Programas de Doutoramento IGC: celebrar o passado, de olhos postos no futuro
No passado dia 18 de Setembro teve lugar, no Instituto Gulbenkian de Ciência, a celebração dos 30 anos dos Programas de Doutoramento do IGC.
Foi há 30 anos que os investigadores António Coutinho e Alexandre Quintanilha criaram o programa de Doutoramento que viria a mudar o paradigma da ciência em Portugal. Foi uma iniciativa que abriu as portas para aquilo que hoje conhecemos como o presente, fomentando o pensamento crítico e alargando o ensino além-fronteiras. 30 anos depois, são mais de 1000 os estudantes que os programas de Doutoramento do Instituto Gulbenkian de Ciência impulsionaram rumo a uma carreira de sucesso.
Foi precisamente para celebrar a data e alinhar o pensamento rumo ao que será o futuro da ciência, e do ensino pós-graduado em Portugal, que se juntaram no Instituto professores, estudantes, líderes, decisores políticos e representantes da indústria, no dia 18 de Setembro. Como será o futuro do Ensino Pós-Graduado? Foi a pergunta do dia.
Depois das boas-vindas dadas por António Feijó, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Mónica Bettencourt-Dias, Directora do Instituto Gulbenkian de Ciência, e Isaltino de Morais, Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, foi altura de chamar a palco um dos responsáveis pelo início de tudo. Depois de um percurso de excelência, apresentando por Ana Godinho - Directora de educação, comunicação e divulgação do CERN e alumna do IGC, António Coutinho começou a sua intervenção por recordar a génese do programa, ressalvando a sua inovação, mas terminou-a deixando um alerta para o futuro: “Para mim, toda a inovação, todas as ideias revolucionárias, vêm de pessoas que estão a ingressar estes programas. Mas para isto ser verdade, é preciso informá-las, expô-las ao melhor que tem sido feito no mundo e às melhores pessoas a fazê-lo. Precisamos de programas que sejam e estejam abertos para o mundo. Nos últimos 30 anos, os programas continuam a ser os mesmos que sempre foram. É preciso fazer algo de diferente, algo de novo, ser criativo. Já chega deste modelo, 30 anos é muito tempo”.
Durante o evento, foi também partilhado com a audiência um vídeo com vários testemunhos de alunos de Doutoramento do IGC.
Um arauto do futuro da ciência (que precisa de ajustes para ser bem-sucedido)
Foi com a mudança em mente que Tim Stearns, Professor, Dean of Graduate and Postgraduate Studies, Vice President of Education The Rockefeller University, se seguiu com o tema Making the PhD relevant. De uma forma sucinta, e passando também por aquilo que tem sido o trabalho desenvolvido pela Universidade na qual trabalha, afirma sem hesitar que, na sua opinião, o futuro é promissor. Ainda assim, ajustes continuam a precisar de ser feitos: “Olhando para o IGC, o futuro é promissor. Contudo, é preciso novas formas de pensar. Os alunos estão a perder a curiosidade e o entusiasmo perante a ciência. E isto significa que estamos a fazer alguma coisa mal. Retirámos à ciência aquilo que ela tinha de divertido”, afirma, focando-se em seguida no futuro.
Para o Tim Stearns, falar em inovação é falar em avanços como os da inteligência artificial e, nas suas palavras, também estes serão uma ferramenta. “A inteligência artificial vai revolucionar a forma como interagimos com a informação e democratizar muitas coisas que, hoje em dia, são difíceis de aceder. A vossa obrigação, como académicos, é descobrir o quão poderosas estas novas ferramentas podem ser”, remata.
O dia foi longo e contou com intervenções das mais diferentes personalidades. Desde painéis focados em temas como a inteligência artificial, ferramentas para o futuro e para uma ciência mais transparente, foi da parte da tarde que teve lugar a mesa redonda que juntou às palavras de António Coutinho, as de Alexandre Quintanilha: “O conhecimento ajuda-nos a perceber quem somos. É uma ferramenta que nos ajuda a crescer e ajuda-nos a providenciar, e a treinar, profissionais competentes seja em que área for”, começa por dizer o investigador, acrescentando: “Acho que, no futuro, o ensino pós-graduado não será a única forma de adquirir esse conhecimento. Mas, para mim, aquilo que estes programas oferecem é a oportunidade de experimentar algo diferente, algo novo. Preocupa-me que hoje estejamos a caminhar para um mundo autocentrado. Ao invés de se incentivar a colaboração, incentiva-se a competição. As instituições têm vindo a destruir a curiosidade, a imaginação. Precisamos de lutar contra isto”.
Conhecimento ou certificados?
What should PhD training be good for? Foi o mote da última conversa do dia e ao lado de Alexandre Quintanilha sentaram-se Pedro Santa Clara, Director da Escola 42, Isabel Rocha, Vice-Reitora na Universidade NOVA de Lisboa e Marta Agostinho, Directora Executiva da EU-LIFE. Muitas ideias foram trocadas, vários foram os pontos de vista discutidos, mas a conclusão tornou-se evidente: há muita coisa a ser feita. “Acho que nos próximos anos vamos assistir a uma grande onda de inovação no ensino. Haverá novos modelos de ensino, modelos mais eficazes. Durante muito tempo, os empregadores olhavam para o teu certificado da Universidade como um dado diferenciador, mas se olharmos agora para as mais sofisticadas empresas do mundo, isto deixou de ser um factor importante. Eles não querem saber sobre o que estudaste, eles querem saber o quanto sabes e o quanto estás disposto a fazer.”, reforça Pedro Santa Clara.
Com o evento a chegar ao fim, foi com as palavras de Mónica Bettencourt-Dias que se fizeram as despedidas. Para a Directora do IGC, foi um dia em cheio, do qual se sai com ainda mais questões. Mas uma coisa é certa, se há alguma coisa de que é feita a ciência, é de perguntas. E será com elas em mente que se caminhará rumo a um futuro possível: “Não temos respostas. Todos estamos a pensar em coisas semelhantes. Precisamos de experimentar para que novos modelos sejam possíveis. Há muito trabalho para fazer, mas nós gostamos de desafios”.