheres e contra a pena de morte e que se encontra actualmente na prisão. Realçou também Mahbouba Seraj, do Afeganistão, que, apesar de ter sido proibida pelos taliban no poder, continua a fazer campanha pelos direitos das raparigas à educação e por outros direitos das mulheres e permanece em Cabul.
“Penso que os candidatos mais prováveis seriam os defensores dos direitos humanos”, afirmou Urdal à Reuters.
Paz em desintegração
Milhares de pessoas podem propor candidatos, incluindo anteriores laureados, membros de parlamentos, professores universitários de História e Direito. As nomeações são secretas durante 50 anos, mas quem as atribui pode revelar as suas escolhas.
O prémio do ano passado, visto por muitos como uma repreensão ao Presidente Russo, Vladimir Putin, foi atribuído ao activista bielorrusso preso Ales Bialiatski, ao grupo de direitos russos Memorial e ao Centro de Liberdades Civis da Ucrânia.
O corpo de decisão do Nobel pode também dar destaque às alterações climáticas. O tema foi abordado pela última vez em 2007 com a atribuição do prémio ao Painel Intergovernamental pelas Alterações Climáticas e ao antigo presidente dos Estados Unidos da América, Al Gore.
“Este é um período de desintegração da paz. Ao mesmo tempo, é também uma altura em que a pressão da crise ecológica maciça está a exercer o seu peso sobre nós”, avança Dan Smith, director do Instituto de Investigação para a Paz, em Estocolmo, à Reuters. “Claramente, em algumas circunstâncias, as alterações climáticas levam a um aumento dos conflitos”, atira.
Smith aponta o movimento Fridays for Future, iniciado por Greta Thunberg, como um dos candidatos, assim como o líder indígena Raoni Metuktire do povo caiapó, no Brasil, que há décadas faz campanha para proteger a floresta amazónica. “O envolvimento dos indígenas na protecção do ambiente vai ser fundamental para as nossas perspectivas de sobreviver à crise actual”, frisa Smith em declarações à Reuters.
Henrik Urdal concorda que os direitos dos povos indígenas podem ser o foco. Destaca Victoria Taulli-Corpuz, das Filipinas, anterior Relatora Especial das Nações Unidas para os Direitos dos Povos Indígenas, e o líder indígena equatoriano Juan Carlos Jintiach.
Outros potenciais laureados incluem organismos internacionais como o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), a Agência de Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), o seu fundo dedicado às crianças UNICEF, ou o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).