Em Espanha, são cada vez mais as vítimas de violência verbal ou física motivada pela orientação sexual ou identidade de género: segundo dados do Ministério do Interior, os ataques contra a comunidade LGBT+ aumentaram quase 70% nos últimos dez anos. No entanto, há um projecto em curso que pretende acabar com isso. A experiência Ponte em mi Piel ("põe-te na minha pele", em português) convida as pessoas a colocarem óculos de realidade virtual e assistirem a um vídeo onde passam a ser vítimas de discriminação.
O vídeo, que recorre a inteligência artificial, relata três casos de violência contra pessoas da comunidade LGBTQIA+: a agressão do casal Carlos e Juan, o dia-a-dia de Víctor, um homem transgénero, e o pânico de uma rapariga lésbica perante a reacção negativa dos pais, após saberem que beijou uma mulher.
O objectivo, destaca o produtor audiovisual Daniel Ramos, fundador da produtora Deloscobos, passa por “criar empatia” junto de quem assiste o vídeo para com as vítimas de homofobia, bifobia e transfobia. Até ao momento, reforça, ninguém ficou indiferente ao conteúdo sensível das imagens e há até quem não consiga terminar de ver o vídeo, escreve a estação de televisão espanhola Antena 3. A experiência de 12 minutos mostra os ataques ao longo da vida destas personagens, uma forma de salientar a intemporalidade do ódio.
O projecto já passou pelas cidades espanholas de Madrid, Valência e Oviedo e Llanera, nas Astúrias, mas as eleições gerais de Julho obrigaram a uma interrupção do roteiro. Neste momento, a Deloscobos está em negociações com várias autarquias municipais para que o vídeo possa ser visto por mais pessoas. “Não é um projecto político, mas, infelizmente, ainda é uma questão complexa, por depender de certos partidos”, destaca Daniel Ramos, citado pelo El País.
A produtora adianta ainda que a reposta tem sido positiva e até já mudou a opinião de algumas pessoas sobre a homossexualidade, como aconteceu com um idoso que disse querer aceitar o neto que, recentemente, se assumiu como gay e protegê-lo de eventuais actos discriminatórios. Apesar de a maioria das pessoas manifestar medo e raiva em relação às situações mostradas, é entre a população mais velha que o vídeo provoca mais empatia.
Por outro lado, quem não quer participar comenta que o projecto não é mais do que uma experiência onde põem óculos às pessoas e "as transformam em homossexuais", denuncia a Deloscobos através de uma publicação no Instagram.