Argumentistas de Hollywood voltam hoje ao trabalho com o fim da greve
O sindicato Writers Guild of America votou por unanimidade o fim da greve que durava há quase cinco meses, depois de ter conseguido chegar a acordo com os grandes estúdios para um novo contrato.
O sindicato dos argumentistas de Hollywood disse aos seus associados que podem regressar ao trabalho nesta quarta-feira, enquanto decidem se aprovam um acordo de três anos que prevê aumentos salariais e algumas protecções em relação ao uso da inteligência artificial (IA), entre outras vantagens.
A direcção do Writers Guild of America (WGA) votou por unanimidade o fim da greve, e os seus 11.500 membros têm até dia 9 de Outubro para votar o acordo proposto, que tem um valor estimado de 233 milhões de dólares por ano, quase o triplo da proposta original da Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa estúdios, produtoras e serviços de streaming.
Os argumentistas de cinema e televisão tinham renunciado ao trabalho no início de Maio, depois de não terem conseguido chegar a um acordo para um novo contrato colectivo de trabalho com os principais estúdios e gigantes do streaming, incluindo a Netflix, a Walt Disney e a Warner Bros Discovery.
Agora parecem, na negociação, ter conseguido concessões em todos os sectores, com aumentos ao longo dos três anos de contrato, aumento das contribuições para a saúde e para as pensões, e ainda salvaguardas relacionada com a IA.
Nos termos do acordo, os estúdios concordaram em reunir-se pelo menos duas vezes por ano com o sindicato para discutir os planos de utilização da IA no desenvolvimento e na produção de filmes.
Os estúdios não estão expressamente proibidos de utilizar a IA para gerar conteúdos. Os argumentistas, no entanto, têm o direito de avançar com uma acção judicial se o seu trabalho for utilizado para treinar os programas de IA.
Os argumentistas podem optar por utilizar a IA na elaboração dos guiões, mas uma empresa não pode exigir a utilização do software. Os estúdios também têm de revelar ao argumentista se algum material foi gerado por IA.
Noutras áreas, a WGA afirmou ter conseguido garantias quanto ao mínimo de pessoas a ter a trabalhar numa sala de argumentistas, uma questão fundamental para muitos dos seus membros. O número de efectivos será determinado pelo número de episódios por temporada. Os salários mínimos aumentarão mais de 12% em três anos.
Além disso, as taxas residuais relativas à exibição de programas de televisão e filmes fora dos Estados Unidos serão aumentadas. Será ainda atribuído um bónus aos conteúdos mais populares nas plataformas de streaming.
"Estas são protecções essenciais que as empresas disseram, na nossa cara, que nunca nos dariam", publicou Adam Conover, membro do comité de negociação do sindicato dos argumentistas, na rede social X, antigo Twitter.
"Mas por causa da nossa solidariedade, [e] porque eles literalmente não podem ganhar um dólar sem o nosso trabalho, (...) deram-nos o que merecemos. Ganhámos", acrescentou Conover, esta última palavra escrita em letras garrafais.
Por sua vez, o argumentista de séries de televisão David Slack afirmou: "A nossa greve era necessária. A nossa greve foi eficaz. A nossa greve é uma vitória."
O fim da greve do WGA não faz Hollywood voltar ao normal. O sindicato SAG-AFTRA, que representa os actores, abandonou o trabalho em Julho e continua em greve. O acordo provisório que os argumentistas de Hollywood alcançaram com os principais estúdios e plataformas de streaming pode vir a servir de modelo para os actores.
"Ouvi dizer que é um acordo excepcional e, historicamente, qualquer acordo que seja dado a um sindicato, o sindicato seguinte usa-o como modelo para o seu próprio acordo", disse a actriz e escritora Mel Shimkovitz à Reuters na terça-feira, enquanto fazia greve à porta da Netflix.
Argumentistas e actores partilham preocupações e reivindicações comuns, incluindo o desejo de salários mais altos e de restrições ao uso de inteligência artificial no entretenimento.
Com a decisão tomada pelo WGA, os argumentistas regressam ao trabalho nesta quarta-feira. Isto quer dizer que os talk shows que estavam interrompidos podem voltar ao ar, mas as rodagens não podem recomeçar até que os actores cheguem também eles a um acordo laboral.