Brasil cria brigada especial para enfrentar seca sem precedentes na Amazónia
Cerca de 111 mil pessoas afectadas devido à grave seca na região da bacia amazónica. A brigada especial será enviada para os estados do Amazonas e Acre com água, alimentos e medicamentos.
O Governo brasileiro está a preparar a formação de uma brigada especial para prestar assistência de emergência aos habitantes da região amazónica atingidos por uma seca severa que afectou de uma forma dramática os rios que são o seu suporte de vida, disse a ministra do Ambiente, Marina Silva.
O baixo nível dos rios e as águas mais quentes mataram grandes quantidades de peixes que flutuavam na superfície dos rios, contaminando a água potável, disse Marina Silva.
"Temos uma situação muito preocupante. Esta seca recorde perturbou as rotas de transporte fluvial, ameaçando a escassez de alimentos e água, e já estamos a começar a ver uma grande mortandade de peixes", disse Marina Silva numa entrevista à Reuters.
Cerca de 111 mil pessoas foram afectadas numa região onde grande parte da população depende da pesca, que será suspensa durante algum tempo, acrescentou. A Defesa Civil alertou que a seca pode afectar até 500 mil pessoas na Amazónia, com a perspectiva de que se agrave no mês de Outubro.
O site do Porto de Manaus informou que o nível da água do Rio Negro caiu em média 30 centímetros por dia desde meados de Setembro e ficou em 16,4 metros na quarta-feira, cerca de seis metros abaixo do nível no mesmo dia do ano passado.
A brigada especial federal será transportada pela Força Aérea para os estados do Amazonas e Acre com água, alimentos, medicamentos e outros recursos, disse Marina Silva.
O Governo também destinou 140 milhões de reais (mais de 26 milhões de euros) para a dragagem de rios e portos da região para garantir a fluidez do transporte quando o nível da água cair, acrescentou.
A seca na Amazónia, tal como as cheias no sul do Brasil, resulta do fenómeno El Niño, que aquece as águas superficiais na região do Pacífico Equatorial. Este ano, o impacto foi maior do que o normal, segundo especialistas em meteorologia. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazónia (INPA), além do El Niño, o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do Equador, inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazónia. Este tempo mais quente dificulta a formação de nuvens de chuva na região, diz a Agência Estado, citando o INPA.
Marina Silva explicou que este foi o efeito de um El Niño periódico misturado com mudanças nos padrões climáticos trazidos pelo aquecimento global. "Estamos a assistir a uma colisão de dois fenómenos, um natural que é o El Niño e outro produzido pelo homem, que é a alteração da temperatura da Terra", afirmou.
Agravada pelas alterações climáticas, esta combinação causou uma seca nunca antes vista na Amazónia que "é incomparavelmente mais forte e pode acontecer com mais frequência", acrescentou.