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Sobre as razões para o histórico empate entre os "Lobos" e a Geórgia, basta escutar Patrice Lagisquet na entrevista rápida após o jogo: uma primeira parte em que Portugal pontapeou – na maioria das vezes sem vantagem - a posse de bola que teve, devolvendo a iniciativa ao adversário, e em que teve sorte por recolher aos balneários a perder por apenas oito pontos. Ao intervalo, o repto da equipa técnica foi claro: assumam o jogo, mantenham a posse de bola, joguem “largo” (já lá iremos). E os "Lobos" mandaram nos 40 minutos complementares, acabando o jogo com a muito séria perspectiva de registarem uma vitória inédita.

Há 15 anos que Portugal não ganha à Geórgia e ainda recentemente sofreu 38 pontos dos "Lelos", na final do Rugby Europe Championship. Em Toulouse, Portugal jogou os melhores 40 minutos da história do rugby nacional, justamente coroados com os primeiros pontos num Campeonato do Mundo, disputando a vitória com uma Geórgia arrogante, que foi claramente surpreendida pela intensidade física, competência e talento dos "Lobos", como se depreendeu das palavras curtas e carregadas do capitão Sharikadze no final do jogo: “Nós estamos descontentes com este empate, eles estão felizes”.

Adoro ouvir estes "Lobos" falarem, porque existe um alinhamento perfeito entre técnicos e jogadores. Percebe-se que a comunicação dentro da equipa é perfeita, porque todos lêem da mesma pauta, permitindo que o colectivo compreenda instintivamente o que corre bem e o que é necessário melhorar. No final do jogo, Granate explicou como deram vida às instruções de Lagisquet na segunda parte: à defesa intratável, Portugal juntou capacidade para ganhar os duelos físicos e reter a posse bola, o pack avançado conseguiu reciclar bola de forma rápida, e Portugal começou a atacar a linha defensiva com velocidade e vários homens no ponto de quebra.

Jerónimo, Appleton e Bettencourt deram corpo ao tal jogo “largo” que é a marca desta selecção. Se, na primeira parte, Storti fabricou do nada um ensaio, só ao alcance de um predestinado, o seu segundo ensaio nasce de um momento genial de Jerónimo Portela, que recebe uma bola rápida, ataca a linha da vantagem e o espaço, placado, consegue libertar para Storti que, exímio na procura das “sobras” na dobra, ataca o espaço interior e foge da cobertura defensiva do 15 e ponta georgianos. Sublime!

Esta vitória fez-se de uma sucessão de momentos decisivos: o capitão Appleton a “cair” em bolas longas aparentemente perdidas no alinhamento; as formações ordenadas que não vacilaram e até conquistaram faltas; os metros conquistados após a colisão; a capacidade para disputar as bolas altas e a defesa intratável nas zonas próximas do ruck e na zona intermédia.

No final, Matkava falhou a conversão do ensaio georgiano que daria dois pontos de vantagem aos "Lelos" e, já após o minuto 80 e com o marcador empatado a 18, Sousa Guedes teve a vitória no seu pé direito. O pontapé era bem mais difícil do que as imagens de TV deixam perceber: descaído sobre a direita e com ângulo apertado, do lado mais difícil para um chutador destro, Sousa Guedes, que tentava a sua primeira penalidade neste Mundial e com um jogo inteiro nas pernas, pareceu “sair” cedo demais do pontapé, acentuando o arco descrito pela bola, que passa a centímetros do poste esquerdo. A equipa não o deixará esquecer que este pontapé não o define, que o resultado não depende de uma única acção e que só “falha” quem tem a coragem de tentar. Os portugueses aguardam ansiosos pelo jogo contra uma Austrália ferida.

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