600e, o Fiat eléctrico para a família
Com o novo pequeno SUV, o construtor italiano quer trilhar caminho seguro na electrificação da gama. O híbrido chega no segundo trimestre de 2024.
Olhando para o Fiat 600 dos anos 50 do século passado, é difícil imaginar como enfiar ali dentro uma família inteira para uma viagem de férias. Mas as pessoas eram assim tão mais pequenas? Não, as exigências de conforto, equipamento e gadgets é que eram muito menores. Agora é o espírito dolce vita italiano que conta e é com ele que o construtor de Turim reabilita o seu icónico modelo com os olhos postos no futuro: o novo Fiat 600e é um pequeno SUV de 4,17 metros e cinco portas que pretende conquistar as jovens famílias e aqueles que apostam numa consciência mais ambiental.
Bastam uns minutos de condução numa cidade italiana para perceber como os segmentos A e B são tão importantes para aquele mercado. Mas, se se procurarem carros eléctricos, o resultado já não é o mesmo. Em Itália, apenas um em cada 20 carros é eléctrico; por comparação, em França ou Alemanha a proporção já é de um para quatro e a média europeia está nos 20%.
A Fiat, agora integrada na Stellantis, não quer ficar fora da corrida e, depois do 500e, avança agora com a electrificação para o patamar acima, usando como base a plataforma e-CMP2 (do Peugeot e-2008 e do Jeep Avenger). Foi repescar as linhas do 600 dos anos 1950, acrescentou-lhes volume e ficou com um 500 bem crescido (até é 9cm mais curto que o 500X), um carro compacto, com faróis de pálpebras e um grande sorriso a lembrar o traço das personagens do filme Cars, e pintou-o de cores fortes, conferindo-lhe mais presença na estrada. Tal como no irmão mais pequeno, o símbolo da Fiat desapareceu da frente do carro, onde foi substituído pelo lettering 600, e está agora apenas na porta da bagageira. No La Prima, o quadriculado da grelha frontal repete-se nas jantes, dando uma imagem de conjunto.
Entremos. A primeira sensação é que se está numa “caixa”: é preciso levantar bem o pé e subir ligeiramente o corpo. Lá dentro, respira-se a filosofia Fiat de outros tempos e a inspiração do 500 (sim, a Fiat também compara tudo do 600 com o irmão). No desenho dos bancos, do tablier e do painel de instrumentos em estilo monóculo. O tablier é colorido, com um longo painel de plástico brilhante. Aparentemente resistente, mas susceptível a riscos. Os restantes plásticos também são duros ao toque e parecem bem montados. O volante tem um toque sedoso e encaixa bem nos dedos.
Com uma boa habitabilidade à frente (os bancos são confortáveis e profusamente enfeitados com a palavra Fiat), o banco de trás é bom para dois adultos de estatura normal e o do meio é penalizado pelo túnel central — e se for preciso levar um banco de criança torna-se bem acanhado.
No curto teste de estrada nas serras e nas ruas de Turim, com alguma aceleração e condução sinuosa, o 600e mostrou-se dentro da média de consumo para este nível, uns 13 kWh/100, o que, carregando em casa, poderá custar à volta de 2,5 euros para percorrer cem quilómetros (conforme o tarifário). A marca anuncia uma autonomia de mais de 400 quilómetros em ciclo combinado e de 600 em urbano. O sistema de carregamento rápido de 100 kW permite levar a bateria aos 80% em meia hora. Com uma potência de 115 kW que permite uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 9 segundos, o 600e mostra-se muito desenrascado
Silencioso, o motor e a suspensão firme parecem responder bem em ruas de calçada e nas curvas de montanha (e até nas curvas da Pista 500, no topo da fábrica da Fiat de Lingotto, onde os 600 eram testados há várias décadas). O condutor pode escolher entre três modos de condução: Eco, Normal e Sport.
Keep it simple continua a ser uma filosofia de peso — reduz custos e tempo. O 600e está disponível apenas em dois níveis de equipamento: o Red, de entrada (36.350 euros em Portugal), e o La Prima (41.350€), cada qual com uma paleta própria. Vermelho, branco ou preto no primeiro; cinza, laranja, verde e azul no segundo (denominados pela marca como terra, sol, mar e céu de Itália). No La Prima há “docinhos” como a função de massagem no banco do condutor, a abertura da bagageira (generosa) por sensor do pé na traseira do carro. Por mera curiosidade, acrescente-se que o preço do Red em Itália é de 29.950 euros.
O Fiat 600 pretende ser mesmo um corte com o passado: o modelo não terá qualquer versão apenas de combustão. Se o eléctrico começa a ser entregue no primeiro trimestre do próximo ano, a versão híbrida MHEV (mild hybrid) chegará depois, combinando um motor térmico a gasolina de 1,2 litros com 100cv e um eléctrico com uma bateria de 48V e 21kW de potência (28cv). Promete circular apenas com a bateria quando a menos de 20 km/h, fazer um quilómetro em cidade em modo 100% eléctrico e arrancar sempre em modo eléctrico caso tenha alguma carga.