Kosovo: EUA preocupados com mobilização militar “sem precedentes” da Sérvia

Autoridades kosovares investigam ligações russas aos homens envolvidos num dos mais graves confrontos desde que o Kosovo declarou a independência da Sérvia, em 2008.

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Polícia kosovar depois dos confrontos do último domingo em Banjska Reuters/OGNEN TEOFILOVSKI/Reuters
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Uma semana depois da batalha que atestou a gravidade das tensões actuais entre o Kosovo e a Sérvia, Washington denunciou uma mobilização “sem precedentes” de tropas e blindados sérvios ao longo da fronteira com o Kosovo, pedindo a Belgrado uma retirada imediata.

“Os desenvolvimentos da última semana são muito desestabilizadores”, afirmou o porta-voz da Casa Branca para a Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby. Donika Emini, directora da aliança de organizações não-governamentais kosovar CiviKos Platform, nota que “esta reacção da Casa Branca parece semelhante aos avisos feitos antes das tropas russas entrarem na Ucrânia”, em Fevereiro do ano passado. Isso indica que “o conflito é inevitável”, defendeu Emini, em declarações ao diário britânico The Guardian.

Já na sexta-feira, disse Kirby, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, telefonou ao Presidente sérvio, Aleksander Vuvic, instando-o a “travar de imediato a escalada e a regressar ao diálogo”. O ataque de homens “fortemente armados” na localiade de Banjska​, no Norte do Kosovo, seguiu-se ao anúncio de paralisação nas conversações promovidas pela União Europeia para tentar normalizar as relações entre os dois países.

Vuvic admite um reforço na fronteira, mas nega a dimensão e diz que "o número de tropas não é nem metade" do que acontecia "há dois ou três meses".

Nas últimas horas, Milan Radoicic, vice-presidente da Lista Sérvia, um partido que representa a minoria sérvia no Norte do Kosovo, admitiu a responsabilidade pelo tiroteio do fim-de-semana passado, afirmando que organizou a alegada operação de “defesa” contra as autoridades kosovares e garantindo que nem o seu partido nem Belgrado tinham conhecimento dos seus planos. Radoicic demitiu-se do partido e afirmou estar “pronto” para responder às autoridades sérvias.

O confronto do último domingo começou quando homens “com armas pesadas” dispararam contra uma patrulha da polícia kosovar perto da fronteira, matando um agente. O mesmo grupo atacou depois um mosteiro ortodoxo e ali se manteve entrincheirado durante horas até à batalha que terminou com a morte de três atacantes e a detenção de dez. “Recuperámos o controlo desta zona, depois de várias batalhas”, afirmou então o ministro do Interior do Kosovo.

Armas russas?

No interior do mosteiro, segundo Xhelal Sveçla, foi encontrado “um arsenal excepcionalmente grande, explosivos, uniformes, logística, alimentos e equipamentos para barricadas, que eram suficientes para centenas de atacantes”. “Estavam preparados para ameaçar a soberania do Kosovo”, garantiu o ministro, acusando o Governo de Belgrado de estar por trás do ataque.

Ouvido pela Associated Press, Sveçla disse ainda que “há provas” de que algum deste equipamento tenha origem na Rússia e que foram encontrados “documentos que fazem suspeitar de que alguns indivíduos [envolvidos no ataque] venham também da Rússia”.

Em resposta, a Sérvia declarou um dia de luto pelos três kosovares sérvios mortos e o Presidente Vuvic afirmou, falsamente, que os confrontos resultaram de uma campanha de “brutal limpeza étnica” das forças kosovares contra a etnia sérvia.

A independência do Kosovo da Sérvia, em 2008, foi reconhecida por 101 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, incluindo quase todos os países membros da União Europeia, mas a maioria dos kosovares de etnia sérvia recusaram fazê-lo, assim como a Sérvia, com o apoio da Rússia.

As tensões na província de Mitrovica vêm de Abril, quando a comunidade sérvia – mais de 90% da população kosovar é albanesa, mas no Norte os sérvios são a maioria – boicotou as eleições locais. Com uma participação de menos de 4%, foram eleitos autarcas da minoria albanesa: os sérvios organização então protestos para tentar impedir que tomassem posse, dizendo que se sentiram provocados pela forte presença policial e pela retirada das bandeiras sérvias e a sua substituição por bandeiras do Kosovo nos edifícios municipais.

Em Maio, 30 militares da missão da NATO (Kfor) ficaram feridos quando tentavam impedir a invasão de um edifício por parte de centenas de manifestantes da minoria sérvia, ao mesmo tempo que as patrulhas da missão civil da UE eram alvo de ataques.

Na altura, a força da Aliança Atlântica mobilizada na região desde o fim da guerra de 1999 foi reforçada com 500 militares turcos (substituídos, entretanto, por búlgaros e gregos); esta semana, em resposta à “situação actual”, o Reino Unido enviou tropas e a Administração de Joe Biden disse estar em consultas com os aliados para assegurar que a postura da Kfor “está ao nível da ameaça”. Entre 1998 e 1999, a guerra no Kosovo fez mais de 10 mil mortos e deixou um milhão de pessoas sem casa.

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