Acção climática: Wopke Hoekstra com tarefa difícil para convencer eurodeputados

Audição do candidato holandês ao cargo de comissário da Acção Climática decorre nesta segunda-feira no Parlamento Europeu. A aprovação está longe de garantida.

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Antes de se dedicar à política, Hoekstra foi quadro da petrolífera multinacional Shell e sócio da consultora McKinsey EPA/Bart Maat
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Wopke Hoekstra, o ex-ministro holandês dos Negócios Estrangeiros que foi nomeado pelo Governo de Haia para ocupar um lugar na Comissão Europeia, terá de se esforçar para ultrapassar as resistências dos eurodeputados e convencer os legisladores das comissões de Ambiente e Indústria do Parlamento Europeu de que é o homem certo para conduzir a pasta da Acção Climática que lhe foi atribuída pela presidente do executivo comunitário.

“O senhor Hoekstra terá direito a uma audição justa, como qualquer outro candidato. O nosso apoio vai depender das suas respostas e dos seus argumentos: tendo em conta o seu historial, ele terá muitas explicações a dar, do seu tempo na Shell e das suas opiniões sobre perdas e danos ou sobre as novas metas de redução de emissões até 2040, entre outras matérias”, antecipou o eurodeputado alemão Tiemo Wõlken, do grupo dos Socialistas & Democratas.

A bancada de centro-esquerda ainda não decidiu o sentido de voto, tal como os Verdes, que definiram um conjunto de critérios para avaliar a prestação de Hoekstra durante a audição, nomeadamente o seu compromisso com o Pacto Verde em todas as suas vertentes, incluindo o de protecção e restauro da natureza e eliminação do uso de combustíveis fósseis ou a garantia de que respeitará a informação científica na definição de novas metas e políticas de redução de emissões.

Será o homem certo no lugar certo?

Para já, Hoekstra só tem como certo o apoio da bancada democrata-cristã que integra o partido de centro-direita CDA, de que é presidente. Com a aproximação das eleições europeias, o grupo do Partido Popular Europeu começou a reclamar dos alegados constrangimentos da nova regulamentação para promover a neutralidade climática ou ainda da velocidade de Bruxelas na execução da sua agenda de transição energética. Uma posição que, curiosamente, choca com a opinião do Banco Central Europeu, do Banco Europeu de Investimento e da Agência Internacional de Energia, que numa conferência em Paris, na sexta-feira, defenderam uma aceleração, e não uma pausa, nos investimentos para um futuro mais sustentável.

“Esta nomeação está longe de estar garantida”, comentou Pascal Canfin, que preside à comissão de Ambiente do Parlamento Europeu. Lembrando que o holandês precisa de obter uma maioria de dois terços de votos a favor para ser confirmado no cargo, o francês do grupo liberal Renovar a Europa disse: Hoekstra “vai ter de trabalhar bastante para nos persuadir de que é o homem certo no lugar certo”.

As expressões de desagrado e as dúvidas quanto à adequação de Wopke Hoekstra para o cargo não vêm só dos quadrantes políticos mais à esquerda no Parlamento Europeu. Fora do palco da política, várias organizações não governamentais e grupos de interesse das áreas da ecologia e ambiente mobilizaram-se na oposição à confirmação do holandês: uma petição online, que já reuniu mais de 103 mil assinaturas, contesta a “entrega da política climática da UE a um antigo funcionário da Shell com um historial de pôr o lucro à frente do planeta”.

Os signatários pedem aos membros do Parlamento Europeu para agir em defesa da “integridade da acção contra as alterações climáticas” da UE e também de uma “política livre de ligações [ao sector] dos combustíveis fósseis”, rejeitando a nomeação de Wopke Hoekstra. “Esta é uma nomeação perigosa. Precisamos de um campeão do clima para liderar a transição ecológica da UE e não de um antigo funcionário da Shell que defende políticas em conflito com as soluções de que precisamos”, entendem os signatários.

Um trunfo importante para a COP28?

A “entrada” de Hoekstra na Comissão Europeia deve-se à demissão do seu compatriota Frans Timmermans do executivo comunitário, após anos em Bruxelas. O socialista de 62 anos, que no mandato de Von der Leyen ascendeu a vice-presidente executivo, assumindo a responsabilidade pela pasta do clima e do Pacto Verde Europeu, lidera uma candidatura conjunta do seu Partido Trabalhista e dos Verdes às eleições legislativas do próximo dia 22 de Novembro, nos Países Baixos.

A votação foi precipitada pelo colapso do quarto governo de coligação liderado pelo liberal Mark Rutte — Hoekstra participou nos últimos dois executivos, primeiro como ministro das Finanças e depois dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro. Em Julho, tal como Rutte, disse que não concorreria às eleições, descrevendo-se mais como “um gestor” do que como “um político profissional”. Antes de se dedicar à política, Hoekstra foi quadro da petrolífera multinacional Shell e sócio da consultora McKinsey.

Com a saída de Timmermans, a presidente da Comissão Europeia procedeu a uma reorganização dos pelouros atribuídos a cada comissário. A supervisão do Pacto Verde foi entregue ao eslovaco Maros Sefcovic, o socialista mais veterano na hierarquia do colégio de comissários (e que será ouvido pela comissão de Ambiente do PE nesta terça-feira).

E, depois de uma primeira entrevista com Wopke Hoekstra, a líder do executivo comunitário decidiu manter a pasta da Acção Climática nas mãos do representante dos Países Baixos: Ursula von der Leyen salientou a sua “relevante experiência governativa”, que considerou um “trunfo importante” para a diplomacia climática da UE na COP28.

Na sequência do anúncio, Von der Leyen recebeu uma carta do Green10, um grupo que reúne as dez maiores ONG ambientais e de defesa da natureza, a manifestar a sua “profunda preocupação” pela atribuição da pasta da Acção Climática a Hoekstra.

“Estamos muito cépticos sobre que possua as credenciais e a experiência certa para liderar este portfólio que é de importância crítica”, dizem, criticando a sua “falta de conhecimentos especializados sobre política climática” e lembrando algumas decisões controversas que tomou enquanto ministro, como por exemplo a concessão de um apoio de 3,4 mil milhões de euros à companhia de aviação KLM ou a oposição ao cumprimento das metas nacionais de redução das emissões de azoto, em violação das obrigações europeias de protecção da natureza.