Eleições na Madeira: alegrias, uma vitória agridoce e uma pesada derrota

Foi uma noite eleitoral em que houve vários vencedores, mas o maior de todos não conseguiu festejar a maioria absoluta, e um claro derrotado – o PS. O parlamento regional ficou mais fragmentado.

Foto
Miguel Albuquerque não alcançou o objectivo a que se tinha proposto LUSA/PAULO NOVAIS
Ouça este artigo
00:00
04:32

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Com um desfecho em suspenso até ao fim da noite, as eleições regionais na Madeira neste domingo à noite deram uma vitória com sabor amargo à coligação PSD/CDS-PP, proporcionaram o reforço do partido com origem regional Juntos pelo Povo (JPP) e mostraram um PS (mais uma vez) derrotado. Os resultados abriram a porta à estreia de dois novos partidos, Chega e Iniciativa Liberal, e ao regresso de BE e PAN ao parlamento regional, com um deputado cada. Os resultados mostraram uma assembleia regional mais fragmentada: há agora nove partidos representados, mais três do que em 2019.

Vencedores

Vitória amarga na coligação PSD/CDS

Por um voto se perde, por um voto se ganha. No caso da coligação Somos Madeira, PSD/CDS, foi a diferença de um deputado que levou à perda da maioria absoluta (23 deputados, precisava de 24) e à necessidade de abrir esta AD regional a mais um aliado para conseguir uma solução de governo estável. Em termos absolutos, a vitória é expressiva – 43,13% – mas a perda da maioria absoluta ensombrou a noite eleitoral. Na expectativa de capitalizar uma vitória em toda a linha, Luís Montenegro, líder do PSD, mudou-se para o Funchal (onde se encontra com toda a sua comissão permanente), mas teve de engolir em seco com a perda da maioria absoluta. Antes que o fantasma da aliança com o Chega pudesse pairar de novo em cima do PSD, Montenegro afastou o cenário: Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega porque não precisamos.”

JPP sai reforçado

Nascido na região autónoma da Madeira em 2015, o partido Juntos Pelo Povo (JPP) duplicou o número de votos, passando de 7.830 para 14.993, o que lhe permitiu passar de três para cinco deputados. É o terceiro maior partido na Assembleia Regional. Élvio Sousa, secretário-geral e o cabeça de lista, falou em “momento histórico” e reclamou para o partido os louros de ter retirado a maioria absoluta à coligação PSD/CDS que governa a Madeira.

Chega estreia-se em força

É sem dúvida uma estreia em força. O Chega, liderado no arquipélago por Miguel Castro, elegeu quatro deputados, tornando-se a quarta força política. André Ventura, que participou vários dias na campanha eleitoral, reclamou vitória mas assumiu que o partido está “indisponível” para qualquer entendimento com o PSD para viabilizar uma solução de Governo. Momentos depois, Montenegro e Albuquerque excluíam o Chega de qualquer acordo.

IL, a chave da solução de Governo?

A IL estreou-se no parlamento regional só com um deputado que, ainda assim, se pode tornar na chave do governo. O cabeça de lista, Nuno Morna, mostrou-se disponível para uma solução de apoio parlamentar, “orçamento a orçamento”, mas o líder da IL, Rui Rocha, não fechou a porta a entendimentos que passem por integrar o governo regional. Nos próximos dias, esta nuance deve dissipar-se. Miguel Albuquerque prometeu apresentar uma solução de estabilidade.

PAN e BE de volta, CDU mantém

Depois de há quatro anos terem deixado de ter representação parlamentar, o PAN e o BE estão de regresso com um deputado cada. No caso do PAN, a cabeça de lista, Mónica Freitas, mostrou-se disponível para dialogar com a coligação PSD/CDS no sentido de um acordo pós-eleitoral que permita reforçar a maioria. Se o BE já assumiu que será oposição a qualquer governo de “direita”, a CDU considerou que o resultado foi uma “derrota indisfarçável” para a coligação PSD/CDS. Desta vez, a CDU conseguiu mais votos do que há quatro anos mas manteve apenas um eleito no parlamento regional.

Vencido

PS perde 14,4 pontos percentuais

Sem sombra de dúvidas, o PS-Madeira foi o grande derrotado da noite ao ter obtido 21,3% dos votos, quase metade do conquistado pela coligação PSD/CDS e longe dos 35,7 % registados há quatro anos, quando era liderado por Paulo Cafofo, um resultado histórico. Nessa altura, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro António Costa veio a público destacar o “melhor resultado de sempre” do partido na região. Desta vez, a reacção do PS ficou a cargo do número dois, João Torres. Depois de ter estado nas jornadas parlamentares do PS na Madeira, em Junho passado, na noite eleitoral António Costa ficou-se por uma nota à imprensa e pela rede social X (antigo Twitter) para felicitar Miguel Albuquerque pelo resultado e desejar-lhe “continuação de bom trabalho”.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários