Doenças respiratórias mataram menos em 2021, mas ainda foram responsáveis por mais de dez mil óbitos

Observatório Nacional das Doenças Respiratórias aponta também um decréscimo nas mortes por pneumonia entre 2018 e 2021. No cancro do pulmão, a mortalidade tem-se mantido relativamente estável.

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Segundo a análise feita aos dados do INE, em 2021 registaram-se 4663 mortes por cancro do pulmão Rui Gaudêncio
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Em 2021, as doenças respiratórias foram responsáveis pela morte de 10.255 pessoas, representando um decréscimo em relação ao ano anterior: menos 988, segundo dados divulgados, esta quinta-feira, pelo Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR). O organismo aponta também uma diminuição de 34,7% nas mortes por pneumonia entre 2018 e 2021. Quanto ao cancro do pulmão, os números da mortalidade, apesar de algumas flutuações, têm-se mantido relativamente estáveis.

Os dados fazem parte do 16.º relatório do ONDR, que analisou o período entre 2018 e 2022, recorrendo a dados de outras entidades, como a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e o Instituto Nacional de Estatística (INE). Este observatório concluiu que “as doenças respiratórias continuam a ser uma das principais causas de morbilidade e de mortalidade em Portugal, apesar de ter sido observado um decréscimo gradual a partir de 2019”, refere em nota de imprensa.

Com base nos dados do INE, o relatório refere que as mortes por doenças respiratórias representaram 8,2% do total de óbitos registados em 2021. Em 2018, essa percentagem era de 11,7 – ano em que as mortes por doenças respiratórias ascenderam a 13.276. Segundo o presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, José Alves, citado na nota enviada, a diminuição de mortalidade com origem numa doença respiratória “pode estar relacionada com a pandemia de covid-19 e com a mudança de hábitos individuais e de grupo que acarretou, nomeadamente o uso obrigatório de máscara e o confinamento”.

Os relatórios do ONDR têm dado especial enfoque às pneumonias, que em 2021 foram a causa de 3756 mortes, estando a média de idade nos 83,7 anos. Tal como na mortalidade por doenças respiratórias, o número de óbitos por pneumonia tem registado um decréscimo desde 2018. Nesse ano, registaram-se 5750 mortes. Esta descida da mortalidade “pode apontar como causas a diminuição da ocorrência de gripe em 2021 e a transferência de mortalidade para a covid-19”, refere o relatório, que acrescenta que “o uso de máscara e o confinamento devem, também, ser tidos em conta”.

A informação relativa às pneumonias é complementada com dados da ACSS, que apresentam números de internamentos, e também de mortes, por pneumonias bacterianas e virais. Segundo os dados divulgados, em 2018 a pneumonia bacteriana foi responsável por 40.999 internamentos, número que desceu ao longo dos anos seguintes. Em 2019 registaram-se 37.280 internamentos, em 2020 foram 27.696 e no ano seguinte 21.335. Em 2022 houve uma alteração da tendência, com 24.279 internamentos registados. Ainda assim, um número bastante inferior ao de 2018.

No que respeita às mortes por pneumonia bacteriana, a tendência foi a mesma. Em 2018 foram 8178, tendo descido no ano seguinte para 7212. Em 2020 foram 5362 e em 2021 foram 5063. No ano passado, refere o ONDR, foram 5178. O comunicado dá ainda conta, relativamente à pneumonia viral, de “que se manteve estável até 2021”, a análise “demonstrou um aumento de 413 internamentos em 2022, atingindo um total de 916”. “Também o número de mortes aumentou para 59 (mais 33 do que em 2021)”, lê-se na nota.

O presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão explicou ao PÚBLICO a diferença dos dados relativamente às mortes por pneumonia. “Uma coisa é a mortalidade dada pelo INE, que é obtida pelos certificados de óbito em que a causa de morte atribuída é a pneumonia. No caso da ACSS, são óbitos que aconteceram durante o internamento em que a causa principal do internamento foi a pneumonia mas a causa do óbito pode ter sido atribuída a outra doença”, disse José Alves, salientando que em qualquer um dos casos o que se regista é uma tendência de diminuição entre 2018 e 2021. “É muito positivo”, apontou, considerando também “um bom sinal” a estabilidade registada nas mortes por cancro do pulmão entre 2018 e 2021. Para José Alves, o relatório mostra que “se manteve uma boa cobertura durante os anos de pandemia”, já que os “números são contínuos e coerentes”.

Cancro do pulmão

Segundo a análise feita aos dados do INE, em 2021 registaram-se 4663 mortes por cancro do pulmão. Em 2020 esse número foi de 4609 e no ano anterior de 4703. Em 2018 foi apontada como a causa de morte de 4621 pessoas. Mas, comparando com 2013 – ano em que se registaram 4327 óbitos -, a tendência foi de aumento. O relatório atribui esta subida ao “aumento de mortalidade nas mulheres, ainda crescente, como resultado do aumento registado há duas ou três décadas do hábito tabágico nesse grupo”.

“Temos de aguardar alguns anos para que a recente diminuição se manifeste na diminuição da incidência e mortalidade”, refere o documento, que apresenta dados da ACSS relativos a internamentos. Entre 2018 e 2022, registou-se uma tendência de aumento, passando de 3467 para 3724. Uma subida que o relatório admite poder significar mais diagnósticos.

Relativamente à covid-19, “é possível observar que em 2021 houve mais 5845 mortes provocadas por esta doença do que em 2020, ano em que o vírus SARS-CoV-2 chegou a Portugal”, refere o ONDR na nota de imprensa. Segundo os dados divulgados, em 2020 registaram-se 7107 óbitos por covid-19, enquanto no ano seguinte foram 12.952.

Quanto à gripe, e usando dados da ACSS, o relatório aponta que os internamentos e os óbitos “tiveram uma queda enorme em 2021”, salientando que os primeiros passaram de 1453 em 2019 para 822 em 2020 e para 23 em 2021. Uma alteração que atribui ao uso de máscaras, ao confinamento e à infecção por covid-19. Já no ano passado os internamentos atribuídos à gripe ascenderam a 1043, com maior prevalência nas faixas etárias acima dos 60 anos.

Quanto a óbitos, segundo os dados da ACSS, em 2019 registaram-se 145, em 2020 foram 48, em 2021 foram dois e no ano passado 92. Foi no grupo dos 75 e mais anos que a mortalidade teve maior impacto, “o que, aliado ao risco de outras infecções simultâneas, como a pneumonia bacteriana, dá força à oportunidade e necessidade da vacinação”, aponta o documento.

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