A máscara de Conner O’Malley

Um homem quer fazer comédia de improviso na televisão e, por isso, ruma a Los Angeles com o dinheiro que a avó lhe deixou. Cai num mundo de conspirações. É isto The Mask.

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Conner O'Malley, o seu fato amarelo e a sua máscara de The Mask, filme com Jim Carrey DR
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Nos Universal Studios, em Los Angeles, há, desde 1995, um espectáculo de acrobacias inspirado em Waterworld, o flop do mesmo ano com Kevin Costner. Numa dessas sessões, nos dias de hoje, um homem vestido de amarelo levanta-se e começa a gritar que Joe Biden morreu, tendo sido substituído há anos, que John Cena, o wrestler tornado rapper e depois actor, é controlado pela CIA chinesa, tudo confirmado por uma conspiração online chamada "Yantianto".

É assim que começa The Mask, vídeo escrito e protagonizado por Conner O'Malley, um cómico muito idiossincrásico que tem construído uma carreira sólida através de bizarros vídeos na Internet. Ia ser uma série de televisão que nunca chegou a acontecer, e agora é um vídeo de 24 minutos, uma espécie de piloto, que foi lançado através do novo site de O'Malley, Endorphinport.com. "Parece que foi feito para ver num portátil na cama às três da manhã" ou na televisão, resumiu em entrevista ao Vulture, o site da revista New York. Saiu na semana passada, custa cinco dólares e é o segundo projecto do site, que tem, também, grátis, um chat que não é inteligência artificial, jura-se, com um modelo 3D da cara do cómico, que só quer falar de sonhos estranhos com pizza e extraterrestres.

O'Malley, que foi descoberto na extinta rede social de vídeo Vine, pode ser uma figura estranha, mas tem alguns créditos mainstream em alguma da melhor televisão cómica dos últimos anos. Escreveu para o talk show de Seth Meyers, foi uma parte importante, tanto como argumentista quanto como actor, de Joe Pera Talks with You, tendo sido também argumentista de How to With John Wilson.

A sua especialidade são as personagens ruidosas, cheias de agressividade mal direccionada, e gente cujo cérebro foi carcomido por passarem demasiado tempo online. São pessoas que só poderiam existir hoje, agora. "Sou um otário do caraças, sou estúpido como a merda", disse na mesma entrevista, a explicar que abordava as suas personagens de uma forma "mais intuitiva" e "menos intelectual". O resultado é uma empatia com elas, por mais patéticas que sejam. São irritantes sem saberem que o são, ou sem quererem saber. Muitas vezes, estas construções ficcionais são postas na realidade, nunca numa de gozar com as pessoas com quem interagem. São seres estranhos e ultra-específicos, como um vídeo de 2017 gravado em Times Square, em que O'Malley faz de um imitador de Dennis Miller, o cómico americano que virou conservador depois do 11 de Setembro, só que na sua versão dos anos 1980.

Aqui, faz de Tyler Joseph, um aspirante a cómico de improviso que vive obcecado com o programa de televisão Whose Line Is It Anyway?, adaptação americana de um original britânico feito de improviso e sugestões do público, no ar desde 1998. O sonho é ir para Hollywood e fazer parte dessa mesma instituição. Por enquanto, faz vídeos na Internet para ninguém. Quando a avó, a sua maior fã e a única pessoa na família que o encoraja, morre, decide pegar na herança que ela lhe deixou e partir para Los Angeles. Só que a vida não corre como esperava, descobre a conspiração através do seu senhorio e começa a vestir o seu fato amarelo e a pôr uma máscara como a que Jim Carrey tinha no filme A Máscara – daí o nome – e a espalhar a palavra sobre Biden e Cena. Pelo meio, vai-se cruzando com celebridades da vida real como John Mayer ou Colin Mochrie, um dos membros do elenco de Whose Line is It Anyway? (e algumas peripécias feitas na ficção para a série chegaram às notícias como se Joseph existisse mesmo). É tudo tão patético, hilariante, bizarro e triste.

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