Os glaciares suíços perderam 10% do seu volume nos dois piores anos de que há registo

No terceiro Verão mais quente de que há registo na Suíça observa-se que, em dois anos, os glaciares perderam tanto gelo como nas três décadas anteriores a 1990.

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Uma bandeira suíça na entrada da caverna de gelo no glaciar do Ródano, em Obergoms, Suíça, a 26 de Setembro de 2023 Reuters/DENIS BALIBOUSE
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O manto de gelo da Suíça sofreu a segunda pior taxa de derretimento este ano, após perdas recordes em 2022, diminuindo seu volume total em 10% nos últimos dois anos, disseram os responsáveis do organismo nacional de monitorização Glacier Monitoring Switzerland (Glamos) esta quinta-feira.

No terceiro Verão mais quente de que há registo na Suíça observa-se que, em dois anos, os glaciares perderam tanto gelo como nas três décadas anteriores a 1990, segundo o Glamos, que descreveu as perdas como "catastróficas".

"Este ano foi muito problemático para os glaciares porque houve muito pouca neve no Inverno e o Verão foi muito quente", disse à Reuters Matthias Huss, que lidera a Glacier Monitoring Switzerland. "A combinação destes dois factores é o pior que pode acontecer aos glaciares."

Mais de metade dos glaciares dos Alpes está na Suíça, onde as temperaturas estão a aumentar cerca do dobro da média global devido às alterações climáticas.

Este ano, a redução de neve no Inverno, combinada com um início precoce e um fim tardio da época de degelo no Verão, provocou grandes perdas, segundo o Glamos.

No mês de Agosto, mês do pico do degelo, os serviços meteorológicos suíços informaram que a altitude a que a precipitação congela atingiu um novo recorde durante a noite, medido a 5289 metros, uma altitude superior à do cume do Monte Branco. Este valor ultrapassou o recorde do ano passado de 5184 metros.

As imagens publicadas por Huss nas redes sociais durante as viagens de recolha de dados nas últimas semanas mostraram, pela primeira vez, a formação de novos lagos junto às línguas dos glaciares, correntes de água derretida que atravessam cavernas de gelo e rochas nuas que sobressaem do gelo fino. Nalguns locais, corpos perdidos há muito tempo foram recuperados à medida que as camadas de gelo diminuíram.

"Estamos realmente a perder os pequenos glaciares", lamenta Huss. "O gelo remanescente está a ficar coberto de rochas e detritos, as regiões que estiveram cobertas de neve e gelo nas últimas décadas e séculos estão a tornar-se apenas encostas negras que são perigosas devido à queda de rochas." Em alguns locais, o Glamos teve de interromper a monitorização devido ao degelo.

"Encerrámos um dos nossos programas de monitorização num pequeno glaciar no centro da Suíça, porque se tornou demasiado perigoso medir", confirma Huss. "Tornou-se muito pequena e, portanto, não representativa." Os registos suíços remontam a pelo menos 1960 e até 1914 para alguns glaciares.