Construtora Evergrande suspende acções na bolsa de Hong Kong
Colapso deste grupo, cujo passivo ascende a 307 mil milhões de euros, é o caso mais emblemático da crise imobiliária na China, que tem fortes implicações para a classe média do país.
O grupo Evergrande, uma das maiores construtoras da China, cujo colapso marcou o início da crise no sector imobiliário do país, suspendeu hoje a negociação das acções na bolsa de valores de Hong Kong.
A negociação das acções de duas subsidiárias do Evergrande, a Evergrande Property Services, dedicada aos serviços imobiliários, e a Evergrande New Energy Vehicle, que opera veículos eléctricos, também foi interrompida às 9h (menos sete horas em Portugal continental), de acordo com avisos publicados pela bolsa de Hong Kong.
As acções da Evergrande fecharam a sessão de quarta-feira a valer 32 centavos de dólar de Hong Kong (quatro cêntimos de euro). A empresa tinha retomado as negociações em bolsa a 28 de Agosto, após um interregno de 17 meses.
A suspensão acontece um dia depois de a agência de informação financeira Bloomberg ter avançado, citando fontes não identificadas, que o presidente do grupo, o bilionário Xu Jiayin, foi detido no início deste mês pelas autoridades chinesas.
Em meados de Setembro, o grupo anunciou a detenção de funcionários de uma das subsidiárias, sem especificar as acusações. A revista de informação económica chinesa Caixin noticiou que dois ex-executivos da Evergrande também foram presos.
O sector imobiliário na China registou um crescimento meteórico nas últimas décadas, num país onde a venda de imóveis em planta permite financiar outros projectos.
Em 2020, a situação financeira de muitas construtoras chinesas deteriorou-se, depois de os reguladores chineses terem exigido às empresas um tecto de 70% na relação entre passivo e activos e um limite de 100% da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no sector, agravada pelas medidas de combate à pandemia da covid-19.
O colapso da Evergrande, cujo passivo ascende a 328 mil milhões de dólares (307 mil milhões de euros), é o caso mais emblemático desta crise, que tem fortes implicações para a classe média do país. Face a um mercado de capitais exíguo, o sector concentra uma enorme parcela da riqueza das famílias chinesas, cerca de 70%, de acordo com diferentes estimativas.
A crise afectou nos últimos meses outro peso pesado do sector: a Country Garden, até há pouco vista como uma empresa financeiramente sólida.
Na segunda-feira, outra subsidiária da Evergrande, a Hengda Real Estate, anunciou que não consegue cumprir os pagamentos regulares de obrigações, aumentando a pressão sobre o grupo, antes de uma audiência marcada para o final de Outubro com um grupo de credores, nos tribunais de Hong Kong.