Sánchez promete trabalhar para um “governo de quatro anos” (sem falar da amnistia)
Socialistas acreditam que os espanhóis vão aceitar o perdão negociado com os independentistas catalães como “uma ferramenta política” para alcançar a convivência entre Madrid e Barcelona.
“Uma investidura real” para “mais quatro anos de governo progressista” foi a promessa deixada este sábado por Pedro Sánchez. Menos de 24 horas depois do fim da investidura falhada de Alberto Núñez Feijoo, o presidente do executivo em funções enumerou até alguns dos compromissos que pretende assumir no seu debate de investidura, confiante de que será rapidamente indigitado pelo rei para formar governo.
Num comício que juntou mais de 3000 apoiantes em Sevilha, o líder socialista assegurou que vai levar ao Parlamento o projecto da Lei da Paridade, fazer da habitação “a grande causa nacional” da legislatura ou garantir que o salário mínimo corresponda sempre a “60% do salário médio” em Espanha.
Sánchez falou do futuro, falou das “mentiras” de Feijóo na sua “investidura postiça” e da “convivência” que resulta do “diálogo impulsionado” nos últimos anos, sem nunca pronunciar a palavra que há semanas domina o debate político.
A amnistia – aos envolvidos no referendo independentista organizado em 2017 na Catalunha – “não é um problema prioritário da rua, ao contrário da inflação e dos preços e das taxas de juro”, defendem autarcas e responsáveis regionais do PSOE ouvidos pelo diário El País. Os mesmos que admitem “estar na expectativa para conhecer os pormenores do acordo com a ERC [Esquerda Republicana da Catalunha] e o Junts”, os dois partidos catalães com que a direcção socialista negoceia para contar com o seu apoio a Sánchez.
A estratégia socialista passa precisamente por não usar a palavra tabu – tem-se falado em plano para “desjudicializar” o conflito entre o Estado e a Catalunha – e insistir, em vez disso, nos “apelos à convivência e ao diálogo”, nota o El País. Uma ideia que deverá ser insistentemente repetida. E quando se apresentar ao Congresso como candidato, Sánchez planeia “defender a amnistia como uma ferramenta política para a convivência e não uma emenda à justiça”, escreve o jornal digital elDiario.es.
“Tomámos as rédeas deste país em 2019, com uma sociedade traumatizada por uma crise institucional e constitucional como não se tinha vivido em 40 anos”, notou o primeiro-ministro numa conferência de imprensa, antes do debate de investidura do líder da direita. “A cidadania disse sim à política do reencontro com decisões arriscadas e, às vezes, até incompreendidas”, defendeu, lembrando o fim do crime de sedição que beneficiou os políticos catalães já condenados, e, principalmente, os indultos aos dirigentes que ainda cumpriam pena por “sedição” e “desobediência”. O compromisso de Sánchez é "ser coerente" com a sua "política de normalização na Catalunha".
Apesar de manifestarem o seu “desconforto”, tanto o PSOE como os seus aliados da plataforma de esquerdas Sumar continuam a desvalorizar a resolução aprovada na sexta-feira pelo parlamento catalão exigindo a Sánchez que se comprometa a “trabalhar para tornar efectivas as condições para a realização do referendo” de autodeterminação. Responsáveis da direcção socialista ouvidos pelo elDiario.es falam numa “resolução do Parlament onde temos visto estes anos resoluções de todos o tipo - a negociação está noutro lugar”.