D. Américo Aguiar é este sábado criado cardeal. Portugal passa a somar quatro eleitores do futuro Papa
Bispo auxiliar de Lisboa destaca-se por ser o segundo membro mais jovem do colégio cardinalício. Aos 49 anos, está prestes também a sentar-se na cadeira de bispo de Setúbal.
D. Américo Aguiar jura a pés juntos que foi apanhado de surpresa quando, no dia 9 de Julho, o Papa Francisco incluiu o seu nome na lista dos que seriam elevados a cardeais, no consistório marcado para este sábado. “Estas nomeações não são pré-comunicadas pelo Papa Francisco”, explicou na altura, para, no seu habitual tom coloquial, acrescentar que só sonha ser cardeal “quem não tiver juízo”.
Com esta nomeação do responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa, Portugal passa a ter quatro cardeais eleitores num futuro conclave (encontro cardinalício para eleição do novo Papa). Junta-se assim a D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa, D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, e D. José Tolentino Mendonça, actual prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação – os outros dois cardeais portugueses, D. José Saraiva Martins, e D. Manuel Monteiro de Castro, já têm mais do que 80 anos de idade, tendo por isso perdido o direito de voto.
Considerando que a figura do Papa costuma emergir do colégio de cardeais eleitores, a elevação de D. Américo Aguiar a cardeal significa (em tese, pelo menos) que Portugal passa a ter quatro figuras com hipóteses reforçadas de serem eleitas para a liderança da Igreja Católica, uma instituição que soma mais de mil milhões de fiéis em todo o mundo. Mas só a mera possibilidade de ajudar a escolher o futuro Papa é, como declarou D. Américo Aguiar citado pela agência Lusa, “uma experiência única na vida de qualquer pessoa”.
“Estar do lado de lá da chaminé, do lado de lá do fumo, naquilo que são os filmes e as leituras que a gente faz”, descreveu, dizendo esperar que tal encontro não seja necessário durante muitos anos, porque a Igreja está “muito bem servida” com Francisco.
Com 49 anos de idade, e à beira de se tornar o segundo membro mais jovem do colégio cardinalício, D. Américo Aguiar, que costuma dizer que descobriu a sua vocação nos escuteiros, onde foi parar por influência dos sobrinhos do Pato Donald, tem vindo a ascender na hierarquia católica a uma velocidade que se diria meteórica. Aliás, quando o anúncio foi feito, especulou-se que a elevação a cardeal poderia significar que o também organizador da JMJ poderia suceder a D. Manuel Clemente, como patriarca de Lisboa, ou ocupar um cargo elevado na Cúria Romana.
Escolhido para ser bispo de Setúbal
O que não veio a confirmar-se. No dia 21, o Vaticano anunciou que D. Américo Aguiar era o escolhido para ocupar a cadeira de bispo de Setúbal que se encontrava vazia há quase dois anos, desde que o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, transitara para a diocese de Leiria-Fátima.
Uma desilusão? Américo Aguiar garante que não. “Sou um fazedor e parto para Setúbal de mangas arregaçadas”, declarou, quando questionado pelos jornalistas que foram naquele dia ao paço episcopal do Porto, para o ouvir comentar “a missão” para que Francisco o escolheu. “Quando soube, fiquei de coração cheio”, insistiu o ainda presidente das empresas do Grupo Renascença Multimédia, predisposto a descartar a ideia de que “ir para fora é que é bom”.
De resto, a liderança de Setúbal dificilmente poderá ser vista como um cargo menor, nomeadamente porque aquela diocese, por onde passou, entre 1975 e 1998, o carismático D. Manuel Martins, o “bispo vermelho”, continua a concentrar vários dos problemas sociais que tendem a captar a particular atenção de Francisco. O Papa prefere dar mais atenção às dioceses periféricas em detrimento das principais. E a escolha de um cardeal para liderar Setúbal (ainda por cima de um cardeal que se arrisca a receber a medalha de clérigo mais famoso do país, eventualmente por causa da sua habilidade comunicativa que se traduziu, aliás, numa tese de mestrado em Ciências da Comunicação intitulada “Um padre na aldeia global – Evangelização e o Desafio das Novas Tecnologias”) poderá ser resultado dessa particular atenção às periferias que constituem a imagem de marca do actual pontífice.
Nascido em Leça do Balio em 1973 e ordenado padre em 2001, depois de ter decidido entrar no seminário aos 22 anos de idade, D. Américo Aguiar não é o único que vai trocar o solidéu púrpura pelo vermelho. O consistório marcado para este sábado servirá para criar 21 novos cardeais (dos quais 18 são futuros eleitores) que se somarão aos actuais 222 membros do colégio cardinalício (121 eleitores, 101 com mais de 80 anos de idade) de 90 diferentes países.
Este é o nono consistório do pontificado que Francisco assumiu no dia 13 de Março de 2013 e, como contabilizava recentemente a Agência Ecclesia, 81 dos actuais cardeais eleitores foram já escolhidos pelo actual Papa. Os cardeais que são hoje empossados vêm de zonas tão díspares como Lisboa ou Kuala Lumpur, na Malásia, numa diversidade de proveniências que, segundo Francisco, “exprime a universalidade da Igreja”.