“Recorde extremo”: pico do mar de gelo do Inverno na Antárctida foi o menor de sempre

“Não é apenas um ano recorde, é um ano recorde extremo”, disse o cientista Walt Meier. Esta mudança acelera o aquecimento global e pode ter consequências desastrosas para animais como os pinguins.

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Os investigadores estão preocupados com impacto desastroso destas mudanças no gelo em animais como os pinguins Paul Souders/GettyImages

O gelo marinho que cobre o oceano em torno da Antárctida atingiu níveis baixos recorde neste Inverno, disse o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA (NSIDC) na segunda-feira, reforçando as posições dos cientistas que defendem que o impacto das alterações climáticas no pólo sul esteja a aumentar.

Os investigadores alertam para o facto de esta mudança poder ter consequências desastrosas para animais como os pinguins, que se reproduzem e criam as suas crias no gelo marinho, ao mesmo tempo que acelera o aquecimento global, reduzindo a quantidade de luz solar reflectida pelo gelo branco para o espaço.

A extensão do gelo marinho da Antárctida atingiu o seu pico este ano a 10 de Setembro, quando cobria 16,96 milhões de quilómetros quadrados, o menor máximo de Inverno desde que os registos de satélite começaram em 1979, segundo o NSIDC. É cerca de um milhão de quilómetros quadrados a menos de gelo do que o anterior recorde de Inverno, estabelecido em 1986.

"Não é apenas um ano recorde, é um ano recorde extremo", disse o cientista sénior do NSIDC, Walt Meier. Num comunicado, o NSIDC afirma que os dados são preliminares e que será apresentada uma análise completa no próximo mês.

As estações são invertidas no hemisfério sul, com o gelo marinho a atingir geralmente o seu ponto máximo por volta de Setembro, perto do fim do Inverno, e a derreter mais tarde até ao seu ponto mais baixo em Fevereiro ou Março, quando o Verão se aproxima do fim.

A extensão do gelo marinho antárctico no Verão também atingiu um mínimo histórico em Fevereiro, quebrando a marca anterior estabelecida em 2022.

A aquecer mais e mais

O Árctico tem sido duramente atingido pelas alterações climáticas na última década, com o gelo marinho a deteriorar-se rapidamente à medida que a região setentrional aquece quatro vezes mais depressa do que a média global.

Embora as alterações climáticas estejam a contribuir para o degelo dos glaciares na Antárctida, tem sido menos certo o impacto do aquecimento das temperaturas no gelo marinho perto do pólo sul. Nessa região, a extensão do gelo marinho aumentou entre 2007 e 2016.

A mudança nos últimos anos para condições recorde de baixa temperatura deixou os cientistas preocupados com a possibilidade de as alterações climáticas se estarem finalmente a manifestar no gelo marinho da Antárctida.

Embora Walt Meier tenha alertado para o facto de ser demasiado cedo para o afirmar, um artigo académico publicado no início deste mês na revista Communications Earth and Environment aponta as alterações climáticas como um factor potencial.

O estudo concluiu que o aquecimento das temperaturas oceânicas, impulsionado principalmente pelas emissões de gases com efeito de estufa com origem nas actividades humanas, está a contribuir para os níveis mais baixos de gelo marinho observados desde 2016.

"A mensagem principal aqui é que temos de proteger estas partes geladas do mundo que são realmente importantes por uma série de razões", disse Ariaan Purich, uma investigadora de gelo marinho da Universidade Monash da Austrália, co-autora do estudo. "Precisamos realmente de reduzir as nossas emissões de gases com efeito de estufa."