Feijóo perde primeira votação para ser investido e resigna-se a ser “líder da oposição”

Intervenções dos partidos bascos ocuparam grande parte do segundo dia do debate de investidura, depois de um arranque marcado pela guerra de Feijóo à amnistia e pelo estrondoso silêncio de Sánchez.

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O debate de investidura termina com a primeira votação JUAN CARLOS HIDALGO/EPA
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“Sinceramente” satisfeito e convencido de ter feito “tudo o que era possível” para alcançar um desfecho diferente, Alberto Núñez Feijóo saiu derrotado na primeira votação do seu debate de investidura. Uma derrota mais do que esperada e que o próprio candidato à presidência do governo de Espanha já assumira, aceitando, ainda antes de se apresentar ao Congresso, o papel de “líder da oposição”, como esta quarta-feira sublinhou o porta-voz do grupo parlamentar socialista, Patxi López.

“Temos de continuar a trabalhar pelo nosso país”, afirmou o líder do Partido Popular e da direita. Apesar da derrota anunciada, este foi um debate que “valeu a pena”, dissera antes, na sua última intervenção, a mesma em que aproveitou para voltar a atacar Pedro Sánchez por não lhe ter dado réplica – um silêncio que acabou por ser mais ruidoso do que muitos dos discursos.

Sánchez, disse Feijóo, “preferiu fugir para não dizer a verdade” e “não quis subir à tribuna, porque não podia defender o que defendeu há dois meses diante de todos os espanhóis”. O candidato referia-se ao tema que se tornou a sua obsessão: a amnistia aos acusados na sequência do referendo ilegal realizado em 2017 na Catalunha que Sánchez considerou durante a campanha não ser “uma boa ideia” e que agora aceita em troca do apoio dos independentistas.

A favor de um executivo liderado pelo dirigente do partido conservador votaram, para além dos seus 137 deputados, os 33 do partido de ultradireita Vox e os deputados únicos da Coligação Canária e da União do Povo Navarro, os mesmos 172 com que Feijóo sabe contar quase desde a noite eleitoral de 23 de Julho, quatro menos do que os necessários para chegar à maioria absoluta.

Contra votaram 178 parlamentares, abstenções não houve nenhuma, deixando claro que, apesar de liderar o partido mais votado, Feijóo não tem sequer como alcançar a maioria simples que seria suficiente na segunda votação, na sexta-feira.

“Parece que estamos numa moção de censura e não numa sessão de investidura”, disse Aitor Esteban, porta-voz do Partido Nacionalista Basco, um dos partidos que intervieram no segundo dia do debate.

Feijóo, fez notar Esteban, perdeu mais tempo a fazer perguntas do que a responder às dúvidas das restantes formações ou a explicar o que faria, se chegasse ao poder.

“Nefasto” para a Europa

“Para a sua investidura, ou para a investidura de qualquer outro candidato, se forem precisos os votos do Vox, não podem contar connosco. Por isso, não é certo que vocês tenham recusado a presidência”, afirmou Esteban, numa resposta ao que Feijóo disse na véspera, quando garantiu ter ao seu “alcance os votos para ser presidente do governo”, bastando que tivesse decidido aceitar as exigências do partido independentista Junts, de Carles Puigdemont.

Mas esta não é uma simples conta de somar: se tivesse os votos dos catalães do Junts, o candidato não teria os do partido de ultradireita Vox (que defende a ilegalização dos partidos soberanistas); tendo os do Vox, não conta com os do PNB.

Antes de Esteban falara, parcialmente em basco, Mertxe Aizpurua, porta-voz do Euskal Herria Bildu, que em basco acusou o PP de não respeitar nem entender a cidadania basca. Como na véspera, os deputados populares fizeram “greve” aos auriculares, recusando ouvir a tradução simultânea dos discursos feitos em basco, catalão ou galego, as três línguas co-oficiais que há uma semana passaram a poder usar-se no Congresso.

Sobre os independentistas de esquerda bascos (que tratou como trataria a organização terrorista ETA), o candidato à presidência do executivo defendeu que deveria haver “um cordão sanitário” que os afastasse das decisões políticas; dos nacionalistas de centro-direita, cujo apoio procurou, ouviu que “um governo que dependa do Vox seria nefasto para a Europa e para Espanha”.

“Quero distinguir entre o PNB e o Bildu. Eu receberei com orgulho cada ‘não’ que tenha – mas dos que não acreditam que Espanha é uma democracia completa, dos que têm como projecto político a erosão das nossas instituições e a ruptura do nosso país, esses ‘nãos’ recebo com especial honra”, afirmou Feijóo. “Por isso é um orgulho saber que vocês vão votar ‘não’”, disse aos membros do Bildu.

A última intervenção coube à porta-voz do PP, Cuca Gamarra, com um novo apelo aos deputados socialistas para que votassem “em consciência” caso discordem da amnistia que o PSOE e os seus aliados do Sumar têm negociado com os independentistas catalães (e que abrangerá os políticos condenados) em troca do seu apoio numa futura investidura.

O “unitário” Vox

“Nenhum dos deputados do meu grupo terá de votar contra os seus princípios. Vamos votar segundo os nossos princípios e o que defendíamos há dois meses”, afirmou Feijóo, na réplica a Gamarra.

“Na nossa democracia quem ganha as eleições merece governar”, disse ainda Gamarra, repetindo o que Feijóo tem dito quase todos os dias desde as eleições em que o PP foi o partido mais votado, sabendo de imediato que não conseguiria formar uma maioria parlamentar.

Da história deste debate fica também o tom cordial e amistoso entre Feijóo e o líder do Vox (partido com raízes franquistas), depois de um discurso em que o presidente do PP chegou a assumir algumas posições da ultradireita, denunciando “a ditadura activista” dos que combatem os efeitos das alterações climáticas e a “doutrinação” que diz ser feita na escola espanhola – referências que lhe valeram um agradecimento de Santiago Abascal.

Já Feijóo agradeceu a Abascal o “patriotismo” revelado pelo apoio de um partido que descreveu como “unitário” (e que antes de liderar o PP chegou a tratar como de “extrema-direita”). Nestes dias, lembra no diário El País a jornalista Elsa García de Blas, Feijóo disse várias vezes que representa “onze milhões de eleitores”, os oito milhões do PP e os três da ultradireita. O assumir de uma nova relação, depois dos acordos de governo em 140 municípios e quatro regiões autonómicas, ou, como escreve García de Blas, “um presente envenenado com o objectivo de reunificar a direita sob a sigla PP”?.

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