“Uma última tentativa de salvar o projecto”. Nova direcção da TSF inicia funções na 2.ª feira

As divergências com o Conselho de Redacção da TSF não demoveu a administração da Global Media. A nova direcção, constituída por Rui Gomes, Rosália Amorim e Artur Cassiano estreia-se segunda-feira.

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Apesar das divergências com o Conselho de Redacção da TSF, a administração da Global Media Group garante que a nova direcção assume funções na segunda-feira Rui Gaudêncio

A Global Media informou esta quinta-feira que a nova direcção da TSF assume funções na segunda-feira com a missão de desenvolver mudanças para quebrar o ciclo de prejuízos, sendo "uma última e decisiva tentativa de salvar o projecto".

O comunicado da Global Media Group (GMG), a que a Lusa teve acesso, surge depois de ter sido conhecido que o Conselho de Redacção da TSF rejeitou a nomeação de Rosália Amorim para directora de informação da rádio, face às dúvidas levantadas quanto à sua capacidade de manter uma política editorial independente.

O Conselho de Administração da GMC informa que, cumpridos todos os procedimentos legais, na próxima segunda-feira (2 de Outubro), iniciará as suas funções a nova equipa de direcção da TSF, constituída por Rui Gomes (director-geral), Rosália Amorim (directora de informação) e Artur Cassiano (subdirector de informação).

"Estamos certos da capacidade desta nova liderança na concretização dos principais objectivos definidos para a TSF, e que passam por um novo ciclo de reforço de investimento em recursos humanos, infra-estruturas e inovação, factor essencial para o crescimento e afirmação de uma marca histórica de rádio em Portugal. Nos últimos 10 anos, a TSF acumulou sucessivos passivos, na ordem dos 10 milhões de euros. Só este ano, e até Setembro, o prejuízo cifra-se em 1,3 milhões de euros, valor esse idêntico ao encerramento de contas de 2022, existindo a previsão que até final deste ano possa atingir um valor de cerca de dois milhões de euros", aponta a administração.

"Apesar desta situação, a actual administração da GMG pretende apostar no forte relançamento da marca e do projecto. É missão da actual equipa de direcção desenvolver as necessárias mudanças a todos os níveis para concretizar esta aposta do grupo e assim quebrar este ciclo de anos sucessivos de prejuízos. [Esta] Será uma última e decisiva tentativa de salvar um projecto que se encontra insustentável devido ao rumo seguido na última década e, em especial, nos últimos anos", lê-se no comunicado.

"Todos os trabalhadores e colaboradores da TSF podem contar com o determinado empenho da administração da GMG para relançarmos e consolidarmos a força da TSF", remata.

Entretanto, num outro documento a que a Lusa teve acesso, os membros eleitos do Conselho de Redacção entendem que não devem "dar o aval" à escolha de Rosália Amorim para o cargo, anunciada em 21 de Setembro pela GMG, empresa que detém ainda o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias (DN), órgão que a recém-indigitada directora de informação da TSF dirigia desde Novembro de 2020.

"Os membros eleitos do Conselho de Redacção entendem que, sem colocar em causa as qualidades profissionais de Rosália Amorim, a directora indigitada não se encaixa no perfil necessário para o desempenho de um cargo tão específico como tem sido o de responsável pela informação na TSF", lê-se.

O Conselho de Redacção crê que o desempenho de Rosália Amorim como directora do DN em determinados momentos "levanta legítimas dúvidas quanto à sua real capacidade de manutenção de uma política editorial independente". O órgão lembra ainda que Rosália Amorim foi nomeada na sequência da destituição da direcção de informação liderada por Domingos Andrade e ainda composta por Ricardo Alexandre e Pedro Cruz.

O "empenho do director cessante em tentar melhorar as condições de trabalho", mesmo num "quadro de dificuldades financeiras", foi notório, escreve o Conselho de Redacção, reconhecendo também o "respeito pela autonomia editorial dos jornalistas da TSF".

Além de ter ficado sem "resposta concreta" quanto às perguntas sobre o centro de produção do Porto, as opções sobre a opinião na rádio, a dinâmica das reuniões de editores ou a rede de correspondentes, o Conselho de Redacção também justifica o "chumbo" à escolha de Rosália Amorim para directora de informação com "a vincada e reiterada rejeição" da escolha junto da redacção da TSF.

"Os membros eleitos do Conselho de Redacção da TSF recordam que, em 2019, quando se ventilou a possibilidade de Rosália Amorim ser directora da rádio, foi notória a reacção de discordância por parte da redacção, como estes membros puderam testemunhar, levando, posteriormente, à escolha de Domingos de Andrade para o cargo. A perspectiva da redacção, note-se, não se alterou desde então", refere o documento.

A 20 de Setembro, os trabalhadores da TSF estiveram pela primeira vez em greve nos 35 anos de existência do projecto, tendo reivindicado a defesa de aumentos salariais, pagamento pontual de vencimentos e a manutenção da direcção de Domingos Andrade, com os delegados sindicais a darem conta de uma adesão total.