Emmanuel Macron quer pôr em prática “uma ecologia criadora de valor” para levar França a reduzir em 55% até 2050 as suas emissões de dióxido de carbono (CO2), tendo como referência 1990. Favorecer o investimento na indústria verde, por exemplo com o objectivo de ter um milhão de veículos eléctricos construídos em França até 2030, são algumas das medidas que apresentou esta segunda-feira para pôr em prática o que designou como “ecologia à francesa”.
O Presidente francês apresentou os planos de planificação ecológica do Governo nesta segunda-feira, recusando “uma ecologia incompatível com um modelo produtivo”, ou seja, fechando portas a qualquer mudança do modelo económico.
As escolhas de França
Ouvir as escolhas de França torna-se especialmente interessante, na semana a seguir ao Reino Unido ter anunciado revisão de várias metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa do Reino Unido. Mantendo, ao mesmo tempo, o compromisso de alcançar a neutralidade climática em 2050.
Macron reconheceu como prioridade o abandono do carvão, “que deve ser efectuada até 1 de Janeiro de 2027”, declarou. Reduzir a dependência das energias fósseis em "60% a 40%" até 2030 daria à França uma oportunidade estratégica de criar essa "ecologia criadora de valor", afiançou. Reafirmou a centralidade do nuclear: “Todos os cientistas nos dizem que não há estratégia de redução das emissões sem nuclear”. “de 60% a 40% até 2030”
Controlar preço da electricidade. Como?
Declarou que França está pronta a “retomar o controlo dos preços da electricidade até ao fim do ano”, embora não tenha elaborado muito sobre isto. Salientou a renacionalização da eléctrica EDF como instrumental para isto. “Os preços dar-nos-ão uma vantagem competitiva”, disse Macron.
Anunciou um investimento “maciço” no hidrogénio e na tecnologia de captura de carbono, e o incentivo à indústria francesa para o desenvolvimento de transportes públicos menos poluentes, apostando no facto de existirem vários fabricantes importantes no país.
As contas de carbono
Para cumprir os seus compromissos internacionais, França tem de emitir apenas 270 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e) em 2030, quando emitiu 408 milhões em 2022. E, apesar de as suas emissões brutas estarem numa curva descendente, França ultrapassou em 16 MtCO2e os seus objectivos de redução das emissões líquidas. Estas são contabilizadas depois de ter sido descontado o CO2 absorvido pelos solos e pela floresta e estes sumidouros, precisamente, estão a ser menos eficientes, por causa da seca, relata o jornal Le Monde, citado uma avaliação do Observatório Clima e Energia.
Um dos objectivos lançados pelo Presidente francês foi o investimento de 700 milhões pelo Estado central em 13 projectos de RER metropolitanos (uma rede de transporte ferroviário híbrido que integra linhas suburbanas a uma rede subterrânea de metro).
Um milhão de carros, um milhão de bombas de calor
Macron estabeleceu algumas metas numéricas: o fabrico de um milhão de veículos eléctricos em França até 2030, mas também de um milhão de bombas de calor em território nacional até essa data, e a formação de 30 mil técnicos capazes de as montar.
Além disso, para os tornar mais acessíveis, será iniciado, a partir de Novembro, um esquema de leasing de carros eléctricos produzidos na Europa. O Presidente francês recordou ainda o objectivo de construção de quatro fábricas de baterias eléctricas no Norte do país (gigafactories) até 2030.
A primeira, em Billy-Berclau-Douvrin, no Pas-de-Calais, abriu a 30 de Maio, é um investimento Stelllantis, TotalEnergies e Mercedes, bem como dos municípios locais, relatava a France 24. É apenas a segunda gigafactory na Europa Ocidental, depois da Northvolt, na Suécia.
Anunciado um plano só para habitação social
“A renovação térmica dos edifícios deve ser duplicada por uma política de justiça e de acessibilidade”, considerou Emmanuel Macron, sem se comprometer com números nem metas concretas. Disse, no entanto, que o Estado “deve acompanhar os lares mais modestos”, e prometeu que a partir de Outubro será lançada uma estratégia específica para a habitação social.
Esta foi uma área em que o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak prometeu na semana passada que seria criado um apoio mais generoso para a substituição de sistemas de aquecimento central a gás e diesel, embora tenha recuado nos prazos para que os edifícios cumpram requisitos mínimos de eficiência térmica, quando apresentou a revisão de várias metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa do Reino Unido.