Os 250 gramas do asteróide Benu são uma cápsula do tempo para o início do Universo
Os primeiros resultados científicos das amostras do asteróide Benu, que chegaram à Terra este domingo, deverão ser apresentados em Outubro, numa conferência de imprensa agendada pela NASA.
A queda poderá nem ser a parte mais complicada. Os 250 gramas de poeira e rocha recolhidos do asteróide Benu podem levar-nos numa viagem de 4500 milhões de anos. Pode parecer pouco, mas, através desta amostra, cientistas de todo o mundo poderão investigar como se formam estes objectos espaciais e descobrir parte da nossa longínqua história geológica e química – afinal, os asteróides são o que resta do processo de formação do nosso sistema solar. No fundo, esta amostra é uma cápsula do tempo.
“Ao estudarmos o Benu, revolucionaremos a nossa compreensão do início do sistema solar e aprenderemos mais sobre a história planetária e a origem da vida”, explicava a NASA em 2018, quando a sonda OSIRIS-Rex entrou na órbita do asteróide Benu (nome, em português, de uma ave na mitologia egípcia) – o lançamento tinha sido já em 2016.
E a queda de quatro horas, entre a sonda que estava na órbita terrestre (a sonda OSIRIS-Rex) e a Terra, de uma cápsula com as pequenas amostras recolhidas nem terá sido a parte mais complicada. Depois da aterragem bem-sucedida, a equipa chegou rapidamente ao terreno, no deserto do Utah (Estados Unidos), para evitar ao máximo qualquer tipo de contaminação – sejam poeiras ou qualquer tipo de bactéria, por exemplo. E daí, a carga preciosa que acabava de chegar ao nosso planeta foi transportada para uma sala limpa, ou seja, um local com todas as variáveis controladas e que está esterilizada para impedir qualquer alteração das amostras.
“A melhor maneira de proteger a amostra é tirá-la do terreno para uma sala limpa o mais rapidamente possível e colocá-la sob uma purga de nitrogénio puro. E aí sim, já é seguro”, explicou Mike Morrow, director-adjunto do projecto OSIRIS-Rex, na conferência de imprensa da NASA, após a recolha da amostra do Benu (ou, em inglês, Bennu). O nitrogénio é um gás que não interage com a maioria dos outros químicos, pelo que usá-lo continuamente permite expulsar potenciais contaminantes terrestres da amostra.
Concluída esta fase, em que foi garantida a segurança das amostras, seguem-se anos de investigação. Ao longo da próxima década, estes 250 gramas serão divididos entre as agências espaciais dos Estados Unidos, do Canadá e do Japão. Mais concretamente, pelo menos 70% da amostra ficará na NASA, enquanto o Canadá receberá 4% e o Japão 0,5% – por troca com as amostras do asteróide Ryugu, recolhidas em 2019 pelo Japão. A restante fatia das amostras ainda não está atribuída.
Além das amostras do Ryugu em 2019, o Japão já tinha trazido amostras deste asteróide para a Terra em 2010, mas estes 250 gramas são um recorde recolhido – em 2010, recolheu-se um miligrama e em 2019 cinco gramas.
NASA apresenta resultados em Outubro
Os primeiros resultados científicos derivados da amostra do asteróide Benu deverão ser revelados numa conferência de imprensa já agendada para 11 de Outubro. Ainda assim, esta data está pendente da aprovação do orçamento do Governo federal norte-americano até ao final de 30 de Setembro. Caso não haja acordo entre Senado (controlado pelos democratas) e Câmara dos Representantes (controlado pelos republicanos) até essa data, o Governo entrará em shutdown e as agências, como a NASA, poderão encerrar até haver orçamento.
“A amostra esperou mais de quatro mil milhões de anos para que os humanos a estudassem. Se demorarmos mais um pouco, acho que não há problema”, reagiu Lori Glaze, responsável pelo Departamento de Ciências Planetárias da NASA, na conferência de imprensa que se seguiu à recolha da amostra do Benu.
A amostra será transportada da base militar norte-americana no Utah (Estados Unidos), onde está desde este domingo, para o Centro Espacial Johnson, da NASA, durante esta segunda-feira. Os cientistas irão desmontar a cápsula espacial em que a amostra viajou, para depois a extrair e pesar. Será ainda criado um inventário com todos os tipos de rochas e poeiras que chegaram agora à Terra, como explica a NASA em comunicado.
O Benu, além de ser um asteróide próximo da Terra (o que o torna mais ameaçador do que outros), é rico em carbono – outro dos motivos de interesse. “Os asteróides mais primitivos são ricos em carbono e não têm mudanças significativas desde que se formaram há aproximadamente quatro mil milhões de anos. Estes asteróides têm moléculas orgânicas, voláteis e aminoácidos que podem ser precursores da vida na Terra”, justifica a NASA.
“Apesar de parecer o fim de um capítulo fantástico, é, na verdade, apenas o início de outro. Temos agora a oportunidade de analisar estas amostras do Benu e explorar os segredos do nosso sistema solar”, afirmou Dante Lauretta, cientista responsável pela missão, na conferência de imprensa após a aterragem da amostra.
“Chorei que nem um bebé no helicóptero quando disseram que o pára-quedas se abriu e estávamos a caminho de uma aterragem suave. É um feito espantoso”, rematou.