Amigos com benefícios, isto é o que uma terapeuta sexual quer que saibam

A investigação mostra que muitas pessoas têm uma experiência positiva de amizade com benefícios. Mas também há riscos: a amizade pode acabar ou uma das pessoas pode querer mais que uma relação casual.

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Amigos com benefícios, isto é o que uma terapeuta sexual quer que saibam Albert Martinez Pardo/ Getty Images
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Há muitos tipos de relações sexuais em que as pessoas se podem envolver — desde relações monogâmicas até a um caso de uma noite. Mas os amigos com benefícios ainda são frequentemente vistos como controversos, talvez devido ao potencial desgosto amoroso.

Normalmente, estes acordos envolvem duas pessoas que se envolvem em actividades sexuais casuais sem as expectativas e os vínculos frequentemente associados às parcerias românticas. Ao contrário de um namoro ou de um engate, existe frequentemente um entendimento de que a situação é indefinida e que a amizade pode recomeçar ou continuar mesmo que a relação física termine.

Diferentes tipos de relações podem servir diferentes objectivos. A investigação psicológica sobre as relações entre amigos e amigas mostrou que estas podem ser mais complicadas do que a imagem que os media lhes dão. Não são para toda a gente. Reconhecer as preferências de relacionamento é fundamental para perceber se um acordo assim pode ou não funcionar para ti. Se estás a tentar decidir, reserva algum tempo para pensar na forma como encaras o compromisso. Considera, por exemplo, se tens uma forte inclinação para relações exclusivas.

A investigação sugere que algumas pessoas se inclinam para uma relação monogâmica, enquanto outras se sentem confortáveis com acordos que abrangem todo o espectro de acordos casuais e sem compromisso.

As relações de amigos com benefícios tendem a dividir-se em três campos: melhores amigos, apenas sexo e oportunidades de rede. As relações só de sexo, por exemplo, centram-se no aspecto físico, enquanto a motivação das relações de oportunidade de rede gira em torno da oportunidade e do acesso aos círculos sociais de cada um. As relações de melhores amigos têm frequentemente uma ligação física e platónica.

Os benefícios

A investigação mostra que muitas pessoas têm uma experiência positiva: nem sempre acaba em desastre.

Uma das principais vantagens é que estas relações dão às pessoas liberdade sexual, sem os constrangimentos de uma parceria romântica monogâmica. É como ter um parceiro de confiança para experimentar e desfrutar de sexo regular, mas com maior independência emocional.

Estas relações dão aos parceiros o espaço e o tempo para explorar diferentes estilos de relacionamento, à medida que as pessoas passam por diferentes fases das suas vidas. Por exemplo, uma pessoa pode estar a passar por uma fase em que quer mais do que um encontro de uma noite, mas não está preparada para um compromisso a longo prazo.

As relações entre amigos podem, de facto, dar às mulheres mais jovens a possibilidade de satisfazerem as suas necessidades sexuais de uma forma semelhante à capacidade de os homens o fazerem em encontros casuais. Algumas mulheres referem que têm mais probabilidades de ver as suas necessidades sexuais satisfeitas nestas situações do que num encontro de uma noite.

Por exemplo, num estudo realizado com estudantes universitárias norte-americanas, as jovens afirmaram que, com um amigo, eram encorajadas a exprimir a sua sexualidade e não eram "travadas" por preconceitos da sociedade, como o slut shaming ​(a reprovação sofrida por mulheres que se mostram sexualmente abertas e activas e são vistas como promíscuas). Por isso, pode ser uma parte importante do desenvolvimento sexual e relacional das pessoas, permitindo-lhes explorar diferentes partes de si próprias.

As desvantagens

Entrar num relacionamento sexual com um amigo não é isento de riscos. A amizade pode terminar. Talvez uma das pessoas espere mais do que uma ligação casual, enquanto a outra pessoa quer manter as coisas simples e físicas. A pessoa que quer uma relação mais profunda pode evitar abanar o barco por medo que o acordo acabe se disser a verdade. Estes sentimentos desiguais podem acabar por causar mágoas.

Também vale a pena mencionar que algumas pessoas podem deliberadamente dar ao amigo com benefícios a ideia de que isso pode levar a um compromisso, para que possam ter a intimidade que desejam. Eis alguns sinais de que o parceiro tem outras intenções:

  • coagir-te a praticar actos sexuais em que tenhas manifestado relutância em participar;
  • recusa em praticar sexo seguro;
  • gaslighting (manipular alguém para que questione a sua própria sanidade ou capacidade de raciocínio);
  • falta de vontade de negociar os limites emocionais.

É claro que algumas culturas rejeitam a ideia de relações não-monogâmicas. Enquanto outras relações não tiverem reconhecimento universal são vulneráveis ao estigma e ao julgamento.

O que é preciso ter em conta

À medida que se passa mais tempo numa situação de amigos com benefícios, os sentimentos podem surgir quando menos se espera, o que pode atingir uma pessoa com mais força do que a outra. Esta é uma das complicações mais difíceis deste tipo de relação. Algumas pessoas podem evitar este tipo de conversas por recearem que pareça que estão a levar a relação mais a sério do que a outra. No entanto, é importante saber qual é a nossa posição para evitar o sofrimento psicológico, a incerteza e os problemas de estima.

Não existe um livro de regras. Mas é importante ser franco em relação aos sentimentos e limites e gerir as expectativas. Isto pode ajudar a minimizar os mal-entendidos. Se descobrires que ambos querem coisas diferentes da situação, reavalia se está na altura de encontrar uma parceria mais compatível noutro lugar.

Não te esqueças também de praticar sexo seguro. Estudos mostram que quando as pessoas confiam no parceiro é menos provável que usem preservativos. O sexo desprotegido coloca todas as partes em risco de contrair DSTs e gravidezes indesejadas.

Do ponto de vista de um terapeuta sexual, não existe uma solução única para todos no que respeita a relações. Este acordo deve funcionar desde que ambos queiram as mesmas coisas.


Exclusivo P3/The Conversation
Chantal Gautier é professora na Universidade de Westminster e terapeuta de sexo e relacionamento

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