A Lego abandonou os esforços para eliminar os plásticos derivados do petróleo das suas peças, depois de ter descoberto que a produção do novo material provocaria maiores emissões de carbono, noticiou este domingo o diário económico Financial Times (FT).
O fabricante dinamarquês de brinquedos descobriu que as peças feitas de tereftalato de polietileno reciclado (RPET) – um novo material feito a partir de garrafas recicladas – provocariam maiores emissões de carbono, tendo em conta a troca de equipamento necessária.
Tim Brooks, director de sustentabilidade da Lego, afirmou ao Financial Times que, por si só, o RPET é mais macio do que o ABS (acrilonitrilo butadieno estireno), material actualmente usado para produzir cerca de 80% das peças da Lego. Ou seja, precisa de ingredientes adicionais para garantir segurança e durabilidade semelhantes às do plástico existente – e também grandes quantidades de energia para processar e secar o material. "É como tentar fazer uma bicicleta de madeira em vez de aço", resumiu Brooks.
A Lego vai, assim, tentar melhorar a pegada de carbono do ABS, que na sua produção actual necessita de cerca de dois quilos de petróleo para produzir um quilo de plástico. "Não se vai passar de 0% a 100% sustentável de um dia para o outro, mas vamos integrar elementos com base em biomateriais ou em materiais reciclados. Talvez seja 50%, 30% ou 70% com base nisso", afirmou Niels Christiansen, director executivo da Lego.
A via crucis da transição
A Lego tinha-se comprometido anteriormente a substituir as peças de plástico à base de petróleo por outras feitas de materiais sustentáveis até ao final da década. Como nota o FT, trata-se de um sinal das "complexas soluções de compromisso que as empresas enfrentam no caminho para a sustentabilidade".
Em 2018, a Lego começou a produzir as peças mais macias, que representam árvores e arbustos, a partir de um plástico à base de cana-de-açúcar, numa tentativa de, gradualmente, acabar com a utilização de petróleo.
Em 2020, a empresa tinha começado a trabalhar para substituir os seus icónicos "tijolos" de plástico por materiais sustentáveis. A dificuldade era encontrar um material que fosse amigo do ambiente mas que desse a mesma cor, brilho e som que as peças de plástico à base de petróleo.
"Testámos centenas e centenas de materiais. Não foi possível encontrar um material como este", afirma o director executivo da Lego, Niels Christiansen, ao Financial Times.
A aposta, explica, passa também pela economia circular: reutilizar ou reciclar os milhões de Legos abandonados depois de as crianças que brincavam com eles crescerem.