Swipe left, swipe right: educar para a empatia na sociedade do descarte

Ignoramos as histórias, as experiências, os sonhos, as lutas e os desafios de cada um, porque estamos a perder a habilidade de nos conhecermos verdadeiramente.

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Megafone P3: Swipe left, swipe right: educar para a empatia na sociedade do descarte Manuel Roberto
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Na era pós-moderna é fácil expressarmos os nossos desejos, interesses e vontades com um simples gesto digital: like, nope, super like. O cenário é virtual, mas tem vindo a inundar a vida real com o hiperconsumismo e a procura constante pela próxima novidade.

No meio dessa torrente, a conectividade é abundante, mas a verdadeira conexão fica esquecida, abrindo espaço para a manipulação, a auto-importância, a falta de empatia, a sede excessiva por admiração, o foco nas aparências e os julgamentos instantâneos.

É um reflexo do padrão de consumo observado em supermercados: as pessoas são como mercadorias prontas para serem consumidas e descartadas de acordo com a nossa conveniência. Vemos a capa, por curiosidade abrimos o livro, com sorte folheamos algumas páginas e, à mínima distracção, colocamo-lo rapidamente na estante.

Ignoramos as histórias, as experiências, os sonhos, as lutas e os desafios de cada um, porque estamos a perder a habilidade de nos conhecermos verdadeiramente, venerando, em vez disso, a validação dos cliques, gostos e seguidores. Daqui surge a preocupação sobre o impacto destas transformações nas gerações mais novas.

O que significa ser humano num mundo onde as interacções muitas vezes parecem superficiais e impessoais? Se a maturidade moral está directamente ligada à capacidade de considerar as necessidades e as perspectivas dos outros, quais são os nossos critérios e motivações para vermos e percebermos quem nos rodeia? Como podemos travar a ruína da compaixão, da colaboração e da resolução pacífica de conflitos?

Diversas correntes, como a Teoria do Desenvolvimento Moral de Kohlberg e a Teoria do Apego de Bowlby, realçam a importância de as crianças serem educadas para o desenvolvimento de competências emocionais e sociais desde cedo. Mas como?

Num nível mais macro, a educação socioemocional pode passar pela integração de programas escolares que ajudem as crianças a reconhecer e a compreender as suas próprias emoções e as dos outros. Numa dimensão mais micro, uma das estratégias pode incluir o estabelecimento de limites para o tempo despendido online, incentivando, simultaneamente, actividades e interacções presenciais para que possam desenvolver competências inter-relacionais mais autênticas.

Afinal, que tipo de humanidade queremos preservar, tendo em conta todos os pedaços de humanismo que se têm perdido? Estarão os adultos capazes de educar crianças com uma auto-estima forte e envolvidas em relações harmoniosas, quando eles próprios têm comportamentos contraditórios, problemas na intimidade e dificuldade em formar afectos significativos?

Todos nós precisamos de um círculo seguro. Esta é a base para a adopção de princípios éticos universais, que passam pela preocupação com os demais, com a comunidade, a sociedade e o ambiente que nos circunda. E falar de empatia é falar também de saúde mental.

A capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de procurarmos apoio emocional reduz a solidão, fortalece laços, alivia angústias, diminui o stress e promove um sentido, um propósito. Este é um apelo para que mudemos a narrativa.

A empatia que compartilhamos, as conexões que cultivamos e as relações que nutrimos são heranças preciosas que devemos proteger, mesmo quando o mundo evolui a um ritmo acelerado. Este, acredito eu, é o legado que encontramos na verdadeira essência do ser humano e a tecnologia não nos deve anular, mas enriquecer.

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